Vencedores do EURO: Nas suas próprias palavras
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
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Sete dos 173 jogadores que experimentaram o sabor da conquista do Campeonato da Europa, incluindo Marco van Basten e Luis Suárez, recordam o momento das vitórias.
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Milhões sonharam com isso, mas apenas 173 jogadores sentiram, efectivamente, o sabor da glória numa final de um Campeonato da Europa de futebol*. E grande parte deles pouco mais têm em comum. Pietro Anastasi tinha acabado de atingir a idade adulta quando ajudou a Itália a sagrar-se campeã, jogando em casa, em 1968. Arnold Mühren tinha uns impressionantes 37 anos quando contribuiu para o triunfo da Holanda, 20 anos mais tarde. O checoslovaco Antonín Panenka aguentou uma autêntica maratona de 120 minutos antes de proporcionar o momento mágico que todos recordam na final de 1976. Oliver Bierhoff necessitou de jogar apenas 26 minutos para, com dois golos de cabeça, decidir o EURO '96 a favor da Alemanha. O que os liga, porém, é o sabor único da glória europeia. Aqui, alguns dos jogadores que a experimentaram recordam esse momento.
O PRIMEIRO: Viktor Ponedelnik (URSS, 1960)
Autor do golo da vitória na edição inaugural da prova, no prolongamento
É sempre um prazer para mim recordar essa final; ao bater a Jugoslávia, a União Soviética tornou-se na primeira campeã europeia da história. Ninguém é capaz de esquecer tais momentos de glória, seja o público, os adeptos ou os jogadores. Quanto a mim, o golo da vitória que apontei aos 113 minutos de jogo foi o mais importante de toda a minha carreira. Marquei muitos golos pelos clubes que representei e pela minha selecção nacional, mas há jogos e golos que são realmente especiais, que marcam a carreira desportiva de um jogador. Para mim, foi esse golo. Foi o melhor momento da minha vida.
O HOMEM DA CASA: Luis Suárez (Espanha, 1964)
Médio talismã da selecção espanhola no triunfo dos anfitriões sobre a URSS
O que mais recordo dessa final é a atmosfera que a envolveu, porque o Santiago Bernabéu estava completamente lotado. Os adeptos idenficavam-se connosco, talvez porque éramos uma equipa jovem à procura de alcançar algo de grandioso. Isso conferiu tranquilidade à equipa e aliviou a pressão. Mesmo se cometêssemos um erro – e com uma equipa jovem o risco de isso acontecer é elevado – os adeptos apoiavam-nos. Jogámos muito bem, diante de uma URSS que tinha uma excelente equipa, e penso que merecemos a vitória. Alinhei por outras selecções espanholas que talvez fossem bem melhores do que a de 1964, mas nenhuma logrou alcançar algo do género.
O HOMEM DOS NERVOS DE AÇO: Antonín Panenka (Checoslováquia, 1976)
Converteu a grande penalidade decisiva na vitória por 5-3 sobre a República Federal da Alemanha, no desempate por penalties
Costuma ficar no campo com o guarda-redes depois dos treinos a treinar penalties. Apostávamos uma tablete de chocolate ou uma cerveja. Como ele era muito bom, essa brincadeira costumava sair-me cara. Por isso, antes de ir dormir comecei a pensar em formas de levar a melhor sobre ele. E veio-me à cabeça a ideia de atrasar o remate e limitar-me a picar a bola depois de o guarda-redes começar a mergulhar para um dos lados e já não ter tempo de saltar. Testei essa técnica nos treinos e comecei, enfim a ganhar as apostas. Comecei, depois, a usar essa técnica em jogos amigáveis, de seguida em jogos do campeonato, e o ponto alto foi quando a usei na final do Campeonato da Europa.
O HERÓI INESPERADO: Horst Hrubesch (República Federal da Alemanha, 1980)
Entrado à última da hora para a equipa, apontou os dois golos da RFA na final
O meu lugar na equipa estava em perigo à entrada para a final. Tinha disputado três jogos sem marcar qualquer golo e, se o Jupp Derwall não tivesse apostado em mim não poderia contestar a sua decisão. Mas, olhando para trás, ele acabou por tomar a decisão certa. Inaugurei o marcador mas, no segundo tempo a Bélgica começou a mostrar toda a sua classe e, com justiça, chegou ao empate à passagem do minuto 75. Não teríamos ganho se o jogo tivesse ido a prolongamento, teria sido demais para nós. Estava muito calor e lembro-me de estar tão cansado no final do encontro que mal conseguia erguer o troféu. O meu segundo golo, na sequência de um canto cobrado por Karl-Heinz Rummenigge, foi, assim, crucial.
O MÁGICO: Marco van Basten (Holanda, 1988)
Tinham decorrido 54 minutos da final da edição de 1988 quando marcou AQUELE golo
O Arnold Mühren cruzou da esquerda e eu pensei, "OK, posso dominar a bola e tentar fazer algo com estes defesas todos à minha volta, ou vou pelo caminho mais fácil, arrisco, e remato de primeira". É preciso ter muita sorte num lance como aquele e, naquele momento, eu tive essa sorte. Foi uma sensação extraordinária. Aquele momento em que sentimos "Está 2-0; vamos ganhar este jogo". Mas, com o entusiasmo de ter marcado, nem me apercebi muito bem do que tinha feito. Podem ver pela minha reacção. Parece que estou a perguntar "O que é que está a acontecer?".
O SUPER-SUPLENTE: David Trezeguet (França, 2000)
Um dos dois jogadores franceses que saltaram do banco para marcar à Itália
Termos apontado o golo do empate aos 94 minutos [por intermédio de Sylvain Wiltord] conferiu-nos uma ainda maior vontade de vencer, e aproveitámos a oportunidade que o destino nos deu. Tudo começou com um excelente lance individual do Robert Pires, que culminou com um cruzamento que não era nada fácil de receber, mas consegui acertar na bola quando esta começou a descer. Coloquei todas as minhas forças naquele remate. Tinha sido um torneio muito complicado para mim, porque contava ter jogado mais. Primeiro fiquei muito feliz pelos meus colegas, depois pela minha família e, por fim, fiquei muito feliz por mim mesmo. Tínhamos alcançado o nosso sonho de sermos, em simultâneo, campeões do Mundo e da Europa
O "OUTSIDER": Theodoros Zagorakis (Greece, 2004)
Capitão da selecção que surpreendeu tudo e todos ao erguer o troféu em Portugal
Depois de ganharmos vantagem no marcador, foi extremamente difícil para Portugal ultrapassar 11 jogadores a defenderem de forma tão apaixonada. Todos lutámos com unhas e dentes pela nossa equipa e, em vez de ficarmos mais cansados, conseguimos começar a cobrir mais terreno; queríamos mais aquela Taça. Fomos bastante pressionados, em especial nos minutos finais, mas nunca entrámos em pânico. Quando o árbitro apitou para o fim do encontro foi como se as luzes se tivessem apagado...há como que um vazio na minha memória. Fiquei com um sorriso idiota na minha cara durante não sei quantos minutos. Foram momentos inacreditáveis.
*Entre os 173 jogadores não estão incluídos os cinco atletas italianos que estiveram na primeira final da edição de 1968, mas que não actuaram, depois, no triunfo da Itália na finalíssima da prova.