O'Shea feliz por concretizar sonho

Foram várias as ocasiões ao longo da última década em que John O'Shea se questionou se a sua vez alguma vez chegaria. Ainda se estava a afirmar quando a República da Irlanda esteve no Campeonato do Mundo de 2002 e, com o passar dos anos, oportunidade falhada após oportunidade falhada, o internacional irlandês chegou a temer que iria terminar a sua carreira sem nunca participar numa grande competição de selecções.

Mas durante esses anos teve muito com que se entreter. Onze troféus conquistados em nove temporadas ao serviço do Manchester United FC fazem dele o sexto jogador com melhor palmarés da história do futebol irlandês. E o facto de apenas 27 jogadores terem envergado mais vezes a camisola do United é outro feito assinalável. No total, O'Shea disputou 393 jogos pelos "red devils". Nobby Stiles e David Beckham disputaram apenas mais um.

Ainda assim, ambos conseguiram estar em Campeonatos do Mundo, com Stiles a sagrar-se mesmo campeão mundial. O'Shea, por seu lado, foi vendo os Verões passarem sem que a Irlanda conseguisse chegar às fases finais de Europeus ou Mundiais. E, quando atingiu as 76 internacionalizações pela selecção principal do seu país e lhe disseram que era o jogador que mais vezes tinha vestido a camisola da Irlanda sem disputar uma grande competição, foi tomado pelo desespero.

Mas, depois, veio a Estónia. A Irlanda venceu por 4-0 fora na primeira mão do "play-off" de apuramento para o UEFA EURO 2012 e o enguiço de O'Shea chegava ao fim. "Sem dúvida, pensava que a minha oportunidade já tinha passado", admitiu o agora defesa do Sunderland AFC. "Obviamente, tinha acabado de aparecer aquando do Campeonato do Mundo de 2002 e toda a gente me dizia que eu ia fazer parte da equipa."

"Mas eu sabia que tinha chegado um pouco tarde para ainda fazer parte da convocatória. Não me preocupei, concentrei-me e fiquei a pensar que mais tarde ou mais cedo iria ter a minha oportunidade. Só que as campanhas de qualificação iam-se sucedendo sem que nós conseguíssemos o apuramento. Depois, estivemos muito perto de conseguir contra a França [no "play-off" de apuramento para o Mundial de 2010]. Felizmente, estamos finalmente aqui. Chegar à fase final de uma grande competição pela selecção é sempre um dos meus grandes objectivos de qualquer futebolista, seja qual for o seu país."

A Irlanda não terá, porém, vida fácil na Polónia e Ucrânia. Pela frente, no Grupo C, terá a Croácia, com quem mede forças já no domingo, antes de enfrentar a Espanha, campeã em título, e a Itália. Itália que faz já parte da cultura da selecção irlandesa, agora que é orientada por Giovanni Trapattoni. E O'Shea destaca o espírito jovem demonstrado pelo veterano técnico italiano, de 73 anos.

"O facto de ele continuar com aquela vontade de ir ainda mais longe é inacreditável", salienta O'Shea. "Para já, alcançámos um pequeno objectivo, mas se tudo correr bem conseguiremos concretizar o próximo: ultrapassar a fase de grupos. Sabemos que vai ser muito complicado, mas algo que aprendemos com este nosso treinador foi que com a auto-confiança e a disciplina que ele demonstrou ao longo de toda a sua carreira, pode-se chegar longe."

Palavras a que O'Shea está, certamente, bem habituado, porque Trapattoni é um treinador da mesma linha de Sir Alex Ferguson, seu antigo técnico em Old Trafford. "A sua determinação e o empenho que demonstram no seu trabalho são impressionantes", destaca. "O seu segredo é muito simples: muito trabalho. E ambos conseguem ainda ter aquela vontade e desejo de vencer. É fantástico ver como não se contentam com o que já alcançaram e se levantam cedo todas as manhãs com vontade de somar ainda mais sucessos."