Análise táctica na UEFA Europa League: como o Union SG levou o Ajax até ao limite
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
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Rui Faria, observador técnico da UEFA, analisa a atribulada segunda mão do play-off da fase a eliminar da UEFA Europa League entre Ajax e Union SG.
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O Ajax estava em excelente posição forte frente ao Union SG, após ter vencido por 2-0 na primeira partida, na Bélgica, mas a eliminatória voltou à estaca zero no espaço de 13 minutos na primeira parte da segunda mão do play-off.
Rui Faria, observador técnico da UEFA, analisa o que aconteceu num duelo intenso por uma vaga nos oitavos-de-final da UEFA Europa League, abordando primeiro o início brilhante do Union SG e depois a resistência estóica do Ajax.
Pressão do Union SG
"O Union SG surpreendeu o Ajax desde o início", disse Rui Faria sobre a primeira parte, quando qualquer ideia de uma noite confortável para o Ajax foi por água abaixo. "Vi lógica na formação do Ajax, mas ficaram tão surpreendidos como eu com a abordagem do Union SG ao jogo – isso é compreensível quando se ganhou o primeiro jogo, inda por cima fora, por 2-0. O Union SG pressionou, tinha um plano claro, limitou a construção do Ajax, chegou a uma vantagem de 2-0 e ainda marcou um terceiro golo, embora tenha sido anulado por fora-de-jogo".
A forte pressão do Union SG é evidente na primeira parte do vídeo, numa abordagem de marcação individual alta, tentando transformar cada pressão numa oportunidade para criar um ataque perigoso. O segundo clip mostra como ameaçaram após ganharem a bola numa sequência que termina com a conquista de um livre que deu origem ao golo inaugural.
"É um esforço táctico coletivo", disse Rui Faria sobre a exibição da equipa belga na primeira parte. "Pode ver-se a atitude determinada, o desejo e a crença de reentrar na discussão pelo resultado à medida que tentavam recuperar a bola e pressionar de forma agressiva. O melhor momento para recuperar a bola é imediatamente após perdê-la, uma vez que o adversário ainda está a tentar obter estabilidade e o Union SG aplicou bem este conceito. Até o seu penálti veio na sequência do aproveitamento de uma bola perdida e de ser mais rápido a ganhar a segunda bola. A sua abordagem bem sincronizada teve como recompensa a obtenção de golos".
Ajax em inferioridade numérica mas sólido
O Union SG não só marcou por duas vezes para empatar a eliminatória, através de Kevin Mac Allister e Promise David, como o Ajax ficou reduzido a dez jogadores a partir do 25º minuto, após Davy Klaassen tocar a bola com a mão em cima da linha de golo, o que resultou num penálti e no golo de David. No segundo vídeo, vemos como o Ajax recuperou desse revés, reorganizando a sua defesa e tentando manter uma táctica em 5-3-1 sem bola, enquanto o Union SG procurava o golo decisivo.
"O Ajax defendeu bem", foi a avaliação de Rui Faria sobre os anfitriões, que viram o adversário efectuar 34 remates e ter 12 cantos contra os seus sete remates e um canto. Mantendo-se compactos para lidar com a superioridade numérica do Union SG, minimizaram a ameaça dos visitantes e, no final do prolongamento, tinham conseguido resistir mais de 90 minutos sem sofrer novo golo. Rui Faria disse: "É muito importante ser tacticamente eficiente, resiliente e mentalmente forte em situações em que se tem menos um jogador. Vimos o Ajax defender a sua área de forma heróica, principalmente em situações de cruzamentos"
O impacto de Traoré
"Pensei que o Ajax estava acabado e ia ser eliminado quando se viu em desvantagem por 2-0", acrescentou Rui Faria, "mas Bertrand Traoré foi quem mudou o jogo — ele e o sacrifício colectivo que o Ajax fez sem bola".
Entrado ao intervalo, Traoré, como vemos no terceiro vídeo, tornou-se no jogador-alvo das jogadas do Ajax. Com o francês na frente, o Ajax fez ajustes para praticar um futebol mais directo na sua direção. Afinal de contas, tinha perdido a vantagem de dois golos e agora precisava de marcar para se manter em prova.
"Acredito que o Ajax foi surpreendido pela pressão do Union SG na primeira parte e demorou um pouco a adaptar-se", disse Rui Faria. "Mas na segunda parte o Traoré tornou-se a opção para sair quando recuperavam a posse da bola. As equipas que estão em inferioridade numérica normalmente recuam, defendem muito atrás, e por isso é difícil criar jogadas de ataque. Mas o Traoré, com as suas qualidades individuais, permitiu ao Ajax ter mais hipóteses de marcar, segurando a bola à espera que os colegas subissem no terreno ou atacando a profundidade, situações em que a sua qualidade nos duelos individuais sobressaiu".
Rui Faria continuou: "O Ajax teve dificuldades, foi mais agressivo na segunda parte e deu tudo nos minutos finais do tempo regulamentar, pois sabia que o prolongamento iria favorecer o Union SG, que tinha um jogador a mais. Foi difícil e não se pensa de forma totalmente lúcida quando se está cansado. O Ajax estava desgastado e as opções para fazer avançar a bola nem sempre eram óbvias após a recuperar, pois tinha menos um jogador e passou para um 5-3-1 – muito diferente do 4-3-3 habitual do Ajax".
No entanto, e apesar do prolongamento, no fim de contas valeu um lance individual de Traoré, que conquistou o penálti que valeu a recuperação da vantagem na eliminatória para os neerlandeses e a passagem aos oitavos-de-final – uma recompensa pela qual, como concluiu Rui Faria, "lutou muito e de forma inteligente".