Análise: a caminhada até à final do UEFA EURO 2024
domingo, 14 de julho de 2024
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A equipa de observadores técnicos da UEFA presente na Alemanha analisa as principais tácticas que conduziram a Espanha e a Inglaterra ao jogo de domingo.
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A Inglaterra aponta ao seu primeiro título do UEFA EURO quando defrontar a três vezes vencedora Espanha, em Berlim, no domingo. Neste artigo, os observadores técnicos da UEFA analisam algumas das principais tácticas que levaram ambas as equipas à final.
Inglaterra
A equipa de Gareth Southgate tem ameaçado mais pela direita, com a entrada de Phil Foden por dentro a aumentar essa ameaça.
Saka em alta na direita
Foi da extremo direito que saiu o primeiro golo da Inglaterra nesta campanha: o cruzamento desviado de Bukayo Saka que permitiu a Jude Bellingham marcar de cabeça contra a Sérvia. Também foi da direita que saiu o lançamento longo para o acrobático golo de empate de Bellingham contra a Eslováquia. E, depois de cortar para dentro vindo da direita, Saka fez de cabeça o tento do empate de Inglaterra diante da Suíça.
Essas imagens reflectem um quadro mais amplo, ou seja, que a Inglaterra canalizou mais os seus ataques por aquele lado. Este facto não é nenhuma surpresa, dada a busca de Southgate por equilíbrio na esquerda, onde Luke Shaw, o único lateral esquerdino do plantel, continua a recuperar a forma física e ainda não foi titular uma única vez no torneio.
Foi com a mudança de Southgate para um esquema de cinco defesas – sem posse de bola – nos quartos-de-final contra a Suíça que Saka chamou a atenção dos observadores da UEFA pelo seu trabalho na lateral direita. Ele tinha uma função defensiva, mas era a principal ameaça ofensiva da Inglaterra, enfrentando os centrais e tentando fazer as coisas acontecerem.
Os dados de desempenho sublinham o seu impacto nesse dia. Foi o jogador que mais conduziu a bola para o último terço (25) e o que mais cruzamentos fez (nove). Saka esteve também activo sem a bola, tendo registado o maior número de entradas pelas costas da defesa (15) de todos os jogadores em campo. Para destacar o quanto a Inglaterra confiou no seu flanco direito naquela tarde, 63% dos passes para o terço final foram feito para aquela lado, com Saka a receber 25 das 45 bolas jogadas.
A sua contribuição mais significativa, claro, foi o golo do empate. Declan Rice fez a sua parte ao afastar Steven Zuber para a direita, dando mais espaço a Saka, que passou por Michel Aebischer e, de fora da área, rematou em arco fora do alcance de Yann Sommer.
O impacto de Foden na zona interior
Esse jogo contra a Suíça foi também notável pela visão de Foden a movimentar-se no campo para receber os passes. Depois de ter começado o torneio na esquerda, a mudança de formação permitiu a Foden actuar mais por dentro.
Foden continuou com assim na meia-finais [contra os Países Baixos], quando ele e Bellingham desempenharam um papel fundamental com a movimentação entre as linhas e as jogadas de ataque. "Gostei muito da vontade deles de correrem atrás das costas da defesa", disse o observador técnico Ole Gunnar Solskjær.
Como medida da movimentação de Foden, atente-se que recebeu a bola entre as linhas em 15 ocasiões em Dortmund – em contraste com oito nos primeiros 90 minutos ante a Eslováquia, e um exemplo da melhoria da Inglaterra jogo a jogo.
Espanha
O brilhantismo individual de Nico Williams e a sua parceria na esquerda com Marc Cucurella ajudaram a inspirar a Espanha
A "constante ameaça" de Williams
Se as atenções se voltaram para Lamine Yamal, o mais jovem a marcar na história do EURO, após o seu extraordinário golo nas meias-finais contra a França, o trabalho da Espanha na ala oposta foi uma característica central das suas impressionantes exibições, que resultaram em seis vitórias seguidas a caminho da final.
O extremo esquerdo Nico Williams está entre os três jogadores com mais desarmes no torneio – com 35, apenas atrás de Jérémy Doku, da Bélgica, e de Jamal Musiala, da Alemanha – e a sua exibição quando foi considerado o Melhor em Campo na vitória sobre a Itália, por 1-0, no segundo jogo da fase de grupos da La Roja, rendeu muitos elogios do observador técnico Fabio Capello. "Ele foi uma ameaça constante sempre que teve a bola e foi positivo em todas as situações de um contra um", disse Capello.
O total de 12 desarmes de Williams naquela noite foi o máximo de um jogador num jogo da fase de grupos, enquanto os cruzamentos que fez incluíram o lance decisivo que provocou o autogolo de Riccardo Calafiori.
William é um extremo que procura sempre levar a melhor contra o homem que o marca e ocupa o primeiro lugar na selecção espanhola em tentativas de um contra um. Para além da sua contribuição individual, combinou de forma impressionante com o lateral que o apoia, Marc Cucurella. O vídeo abaixo mostra como ambos atacaram em conjunto, muitas vezes com uma corrida de apoio do lateral esquerdo. Nesta acção em particular, Cucurella atraiu um defesa com ele, o que significa que Williams tinha apenas um homem para bater quando cortou para dentro e desferiu um pontapé à trave.
De acordo com o observador técnico Aitor Karanka, Williams procurou misturar a sua abordagem, e o facto de ter Cucurella também a atacar permitiu uma variação ainda maior. "Às vezes, o Nico, por ser destro, entra e deixa a ala para o Cucurella, outras vezes é o contrário, o Cucurella entra e o Nico fica na ala", disse Karanka.
Parceria perfeita
Mais tarde, a dupla chamou a atenção pelo trabalho defensivo na meia-final contra a França, com Williams a recuar para apoiar Cucurella e limitar a ameaça de Ousmane Dembélé por aquele flanco. Como disse o observador técnico David Moyes: "Dembélé fez algumas jogadas, mas a Espanha respondeu com a dupla Cucurella e Williams."
Para sublinhar este ponto, a distância média entre a dupla de laterais esquerdos da Espanha naquela noite foi de 8,7m – em comparação com 13,5 m no jogo anterior contra a Alemanha.
Para dar outra ideia da disciplina defensiva de Williams, ele fez pressão 13 vezes contra a França – o segundo maior número entre os jogadores de Luis de la Fuente – e também fez três recuperações de bola, somando-se às quatro que Cucurella registou naquele lado do campo. Em suma, no que diz respeito às parcerias em campo, poucas foram melhores neste EURO 2024.