Análise de desempenho na UEFA Europa League: protagonistas de Porto e Roma
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
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Rui Faria, observador técnico da UEFA, destaca o contributo dos principais jogadores na primeira mão do play-off da Europa League, em Portugal.
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Com a tendência para duelos individuais a toda a largura do terreno a ser cada vez mais aparente no futebol de elite, a capacidade dos jogadores para fazer um passe decisivo é cada vez mais vital. Para a unidade de análise da UEFA, o duelo entre Porto e Roma, na semana passada, a contar para a primeira mão do play-off da fase a eliminar da Europa League, foi um excelente exemplo disso, sublinhando a necessidade das equipas encontrarem formas de quebrar a pressão da marcação individual.
Trabalhando em conjunto com os analistas da UEFA, Rui Faria, o Observador Técnico da UEFA, afirma: "É importante que os defesas se sintam confortáveis com a bola e compreendam a tomada de riscos, especialmente sob pressão. Uma qualidade importante é a capacidade de olhar para a frente e encontrar jogadores entre linhas para avançar".
O ponto de vista de Rui Faria é ilustrado no primeiro vídeo, e no primeiro clip vemos Otávio, do Porto, fazer exactamente isso. Levanta a cabeça e avalia as opções que tem à sua frente. Movimentação inteligente na frente é essencial – como se observou nesta análise no dia seguinte ao jogo da primeira mão – e neste caso é protagonizado pelo extremo Rodrigo Mora, que cai entre linhas para atrair Zeki Çelik, defesa-central da Roma, e permitir que o lateral Francisco Moura vá ocupar o espaço deixado vazio. O bom entendimento entre essa dupla abre espaço para Otávio efectuar um excelente passe, com precisão, para o lado esquerdo".
"As ligações entre jogadores exigem o uso correcto de espaço e tempo", observa Rui Faria. "Se o jogador tiver diferentes opções de passe, pode tentar criar momentos de superioridade. Uma delas é quando os jogadores ofensivos recuam e aparecem entre linhas, com os espaços que deixaram livres a oferecerem opções claras para o passe. Estes movimentos criam instabilidade na linha defensiva adversária, atraindo os defesas consigo".
Çelik, o defesa da Roma, fornece um exemplo semelhante no segundo clip. Antes de receber a bola, encontra espaço afastando-se dos adversários. Quando a bola chega a Çelik, este olha para a frente, vê Alexis Saelemakers e entrega devidamente a bola com o seu segundo toque, lançando o lateral, que entretanto já iniciou a corrida para as costas do adversário mais próximo, na direcção do espaço onde o passe de Çelik vai cair. A linha defensiva do Porto é quebrada por breves momentos, dando à Roma uma oportunidade de golo.
Çelik tinha razões para estar satisfeito com um contributo ofensivo que teve mais do que o golo marcado. Ficou em segundo lugar no que toca a passes de rutura no jogo (9) e teve também o segundo maior número total de jogadores ultrapassados através de passes (47). Pelo meio, o internacional turco voltou a sublinhar a importância de um defesa-central ter boa capacidade de passe, como já se tinha visto na semana passada, com Dayot Upamecano, do Bayern München.
"Estou feliz porque hoje marquei e tive um bom desempenho defensivo", disse Çelik após o apito final. "Ajudei a equipa, que é o mais importante, e voltou aos golos, algo que já não acontecia há algum tempo".
Aproveitar entre linhas
O outro aspecto desta análise são as movimentações. Como vemos no clip de abertura deste segundo vídeo, o treinador da Roma, Claudio Ranieri, utilizou Tommaso Baldanzi para tentar criar superioridade com o seu posicionamento e movimentação. É evidente como Baldanzi se movimenta entre as linhas do meio-campo e da defesa do Porto, tentando sempre ganhar espaço para receber a bola. Notamos no clip que aproveita o facto de Artem Dovbyk, avançado-centro dos italianos, manter um defesa ocupado; com o defesa a não poder sair para pressionar, isso aumenta o espaço para Baldanzi.
Além disso, ao movimentar-se para longe dos defesas e em direcção ao espaço vazio, Baldanzi convida ao passe em profundidade e após receber a bola transporta-a imediatamente para a frente, criando uma oportunidade de cruzamento. Significativamente, apesar de ter entrado em acção aos 39 minutos, terminou o jogo no segundo lugar conjunto no que toca a recepções entre linhas (7).
"Atacar constantemente a retaguarda ajuda a esticar os blocos defensivos", diz Rui Faria. "Os blocos compactos dificultam a progressão de bola dos adversários, por isso é que os jogadores tentam atacar as costas dos defesas".
Na nossa análise inicial a esta partida, destacámos o trabalho individual de Samu, avançado-centro do Porto, que pressionava os defesas, segurava a bola e procurava combinações com os colegas.
No entanto, como este gráfico ilustra, os jogadores ofensivos também têm um trabalho a fazer, forçando o sector defensivo a esticar-se com ataques à profundida nas costas, e Samu desempenhou bem esta tarefa, tal como o extremo Gonçalo Borges e o lateral Francisco Moura. De facto, nenhum jogador fez mais ataques à profundidade nas costas da defesa da Roma do que Samu (18). Dovbyk, da Roma, fez 16, embora o gráfico mostre que três das quatro primeiras foram do Porto, com as incursões de Francisco Moura na esquerda a serem apresentadas no primeiro vídeo acima.
Como conclui Rui Faria, esta é uma característica crucial do ataque das equipas hoje em dia: "Atacar a profundidade é uma opção fundamental para aproveitar o espaço livre atrás da linha defensiva, bem como uma forma de aliviar a pressão na sua própria defensiva".