A maldição dos campeões da Europa
terça-feira, 31 de agosto de 2010
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Nenhuma selecção conseguiu defender com êxito o título de campeã da Europa, mas a Espanha, detentora dos ceptros continental e mundial, pode alcançar um feito sem precedentes nas 12 anteriores vencedoras.
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Detentora dos títulos de campeã da Europa e do Mundo, a Espanha inicia a respectiva campanha de qualificação para o UEFA EURO 2012 em alta e, caso consiga revalidar o ceptro europeu na Polónia e Ucrânia, tal constituirá um feito sem precedentes.
Embora se tenham já verificado defesas de títulos europeus bem-sucedidas em todas as outras competições de selecções da UEFA – três masculinas, outras tantas femininas e uma de futsal –, nenhuma selecção principal de futebol conseguiu sagrar-se campeã da Europa duas vezes consecutivas. De facto, quando estiver a ser disputado o encontro da final de 2012, em Kiev, terão passado precisamente 36 anos desde a última ocasião em que um detentor do troféu conseguiu chegar até ao jogo decisivo da competição.
A primeira tentativa de defender o título europeu de selecções quase resultou em êxito. Depois de ter conquistado a edição inaugural em 1960, a União Soviética viajou até Espanha quatro anos depois e atingiu a final, onde acabou por perder por 2-1 diante da equipa anfitriã, que apontou o golo do triunfo a apenas seis minutos do apito final. Depois, como detentores do título, os espanhóis não conseguiram a qualificação para o torneio final, na altura composto por quatro equipas, tendo sido eliminados nos quartos-de-final disputados numa eliminatória a duas mãos. A Itália viveu situação idêntica quatro anos mais tarde, quando defendia o título ganho em 1968.
Em 1974, a República Federal da Alemanha (RFA) tornou-se na primeira selecção a conquistar o título de campeã mundial na qualidade de campeã da Europa – feito igualado pela Espanha na África do Sul – e esteve à beira de conquistar o terceiro grande torneio consecutivo dois anos depois. Atingiu a final da edição de 1976, em Belgrado, sem perder qualquer encontro (com a Espanha a ser, curiosamente, uma das suas vítimas), mas um empate (2-2) no jogo decisivo, frente à Checoslováquia, levou a decisão do encontro para os penalties, que ficaram célebres pelo falhanço de Uli Hoeness, antes do inesquecível penalty batido por Antonín Panenka entrar para a história do futebol.
Após essa edição, a fase final foi alargada a oito selecções e a sorte dos detentores do título tornou-se ainda mais infeliz. A Checoslováquia quedou-se pelo segundo lugar no seu grupo, que na altura conferia apenas acesso ao encontro de atribuição do terceiro lugar. Quatro anos mais tarde, a RFA, detentora do troféu, ficou pelo caminho na fase de grupos e, depois do brilhante triunfo de 1984, a França não conseguiu sequer apurar-se para a fase final da edição de 1988.
A Holanda partiu com elevadas esperanças de revalidar o título em 1992 mas, tal como sucedera com a RFA 16 anos antes, mas um desempate por pontapés da marca de grande penalidade pôs fim ao sonho frente à surpreendente Dinamarca, campeã nesse ano. A partir do alargamento da fase final a 16 selecções, em 1996, apenas a França, em 2004, conseguiu ultrapassar a fase de grupos. Em 2008, na última edição da prova, a Grécia viu-se afastada na fase de grupos sem conseguir somar qualquer ponto.
Trata-se de um curioso fenómeno apenas verificado no futebol europeu. Nas outras competições continentais de futebol há, a dado ponto, registo de pelo menos uma história de sucesso na defesa do título. De facto, na Copa América, da CONMEBOL, a mesma selecção (o Uruguai) venceu logo as duas primeiras edições da prova, tendo o mesmo acontecido com o Egipto na Taça das Nações Africanas, da CAF, e com a Coreia do Sul na Taça da Ásia, organizada pela AFC.
A Espanha pode, ainda assim, encontrar algum alento no registo das seis anteriores selecções que partiram para o Campeonato da Europa como detentoras do ceptro mundial. O principal exemplo a seguir será o da França, que se sagrou campeã da Europa em 2000 após conquistar o título mundial dois anos antes. Mas também as selecções alemãs deram boa conta de si ao atingirem as finais dos Europeus de 1976 e 1992 enquanto campeãs do Mundo; a Inglaterra, campeã mundial em 1966, ficou no terceiro lugar do Europeu de 1968, na melhor classificação de sempre desta selecção na prova. Apenas a Itália falhou a qualificação para o Europeu de 1984 na qualidade de campeã mundial; em 2008, a "squadra azzurra", novamente ostentando o título mundial, foi eliminada do Campeonato da Europa nos quartos-de-final pela Espanha, após as grandes penalidades, o que, tendo em conta a actual valia da selecção "roja", não pode ser apontado como um desempenho negativo.
Defesas dos títulos do Campeonato da Europa | ||
Ano | Vencedor | Até onde chegou na edição seguinte |
1960 | União Soviética | Finalista vencido |
1964 | Espanha | Quartos-de-final* |
1968 | Itália | Quartos-de-final* |
1972 | República Federal da Alemanha | Finalista vencido |
1976 | Checoslováquia | Terceiro lugar |
1980 | República Federal da Alemanha | Fase de grupos |
1984 | França | Não se qualificou |
1988 | Holanda | Meias-finais |
1992 | Dinamarca | Fase de grupos |
1996 | Alemanha | Fase de grupos |
2000 | França | Quartos-de-final |
2004 | Grécia | Fase de grupos |
2008 | Espanha | ? |
*Eliminatória de apuramento para a fase final, composta por quatro selecções, disputada a duas mãos
Desempenho das selecções detentoras do título mundial no Campeonato da Europa seguinte | ||
Campeonato do Mundo/EURO | Campeã | Até onde chegou no EURO |
1966/1968 | Inglaterra | Terceiro lugar |
1974/1976 | República Federal da Alemanha | Finalista vencido |
1982/1984 | Itália | Não se qualificou |
1990/1992 | Alemanha** | Finalista vencido |
1998/2000 | França | Vencedor |
2006/2008 | Itália | Quartos-de-final |
2010/2012 | Espanha | ? |
**Sagrou-se campeã mundial em 1990 como República Federal Alemã, entrou no EURO '92 como Alemanha