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Análise na Champions League: como o Aston Villa apostou forte frente ao Paris

Michael O'Neill, observador técnico da UEFA, explica como o Aston Villa alterou o seu plano de jogo para tentar a reviravolta frente ao Paris nos quartos-de-final da UEFA Champions League.

John McGinn, do Aston Villa, celebra após fazer o 2-2 na recepção ao Paris
John McGinn, do Aston Villa, celebra após fazer o 2-2 na recepção ao Paris Getty Images

"No jogo fora implementámos um plano de jogo muito diferente porque estávamos a tentar evitar transições e a defender recuados. Mas hoje adoptámos um novo plano de jogo e pressionámos mais, envolvendo-nos em vários duelos individuais e pressionando. Sabíamos que havia a possibilidade de sofrer golos na transição, mas mesmo assim, no final, colocámos o Paris em sérias dificuldades.

Esta foi a reflexão pós-jogo de Unai Emery à Amazon Prime Video após a vitória por 3-2 do Aston Villa sobre o Paris Saint-Germain, na terça-feira. Com isto, abordou o processo que originou a abordagem do Aston Villa à segunda mão dos quartos-de-final da UEFA Champions League.

Em desvantagem por 3-1 após a primeira mão, o Aston Villa adotou uma abordagem muito diferente da de Paris e, na análise que se segue, o observador técnico da UEFA, Michael O’Neill, explicará ambas as abordagens e as exigências que impõem aos jogadores, bem como as lições que oferecem aos treinadores que trabalham com jovens futebolistas.

Como ponto de partida, considere-se o gráfico acima, que destaca os planos de jogo contrastantes ao mostrar a distância média do Aston Villa em relação à sua própria baliza quando realiza acções defensivas: no primeiro jogo foi de 30,9 metros, enquanto no segundo foi de 50 metros, praticamente na linha do meio-campo.

Análise de Desempenho na Champions League: disposição táctica do Aston Villa na primeira mão

Na primeira mão, no Parc des Princes, como mostra o vídeo acima, o Aston Villa defendeu mais perto da sua baliza; vemo-lo começar num formato de bloco médio, em 4-4-2, antes de mudar para um 5-4-1 à medida que recuam no terreno. O'Neill explicou: "Boubacar Kamara recuou para formar uma defesa a cinco, e quando isso aconteceu John McGinn recuou para o meio-campo. Eles queriam manter-se compactos e firmes entre linhas mas acabaram em dificuldades por causa da velocidade dos adversários".

À medida que a acção se desenrola, o Aston Villa acaba num bloco baixo — que é como passou 49 por cento desse jogo — e tem todos os jogadores, excepto Marcus Rashford, na sua própria área. Dentro desta configuração, O'Neill destacou o papel do defesa Ezri Konsa, que era o homem solto na linha defensiva e o seu principal organizador, garantindo que os colegas preenchiam os espaços.

O'Neill acrescentou: "Grande parte do jogo actual é feito de duelos individuais, mas esta é uma forma diferente de defender, em que não há muita posse de bola mas existe solidez e é difícil passar. E contra adversários como o PSG, que é muito forte em combinações em zonas apertadas, os jogadores do Aston Villa tiveram de conceder pouco espaço e garantir que [o Paris] não jogava entre linhas".

"É preciso uma comunicação forte para isso, porque se um jogador sair à bola e não a conseguir cortar isso gera um efeito dominó, pois invariavelmente alguém tem de o cobrir e abre-se espaço".

O Aston Villa "quis jogar no meio-campo adversário"

Análise de Desempenho na Champions League: abordagem mais agressiva do Aston Villa na segunda mão

Com este segundo vídeo, passamos para a segunda mão e vemos um Aston Villa muito mais agressivo. Após o corte de Youri Tielemans, toda a equipa avança para tentar pressionar no meio-campo do Paris. Rashford lidera a pressão, com os colegas a posicionarem-se rapidamente atrás dele.

Segundo O’Neill, outro aspecto importante é a forma como o Aston Villa tentava criar jogo, lançando a bola para a frente rapidamente, visto aqui através da mudança de flanco de Tielemans. O Aston Villa queria jogar no meio-campo adversário e forçar duelos individuais. Amadou Onana foi colocado para conferir uma presença física no meio-campo e, em vez de tentar construir a partir da defesa, sentiram que a melhor forma era pressionar no meio-campo adversário, uma vez que se estaria a recuperar a bola em zonas mais avançadas.

Uma estatística reveladora dos dois jogos é que, após produzir 36 pressões no meio-campo do Paris na primeira mão, o Aston Villa conseguiu 161 em Birmingham.

Acima vemos outra medida deste plano de jogo mais agressivo, sob a forma do número de recuperações de bola do Aston Villa no meio-campo parisiense em cada jogo – seis contra 34. Para cumprir bem este requisito, diz O’Neill, os factores principais são os seguintes: "Chegar rápido à bola, percorrer grandes distâncias e garantir que os jogadores não estão a pressionar individualmente".

