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Bielsa dá novo rumo ao Athletic

O toque especial de Marcelo Bielsa levou o Athletic à porta da conquista do primeiro troféu em 28 anos, numa altura em que se prepara para defrontar o Atlético na final da UEFA Europa League.

Marcelo Bielsa revitalizou o Athletic Club
Marcelo Bielsa revitalizou o Athletic Club ©Getty Images

Marcelo Bielsa não é daqueles homens que goste da ribalta, mas se o Athletic Club bater o Club Atlético de Madrid esta quarta-feira, na final da UEFA Europa League, poderá abrir uma excepção.

Há uma barca na doca de Bilbau que é uma triste recordação da falta de triunfos do Athletic nos últimos tempos – a "gabarra". De vez em quando leva uma nova demão de tinta azul, os pneus que a protegem do cais são trocados, as velas vermelhas e brancas limpas e tratadas. É algo de perene que por ali está e, nos últimos anos, nunca mais se mexeu. Tal como uma noiva que se recusa a tirar o vestido na esperança de que o noivo apareça, a espera dura há 28 anos.

A "gabarra" é o local de festa do Athletic, uma barca de 25 metros de comprimento que jogadores e corpo técnico utilizam para festejar com uma volta triunfal após a conquista de novos tesouros. Passeou muito nas margens do rio Ibaizabal em 1984, aquando da conquista do campeonato e da Taça, mas depois regressou ao cais e, com o andar dos anos, as amarras pareciam estar mais presas do que nunca. Bielsa, no entanto, começou a alargar-lhe os nós. O seu toque pessoal na equipa deu-lhe duas oportunidades para que o barco volte a andar e a festa recomece.

A final da Taça de Espanha ante o FC Barcelona é a 25 de Maio, mas primeiro vem aí o Atlético. "Temos que jogar como sabemos e usar as nossas forças, a maior garantia de podermos ganhar", disse Bielsa na terça-feira. "É uma final e as emoções, as minhas incluídas, intensificam-se. Mas o importante é como transferi-las para o próprio jogo." Ver o argentino com sinais de emoção é difícil de aferir mas, se atendermos a como as coisas eram antes, o cenário muda de figura.

Bielsa fez uma revolução desde que chegou ao Athletic, em Julho, dando à equipa enorme intensidade; defende como equipa, ataca como equipa e faz tudo isto com rapidez. Tem sido a sua imagem de marca desde que se tornou conhecido no CA Newell's Old Boys, há duas décadas, com jovens que incluíram Gabriel Batistuta e Mauricio Pochettino. Na UEFA Europa League, emblemas como o Manchester United FC e o FC Schalke 04, bem como os seus astutos treinadores, foram incapazes de encontrar métodos para parar o conjunto do País Basco.

No início, o Athletic demorou algum tempo a assimilar esta nova filosofia, só que, desde que encarrilou, a produção da equipa tem sido sempre (por vezes nem sempre de forma consistente) ascensional. O efeito de Bielsa tem-se imposto. Como ele próprio costuma dizer, "um homem com ideias novas é um louco até ter sucesso". O precoce Iker Muniain é um discípulo empenhado, ao afirmar que, nos últimos dez meses, ele e os seus colegas "aprenderam coisas que lhes faltavam". Esta afirmação é rara, em especial para quem é treinado por um homem de 56 anos apaixonado tanto pelo campo de treinos como por sessões de vídeo de cinco horas.

Bielsa pratica o que defende e, muitas vezes, é ele que apaga as luzes em Lezama, o centro de treinos Athletic, já de madrugada. É por isto que, depois da saída de Joaquín Caparrós, o Athletic se virou para ele, hipnotizado pelo caleidoscópio de cores dos blocos de apontamentos revelados na entrevista, nos quais mostrou ter analisado todos os 38 jogos da equipa da época passada. Brilhante ou louco? É uma linha ténue mas, se a "gabarra" voltar a velejar nas próximas semanas, os milhares de adeptos em Bilbau não se vão importar.

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