Desempates por penalties no EURO
sexta-feira, 25 de março de 2016
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Várias selecções conhecem o sabor doce e amargo das grandes penalidades, mas a República Checa destaca-se no EURO com talvez o mais famoso de todos os desempates.
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A famosa citação de Gary Lineker sobre o futebol ser um jogo simples envolvendo 22 homens e uma bola e ser sempre ganho pela Alemanha, serve, pelo menos para os ingleses, para recordar o registo invejável dos rivais no que respeita ao desempate por penalties. Uma análise pela história do Campeonato da Europa revela um cenário ligeiramente diferente, a começar com a derrota da República Federal da Alemanha, talvez no desempate por penalties mais conhecido de todos.
Desempates por grandes penalidades no EURO
1976 - final: Checoslováquia 2-2 Alemanha Federal, 5-3 nas grandes penalidades
1980 - jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares: Checoslováquia 1-1 Itália, 9-8 nas grandes penalidades
1984 - meias-finais: Dinamarca 1-1 Espanha, 4-5 nas grandes penalidades
1992 - meias-finais: Holanda 2-2 Dinamarca, 4-5 nas grandes penalidades
1996 - quartos-de-final: Espanha 0-0 Inglaterra, 2-4 nas grandes penalidades
1996 - quartos-de-final: França 0-0 Holanda, 5-4 nas grandes penalidades
1996 - meias-finais: Alemanha 1-1 Inglaterra, 6-5 nas grandes penalidades
1996 - meias-finais: França 0-0 República Checa, 5-6 nas grandes penalidades
2000 - meias-finais: Itália 0-0 Holanda, 3-1 nas grandes penalidades
2004 - quartos-de-final : Portugal 2-2 Inglaterra, 6-5 nas grandes penalidades
2004 - quartos-de-final: Suécia 0-0 Holanda, 4-5 nas grandes penalidades
2008 - quartos-de-final: Croácia 1-1 Turquia, 1-3 nas grandes penalidades
2008 - quartos-de-final: Espanha 0-0 Itália, 4-2 nas grandes penalidades
2012 - quartos-de-final: Inglaterra 0-0 Itália, 2-4 nas grandes penalidades
2012 - meias-finais: Portugal 0-0 Espanha, 2-4 nas grandes penalidades
Com a pressão do seu lado, Antonín Panenka pareceu prodigioso. Estava a um remate de conquistar o Europeu de 1976 para a Checoslováquia, frente a um adversário de peso, a República Federal da Alemanha, campeã mundial. O penalty falhado de Uli Hoeness tinha deixado o resultado em 4-3 para os checos, e foi então que Panenka se aprestou para rematar, sabendo que podia decidir a contenda.
O silêncio abateu-se sobre Belgrado, à medida que o jogador de 27 anos colocou a bola na marca e recuou cerca de 15 metros. Parou, virou-se e num misto de pequenos passos, aproximou-se do seu destino, aprestando-se como se fosse rematar para o canto inferior direito. Foi esse o pensamento de Sepp Maier, mas quando se estirou rumo ao poste, Panenka, de forma audaz, picou a bola por cima do guarda-redes, fazendo-a entrar ao meio da baliza.
Foi um final memorável no primeiro desempate por grandes penalidades num grande torneio de selecções e, apesar de se terem seguido muitos, incluindo em finais de Campeonatos do Mundo, nenhum atingiu o mesmo nível de notoriedade. Para os checos, foi um sinal do que o futuro reservava. Quatro anos depois, bateram a Itália, por 9-8, no jogo de atribuição do terceiro e quarto lugar, com Fulvio Collovati a falhar o penalty decisivo. No EURO '96, já sob o nome de República Checa, completaram o "hat-trick" com um triunfo por 6-5 frente à França nas meias-finais.
O registo de três vitórias dos checos em desempates, com 20 grandes penalidades convertidas e nenhuma falhada, não tem precedentes. A Alemanha prevaleceu cinco vezes nas grandes penalidades desde 1976, mas apenas uma – na outra meia-final do EURO '96, frente à Inglaterra – foi no EURO. A Alemanha, tal como Inglaterra, Espanha, França, Dinamarca, Holanda e Itália, dispensam apresentações ao prazer e dor das grandes penalidades.
Portugal e Turquia levaram a melhor no único desempate em que participaram num EURO, a última após bater a Croácia nos quartos-de-final de 2008. De facto, a Croácia é apenas uma de duas equipas a terem participado em desempates numa fase final sem terem ganho. A outra é a Suécia, que se tornou na primeira e única vítima da Holanda até ao momento, no UEFA EURO 2004.
A Inglaterra juntou-se à Holanda como a equipa menos bem-sucedida em desempates por grandes penalidades, ao sofrer a terceira derrota em quatro tentativas, nos quartos-de-final do UEFA EURO 2012. A conversão de Andrea Pirlo, com uma impressionante calma - foi ainda mais impressionante, tendo em conta que a Itália estava, na altura, em desvantagem, trazendo à memória o remate de Panenka. As grandes penalidades, disse o seleccionador de Itália, Cesare Prandelli, são uma "lotaria" - alguns jogadores e equipas parecem, no entanto, ser bastante consistentes na escolha dos números vencedores.