Análise Táctica na UEFA Europa League: como o Tottenham subiu de nível frente ao AZ Alkmaar
sexta-feira, 14 de março de 2025
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Justin Cochrane, observador técnico da UEFA, analisa a vitória do Tottenham Hotspur sobre o AZ Alkmaar nos oitavos-de-final da UEFA Europa League.
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Dois golos de Wilson Odobert ajudaram o Tottenham Hotspur a avançar para os quartos-de-final da UEFA Europa League, após uma vitória por 3-1 sobre o AZ Alkmaar, com o treinador Ange Postecoglou e a sua equipa cientes de que no segundo jogo tinham de fazer as coisas de forma diferente em relação à primeira mão.
"Só faltou um pouco de agressividade em tudo o que fizemos", disse Postecoglou após a derrota por 1-0 em Alkmaar. "Estivemos um pouco hesitantes com bola e na pressão, e não podemos ser assim". Justin Cochrane, observador técnico da UEFA, explica como os Spurs subiram de nível no segundo jogo.
Pressão agressiva do Tottenham
Um autogolo de Lucas Bergvall fez a diferença na primeira mão, com o único remate enquadrado dos Spurs a ser da autoria do suplente Odobert, aos 88 minutos. Esse vislumbre de esperança do jovem francês foi um sinal do que estava para vir no jogo em Londres.
No primeiro vídeo, vemos como a formação inglesa forçou um erro que depois deu origem ao golo inaugural, com James Maddison, Heung-Min Son e Dominic Solanke a pressionarem agressivamente, forçando um passe para trás e, depois, estando prontos para reagir, ganhar a bola e trabalhar e preparar a jogada para Odobert. O papel de Solanke não pode ser subestimado. A sua presença faz com que o defesa duvide se deve passar para o guarda-redes; ao invés vira-se e tenta fazer um passe longo, que é interceptado por Son.
"A pressão inglesa forçou erros e criou oportunidades", disse Cochrane. "Estão constantemente à procura de pressionar e colocar o AZ em dificuldades. São assertivos, atacam e sempre de forma agressiva. Têm também flexibilidade na forma como constroem os lances".
O AZ estava atento ao que o Tottenham fazia e tentou contornar a pressão com passes mais longos, mas ainda assim a equipa inglesa conseguiu forçar erros. Na segunda parte do vídeo vemos como os anfitriões recuperam a bola a meio-campo e atacam rapidamente.
Laterais invertidos
No segundo vídeo vemos como o Tottenham inverte os seus laterais, Pedro Porro e Djed Spence, quando em posse da bola, procurando controlar e criar superioridade numérica nas zonas centrais. Vemos os dois laterais a avançarem na direcção um do outro e a trocarem passes.
"Os laterais por vezes jogam por dentro, o que cria mais opções de passe e faz com que o adversário feche por dentro, abrindo caminhos para os jogadores mais abertos ficarem livres para jogadas de um-contra-um", explica Cochrane, destacando um exemplo mostrado no vídeo.
"Os laterais que jogam por dentro também criam superioridade numérica no centro do terreno. Assim que a bola é colocada nos flancos, geralmente vemos um lateral a fazer uma incursão para o centro, ou então o médio que joga mais como Nº8 se o lateral estiver recuado. O lateral que flecte para dentro deve ser tecnicamente bom e capaz de operar em espaços apertados. Precisam de ser ofensivos. O problema que enfrentam é a distância que têm de recuperar em caso de perda da posse por parte da sua equipa.
Quando os laterais procedem desta maneira, como é que isso afecta os outros jogadores?
"Os defesas-centrais deixam de poder fazer passes fáceis para os laterais e por vezes podem passar directamente para um extremo", afirma Cochrane. "Os outros médios preenchem os espaços, mas não há um padrão claro. No jogo entre Tottenham e AZ, Maddison (que também marcou) e Bergvall recuavam frequentemente para os espaços vazios e procuravam um passe para a frente".
Impacto de Heung-Min Son
No terceiro vídeo vemos como Son influencia o jogo. O Tottenham foi estruturado de forma a que os laterais Porro e Spence permitissem que os extremos pudessem brilhar em duelos individuais, principalmente pelo lado esquerdo, através de Son, que tentava cortar para dentro e rematar ou combinar com o lateral. Aqui, Son corta primeiro para dentro, usando a sua velocidade, e remata à baliza. Na segunda parte, Son recebe a bola pronto para progredir, mantendo o balanço ofensivo e encara o adversário de frente.
"O Son é um jogador muito bom que sabe quando enfrentar o adversário ou atacar a profundidade", diz Cochrane. "É perigoso em situações de um-para-um e é bom a pressionar".
Com a sua pressão agressiva, laterais invertidos e Son, o Tottenham venceu por 3-1 e apurou-se, com um resultado total de 3-2.
"Deixámos instalar um certo nervosismo mais do que era necessário", disse Postecoglou. "Foi uma grande noite para nós e não podia estar mais feliz com a forma como os jogadores encararam o desafio. Fomos fortes, dominadores e ameaçadores no último terço – em suma, tudo aquilo que pretendemos ser enquanto equipa". Segue-se um duelo com o Eintracht Frankfurt, que afastou o Ajax com um resultado total de 6-2, nos quartos-de-final.
Mensagem para os treinadores
"Para além dos atributos necessários e enumerados acima, um lateral deve ter a capacidade de receber e jogar em espaços apertados entre linhas – jogar como um médio – um atributo essencial para jogar como lateral invertido", diz Cochrane. "A escolha do momento certo para avançar rumo ao meio-campo também é importante, assim como os sprints para recuperar a posição. Um jogador tem de estar preparado para voltar rapidamente à sua posição de origem se a sua equipa perder a posse da bola. Neste jogo, vimos os laterais do Tottenham fazer tudo isso".