Percurso da Itália merece ser recordado
domingo, 3 de julho de 2016
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O nosso repórter de Itália, Paolo Menicucci, estava céptico quanto às possibilidades dos "azzurri" até ir a Coverciano, em Maio, e diz que o percurso em França deverá ser elogiado.
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"Tudo o que fizemos será esquecido nos próximos anos. Ninguém se vai recordar que esta selecção nacional deu tudo o que tinha".
Escutar as palavras em lágrimas de Andrea Barzagli depois da derrota da Itália no desempate por grandes penalidades frente à Alemanha na noite de sábado foi como levar um murro no estômago.
Doeu porque o veterano defesa-central estava provavelmente certo. As falhas dos 11 metros de Simone Zaza e Graziano Pellè irão ofuscar em parte a participação maravilhosa dos "azzurri". No entanto isso não impedirá a afirmação que a Itália fez uma grande competição, apesar da eliminação nos penalties pelos campeões do Mundo em Bordéus.
Eu próprio admito o meu cepticismo quanto a esta equipa há dois ou três meses, em especial desde que as lesões de Marco Verratti e Claudio Marchisio privaram a Itália de dois dos principais centrocampistas. Em Maio, no entanto, comecei lentamente a mudar de opinião.
Estavamos em Coverciano para falar com Giorgio Chiellini e Leonardo Bonucci. Fora um dia longo para os jogadores que estavam a posar para as fotos oficiais para o torneio. As entrevistas, agendadas inicialmente para a manhã, foram adiadas para o final da tarde.
Quando um exausto Bonucci apareceu depois de treinar sob as ordens de Antonio Conte, o defesa estava visivelmente cansado. "Ele fá-los dar no duro, não faz?" Disse com um sorriso. "Não imaginas quanto," respondeu Bonucci.
Já vi muitas sessões de treino e entrevistei vários jogadores italianos depois daquilo e posso confirmar que a exigência não baixou. Com o tempo, percebi que o meu pessimismo era infundado. Este grupo de jogadores era realmente especial e arranjou uma maneira de passarem para lá dos seus limites.
"Gostamos de estar juntos", desabafou Barzagli ontem à noite. Tal era óbvio para todos os que estava no centro de treino de Montpellier.
Depois veio a convicente vitória na estreia no Grupo E frente à Bélgica, com a Itália – sem surpresa para mim – a percorrer mais distância que qualquer outra equipa na prova. O belo tento de Emanuele Giaccherini foi seguido por um festejo emocionante que envolveu toda o grupo quando Pellè fez o segundo, já nos descontos.
Um triunfo sobre a Suécia foi seguido por uma derrota ante a República da Irlanda numa altura em que o primeiro lugar do grupo já estava assegurado. A obra-prima, no entanto, seria a vitória por 2-0 nos oitavos-de-final sobre a Espanha, quando os "Azzurri" suplantaram claramente os campeões em título apesar da ausência de outro importante elemento, Antonio Candreva.
Poderia a fasquia subir mais alto? Sim. Defrontar a campeã do Mundo Alemanha sem Daniele De Rossi (lesionado) e Thiago Motta (castigado).
Apesar de tudo, os pupilos de Conte lutaram como leões. Gianluigi Buffon sofreu um golo pela primeira vez em França, mas manteve a sua equipa viva ao parar de forma incrível um remate de Mario Gomez. E a Itália mostrou categoria ao conseguir empatar e levar a decisão para os penalties.
O desempate terminou com a Alemanha em festa e Buffon a chorar em campo. Aos 38 anos, um dos melhores guarda-redes de todos os tempos, esperava um adieu diferente do EURO.
Barzagli está certo. Daqui a uns anos poucas pessoas se recordarão dos feitos desta equipa da Itália - se calhar sem o talento de outras equipas dos "azzurri" do passado, mas não terá havido muito melhor em termos de coração e determinação. Eu não me vou esquecer.