Matos e o amor ao Sporting: "Leão" de corpo e alma
sexta-feira, 17 de abril de 2015
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Esteio do Sporting, João Matos vê o clube como uma "família" e fala da meia-final com o Barcelona, do ambiente que se vai viver em Lisboa e da vitória sobre o Inter.
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A fase final da Taça UEFA Futsal está a uma semana de distância e o anfitrião Sporting Clube de Portugal prepara o confronto das meias-finais, frente ao campeão FC Barcelona, esperançado em desforrar a derrota de 5-1 averbada há três anos na mesma etapa.
Desta vez, o Sporting terá o forte apoio da esgotada Meo Arena, em Lisboa, no primeiro evento da competição com assistência acima das 10.000 pessoas, a ter lugar no mesmo local onde o SL Benfica ganhou o título em 2010. Elemento da equipa dos "leões" na caminhada até à final de 2011, na "final four" de Lleida em 2012 e no sensacional afastamentodo Inter FS, triplo vencedor da prova, na Ronda de Elite, em Novembro passado, João Matos fala ao UEFA.com sobre o que tudo isso significa para o Sporting e o que o clube significa para ele.
UEFA.com: O que significa para o Sporting chegar a esta fase?
João Matos: O Sporting está entre as quatros melhores equipas da Europa e instituição, o clube e toda a família leonina tem de ter noção de que já é um enorme orgulho. Independentemente do resultado somos uma das quatro melhores equipas da Europa. É muito importante para o futsal português uma equipa portuguesa lá estar – felizmente é o Sporting.
UEFA.com: Fale-nos da vitória decisiva de 1-0 sobre o Inter na Ronda de Elite. Pensou que seriam capazes de ganhar?
Matos: O jogo com o Inter trouxe-nos à memória aquilo que já passámos em outras ocasiões, nomeadamente com o ElPozo [Murcia], também espanhol, mas muito fresco ainda a derrota com o Araz [Naxçivan] na época passada. Nós, jogadores, temos como ritual concentrar-nos e falarmos um pouco entre nós antes de sairmos para o jogo. De uma coisa estávamos certos: se defendermos bem estamos perto do grande objectivo.
Chegar ao pavilhão de Odivelas e ver aquela maré de gente, tudo em sintonia com os jogadores, a equipa técnica, com tudo a puxar para o mesmo lado, dificilmente o Sporting iria perder aquele jogo. O Inter teve bolas muito boas de golo, muitas oportunidades, mas aquele dia estava destinado a ser nosso. Defrontou um Sporting unido, cheio de garra, de vontade e acho que essa foi a grande diferença – acreditar que defendendo bem é possível.
UEFA.com: O ambiente na Meo Arena vai ser melhor?
Matos: Nunca estivemos num jogo com 10.500 espectadores... Talvez num jogo de selecção, uma meia-final, ou até a final do EURO. A nível de clube, em Loures, quando esteve muita gente a ver uma final ou mesmo em Odivelas, mas nunca perto das 10.500. E entre nós pensamos: 'Quando estivermos no túnel para entrar não vamos ter sequer oportunidade de desfrutar de tudo isso', porque temos jogar, de ganhar, de lutar e as nossas atenções vão estar viradas para o jogo. Com muita pena minha não vou poder desfrutar do ambiente que se vai viver. Acredito que vai ser uma loucura enorme.
UEFA.com: Até que ponto jogar em casa é importante?
Matos: É uma vantagem muito importante. O apoio motiva, dá força, faz-nos levar a patamares que achamos que o nosso corpo não atinge. É a isso que nos vamos agarrar, é a nossa casa, os nossos adeptos, a nossa família, as pessoas queridas, mas em primeiro lugar está o foco no jogo e depois a beleza que será aquele pavilhão. Até tenho medo, quando entrar em campo, do que possa ver.
UEFA.com: O que pensa do Barcelona, adversário da meia-final?
