Análise táctica na UEFA Europa League: Porto e Roma anulam-se na perfeição
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
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Rui Faria, observador de jogos da UEFA, concentra-se nos duelos individuais após assistir ao empate a um golo entre Porto e Roma, na primeira mão do play-off da fase a eliminar da UEFA Europa League.
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"Sabíamos que a Roma ia fazer marcações individuais, por isso no fim de contas trata-se de tentar obter uma vantagem, e se isso acontecer com um passe ao primeiro toque, que seja. O meu objectivo não é marcar um golo com 20 passes, mas simplesmente marcar, seja com um passe ou com 20". Estas foram as palavras do treinador do Porto, Martín Anselmi, após o empate a um golo frente à Roma, e estão relacionadas com um ponto táctico importante da primeira mão do play-off da fase a eliminar da Europa League, na quinta-feira.
Como Rui Faria, observador técnico da UEFA, faz questão de explorar, este foi um jogo que se destacou pela forma como ambas as equipas procuraram encontrar soluções para contrariar a pressão individual sobre os jogadores – daí os comentários de Anselmi – mas também pelas fortes estratégias defensivas.
Encaixe táctico
Ambas as equipas utilizaram praticamente o mesmo esquema táctico, criando situações em que existia duelos individuais em todas as zonas. O Porto apresentou-se em 3-4-3, enquanto a Roma alinhou em 3-5-2. Quando qualquer uma das equipas construía, o adversário tentavam aplicar pressão envolvendo-se em duelos individuais.
Estratégias e soluções
Perante uma pressão agressiva, os jogadores procuram aproximar-se mais para receber a bola e fazê-la avançar. Se estiverem a ser seguidos pelos adversários, isso cria espaço para os avançados – embora tenham os seus próprios marcadores directos. As equipas que procuram contornar a pressão podem fazê-lo com passes longos e neste vídeo podemos ver as duas equipas fazê-lo.
"A marcação individual acarreta sempre alguma instabilidade posicional e menos equilíbrio estrutural, porque se alguém perde no um-contra-um a sua equipa torna-se fácil de desmontar", observa Rui Faria. "É difícil construir frente a uma pressão elevada com marcação individual. Depende do quão confortáveis os jogadores estão a lidar com a pressão.
"A situação mais fácil é atrair [os adversários] com passes curtos e depois jogar de forma mais directa para o ataque, superando assim a pressão. Já que se joga em profundidade, é preciso estar pronto para ganhar a primeira ou a segunda bola e jogar a partir daí".
Para quebrar as estratégias defensivas da Roma, o Porto tentou desequilibrar o adversário com movimentos sem bola e jogadas combinadas entre três ou quatro jogadores. Portanto, o clip do Porto neste segundo vídeo mostra uma jogada combinada de três contra três num espaço reduzido, que origina uma progressão com bola.
Rui Faria diz: "Quando os defesas têm a bola, é sempre importante que o meio-campo liberte jogadores para receber a bola e avançar no relvado. O timing de um movimento e do passe é fundamental. As situações que envolvem a presença de um terceiro jogador são uma boa forma de o fazer".
O segundo exemplo no vídeo, que conta com o golo da Roma, mostra o guarda-redes Mile Svilar a enfrentar uma pressão agressiva e a decidir contrariá-la através de um passe longo. O Porto ganha a primeira e a segunda bola, no entanto a Roma reage de forma agressiva. Nem sempre é possível ganhar a primeira e a segunda bola e o que a Roma faz a seguir é aplicar contra-pressão e recuperar a bola, o que leva à transição para o golo inaugural.
Reflexões semelhantes na Europa League e Champions League
Como foi sublinhado na nossa análise de desempenho ao jogo entre Barcelona e Atalanta, no mês passado, está a surgir uma tendência clara tanto na Champions League como na Europa League sobre como combater uma pressão de marcação individual – com ajustes posicionais e rotações individuais a revelarem-se soluções eficazes contra esta estratégia defensiva.
Vemos exemplos das soluções procuradas no Estádio do Dragão neste terceiro vídeo. No primeiro clip, a Roma constrói desde trás e um excelente movimento duplo faz com que Matías Soulé escape ao marcador directo. Além disso, como observa Rui Faria, vemos Tommaso Baldanzi – entrado para o lugar de Paulo Dybala aos 39 minutos – a ocupar espaço entre linhas. "Os defesas do Porto tentaram pressioná-lo, mas ainda assim encontrou espaço", explica Rui Faria. "A Roma procurava a superioridade no meio, utilizando Baldanzi entre linhas".
Os jogadores do Porto, por sua vez, tiveram a opção de contar com o avançado Samu, o que é visível no segundo clip.
Vemo-los a lançar a bola para Samu no lado esquerdo, com o jovem espanhol a usar a sua força para segurar a bola, dando tempo à equipa para subir no terreno e apoiá-lo.
Sobre esta opção de lançar a bola directamente para o ataque, Rui Faria realça a importância de ganhar a primeira e a segunda bola, acrescentando: "O avançado deve ser eficaz e deixar os adversários na dúvida sobre se pressionar demasiado perto é a melhor solução.
"Isto será praticado em treinos, onde situações que exijam velocidade e movimentação dos jogadores vão ajudar no desenvolvimento do processo de tomada de decisão e na busca de soluções rápidas. Mas tudo se resume a adaptabilidade".
Isto está em linha com as reflexões partilhadas por Cristian Chivu e Roberto Martínez na análise de desempenho acima referida, no duelo entre Barcelona e Atalanta, onde sublinham a importância dos jogadores compreenderem as diferenças entre uma pressão individual e uma abordagem mais zonal.