O factor risco

"Com o 3-1 na primeira mão, o Aston Villa teve de correr riscos", observou O'Neill, e isso é bem evidente abaixo, no vídeo final, que mostra um exemplo da ameaça do Paris no início do jogo de terça-feira.

Análise de Desempenho na Champions League: Aston Villa corre riscos

A acção começa com o Aston Villa em bloco médio, obrigando o Paris a jogar para trás, mas quando Willian Pacho encontra Vitinha num espaço livre, avançam e criam um três contra dois no flanco esquerdo. O'Neill disse: "Eles encontram o espaço, quebram a pressão e depois torna-se num quatro contra quatro, com seis jogadores do Aston Villa à frente da bola. O Aston Villa defende bem, mas é um exemplo do risco que se corre quando se pressiona alto e em distâncias grandes".

"Quando se marca individualmente, basta que um jogador afrouxe a pressão ou que o adversário mostre qualidade individual para sair da situação, e fica-se numa situação em que se tem de recuperar e o espaço a cobrir é muito grande. Nessas situações, trata-se de tomar boas decisões para tentar abrandar o adversário e ajudar a equipa a recuperar".

Lições de Michael O'Neill, observador técnico da UEFA e seleccionador da Irlanda do Norte

Defender em bloco baixo

"A Irlanda do Norte temos de jogar assim frequentemente e para alguns dos nossos jogadores o instinto natural é tentar recuperar a bola rapidamente, mas num bloco baixo é preciso ser mais paciente, mais disciplinado e garantir que as distâncias a que se está a pressionar são curtas.

"A mentalidade é importante, pois por vezes os jogadores mais jovens sentem que para ganhar o jogo precisam de ser a equipa dominante com bola, mas é possível controlar o jogo sem ter bola. Os jogadores mais velhos compreendem que contra certas equipas isso pode ter de ser feito, e que é a coesão táctica e a disciplina que mantêm a equipa na luta pelo resultado.

"Outra lição fundamental é ser capaz de estar confortável a defender recuado, já que por vezes, para um jovem jogador, quanto mais perto o adversário se aproxima da baliza, mais impaciente fica e mais sente o perigo. Por isso, precisa de aprender a ter paciência e, principalmente quando defende num bloco compacto, não ser indisciplinado e quebrar a ordem. Isto exige concentração e foco, pois basta um jogador tomar uma decisão precipitada, um defesa sair no momento errado e, de repente, surgir espaço. O adversário pode tentar atrair e testar a concentração e tomada de decisão, por isso é importante não ser aquele que foge ao plano estabelecido.

"Uma forma de treinar isto é com exercícios de superioridade numérica, inicialmente dando essa superioridade aos atacantes e depois aos defesas. É preciso dar à equipa que defende um alvo para quando ganhar a bola, como tentar marcar um golo numa baliza situada a meio-campo. Conseguirá forçar o adversário a recuar? Consegue portar-se como um colectivo e manter-se compacto? Os defesas também devem trabalhar a forma de defender a largura da área, e é importante que os defesas laterais não só forcem o adversário a jogar por fora como também sejam capazes de impedir cruzamentos".

Defender alto no terreno

No vídeo da primeira mão vimos o Aston Villa a defender recuado num bloco baixo e compacto, e isso passa sobretudo por avançar sem comprometer a transição defensiva. Em contraste, quando se está muito avançado no terreno, na hora de defender recua-se o mais rápido possível, e isso, ao nível da elite, significa que a mentalidade de um jogador é muito importante. É preciso coragem para defender grandes espaços contra jogadores que atacam rapidamente – e lidar com situações de um-contra-um em grandes espaços é um desafio considerável.

"Com equipas como o PSG, que dominam a posse de bola, querem tentar criar essas situações e é por isso que jogam através do guarda-redes, para atrair a pressão adversária, pois isso torna o campo maior e podem fazer uso da sua qualidade.

Para um defesa, a capacidade de decidir rápido e bem nestas situações é fundamental. Tenta-se manter a linha ou recuar? Consegue contra-pressionar e recuperar a bola? Se estiver em marcação individual, aperta bastante a marcação ou, tendo em conta as características físicas do jogador que se enfrenta, é melhor pensar no espaço nas suas costas? Invariavelmente, em momentos de transição, os defesas têm de recuar, e aí o que importa é a rapidez com que se consegue recuperar individualmente e colectivamente.

"Isto pode ser treinado e há exercícios adequados, como criar uma área de posse e depois defender três-contra-três, para que quando a bola saia dessa zona, subitamente o jogador se veja em posição de ter que defender. O segredo está em criar cenários de jogo para trabalhar o processo de tomada de decisão".