Panenka revive penalty da glória

A longa caminhada desde o círculo central, o colocar a bola na marca, a expectativa dos adeptos na bancada, o peso da responsabilidade de toda uma nação nos seus ombros - um desempate através de grandes penalidades pode levar um jogador à glória ou à desgraça. República Checa e Turquia podem passar por tudo isto este domingo, caso o último jogo do Grupo A termine empatado ao fim dos 90 minutos. Se tal acontecer, serão os penalties a decidir qual a selecção que segue para os quartos-de-final e qual a que regressa a casa.

Um lugar no Panteão 
Enquanto se espera pelo início do jogo de Genebra, alguns podem temer essa perspectiva, outros poderão adorar a ideia, mas é muito improvável que alguém lide com a pressão como fez Antonín Panenka há 32 anos. O médio checoslovaco picou a bola para bater o lendário guarda-redes da República Federal da Alemanha, Sepp Maier, o que garantiu a vitória no Campeonato da Europa da UEFA de 1976 e colocou Panenka no Panteão dos grandes do futebol. Contudo, a forma inovadora como bateu a grande penalidade não foi o momento de pura inspiração que se possa imaginar. Foi o fruto de muitas horas passadas a aperfeiçoar a técnica no campo de treinos com outra lenda checoslovaca, o guarda-redes Ivo Viktor.

Por um chocolate
"Depois de cada treino, eu costumava ficar no relvado para um 'jogo' de grandes penalidades com o nosso guarda-redes, em que apostávamos um chocolate ou um copo de cerveja", conta Panenka, agora com 59 anos. "E dado que ele era um guarda-redes tão bom, as apostas acabaram por me sair caras. Por isso, muitas vezes, antes de dormir, pensava na forma como bater o Viktor e recuperar as minhas perdas".

Prática conduz à perfeição
"Um dia, tive a ideia de atrasar o momento do remate e fazê-lo de forma picada para que o guarda-redes, depois de se atirar, não tivesse tempo de voltar atrás. Isto tornou-se na base da minha filosofia e, lentamente, comecei a testá-la e a pô-la em prática. Um efeito secundário foi eu ter começado a ganhar peso, por causa de todas as apostas ganhas, e aos poucos passei a marcar assim os penaltys em jogos amigáveis e em campeonatos menos importantes. Com o tempo, a técnica estava tão aperfeiçoada que comecei a marcar assim as grandes penalidades na Liga principal, mas o grande momento foi mesmo no Campeonato da Europa", lembra Panenka.

Grande recorde
Desde a final de 1976, em Belgrado, Checoslováquia e, depois, a República Checa - após o "divórcio de veludo" com a Eslováquia em 1993 - conseguiram um recorde impecável nos desempates por penalties. Panenka fez parte da equipa que garantiu o terceiro lugar no Campeonato da Europa de 1980, ao bater a Itália, por 9-8, nas grandes penalidades e, 16 anos depois, a já República Checa chegou à final do EURO '96™, ao vencer a França da mesma forma. Os gauleses voltaram a sofrer na pele os nervos de aço dos checos na marca dos 11 metros em 2002, quando grande parte dos jogadores que estão actualmente na selecção principal venceram o Campeonato da Europa da UEFA de Sub-21, na Suíça, com Petr Čech a defender duas grandes penalidades.

O outro lado da glória
Claro que Čech também já sentiu o que é estar do outro lado. Ao serviço do Chelsea FC perdeu um desempate por grandes penalidades frente ao Manchester United FC na final da última edição da UEFA Champions League, em Moscovo. Alguns jogadores nunca recuperam da desilusão após sentirem que tiveram a vitória ao seu alcance. Maier ainda é perseguido pelo fantasma de ter sido incapaz de defender o penalty de Panenka, mas o antigo jogador do FC Bohemians Praha insiste que o guarda-redes não tem qualquer razão para se sentir envergonhado. "Nunca quis fazer com que ele se sentisse ridículo", garante Panenka. "Não conheço ninguém que seja capaz de gozar com alguém quando o título europeu está em jogo".