Matos: Temos noção da qualidade do plantel e individual de cada jogador, que se reflecte e muito no colectivo. Quando os defrontámos em Lleida, em 2012, talvez o Barcelona não tenha ficado com a imagem real do que é o Sporting. E é disso de que mais me arrependo. Não estivemos nada bem nesse jogo, não estava fluido, não houve aquela união que nos caracteriza, estávamos meio perdidos no jogo e ficámos com a sensação que o Barcelona achou o jogo demasiado fácil.
Agora vai ser diferente. Os nossos conceitos de jogo estão completamente diferentes, os do Barcelona nem tanto, por aquilo que se tem visto e tem tido resultados que não eram os desejados. Se vamos tirar partido disso ou não, não sei, porque pode influenciar a cabeça dos jogadores e tornar-se quase uma obrigação ter de ganhar a Taça UEFA Futsal.
UEFA.com: Qual será o segredo para o derrotar?
Matos: Acima de tudo, e pegando naquilo que falei do Inter, vai ser ganho de certeza na defesa. Se não deixar o meu adversário directo finalizar, se cada um dos meus colegas interceptar bolas, se der o corpo às balas, cortar o lance como se fosse o da sua vida, certamente estaremos mais perto da vitória. Independentemente da qualidade, o Barcelona tem lacunas, muitas, tal como o Sporting, o Kairat [Almaty] e o [ISK] Dina [Moskva]. E vamos ter de ser nós a provocar o erro ou que essas lacunas apareçam o mais rapidamente possível. É possível? Claro que é possível ganhar ao Barcelona.
UEFA.com: O Sporting é melhor equipa agora do que quando perdeu a final de 2011 com o ASD Città di Montesilvano C/5 em Almaty?
Matos: Sim, o Sporting está mais forte. Está mais consciente, tem mais noção do seu potencial. Também joga melhor e tem uma mentalidade que não existia nesse ano. Numa competição destas, ao nível em que estamos, todos os pormenores contam e a mentalidade é uma delas, a mentalidade competitiva de suportar tudo o que possa acontecer em 40 minutos ou mais, por causa do prolongamento.
Ainda por cima, estando o pavilhão como vai estar, pelas costuras, como se costuma dizer, tudo para o nosso lado, é preciso ter uma mentalidade muito forte e não deixar as emoções tomarem conta de nós, estarmos conscientes daquilo que temos de fazer e das nossas funções. É um Sporting mais forte.
UEFA.com: Fez toda a carreira profissional no Sporting. O que significa para si o clube?
Matos: Estou no Sporting desde 2001. Há quem diga que sou da casa e eu gosto de ouvir essa expressão: o João Matos é da casa! Significa que têm um carinho por mim e que me vêem como um leão que tem grande amor a este clube.
É o meu nono ano como sénior no Sporting… Se tenho intenção de sair daqui algum dia? Dificilmente. Estou aqui tantas horas como estou em casa. Com as deslocações, com o tempo que quero chegar antes, com o tempo que fico aqui depois… é muito tempo. Sou acarinhado por muita gente há algum tempo e à medida que fui ganhando algum carisma, alguma imagem. As pessoas foram-me reconhecendo mais, e acabo por me sentir tão bem, tão em casa aqui, que isto é único.
E não tenho dúvida, e digo-o de forma muito clara – isto é uma família para mim. Tenho adeptos e apoiantes, pessoas de claques que se tornaram meus amigos e dos quais me tornei amigo. São doidas, fanáticas pelo clube. Olho para esse fanatismo, para esse amor ao clube, e digo: 'Eu sou igual a eles'.
Posso não me exprimir da mesma forma porque sou atleta, porque tenho de me conter, mas sou igual a eles. O amor ao clube é o mesmo, a loucura é a mesma, só que não a posso exprimir da mesma forma. Então acabo por associar o Sporting a uma família. Acima de tudo, tudo isso me faz ter um orgulho e um prazer enorme sempre que visto a camisola do Sporting.