Panenka, o homem que deu o seu nome a um penalty
sexta-feira, 26 de junho de 2020
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Lionel Messi, Sergio Ramos, Zinédine Zidane, Francesco Totti e Andrea Pirlo aperfeiçoaram a arte de marcar penáltis ao longo dos anos, mas até que ponto conhece o pioneiro de uma forma de marcar muito peculiar? Apresentamos-lhe Antonín Panenka.
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Já todos vimos esta cena várias vezes. Um jogador aproxima-se para cobrar uma grande penalidade e escolhe não a força, nem a precisão, mas sim o engano. Com os guarda-redes a escolherem um dos lados para tentar defender o remate, o jogador de campo dá um pequeno e ligeiro toque por baixo da bola, fazendo-a subir e descer lentamente, caindo já dentro da baliza e ao centro. O guardião mais não pode fazer do que observar, já que não tem tempo de mudar de direcção. É assim o penalty "à Panenka".
Já existiram muitos desempates por penáltis em torneios de renome ao longo dos últimos anos, incluindo em finais de Campeonatos do Mundo, mas talvez o mais famoso tenha sido o primeiro: na final do Campeonato da Europa de 1976, em Belgrado.
Há 34 anos e um dia, quase ninguém conhecia esta forma de marcar penáltis, mas depois o seu autor mostrou como se fazia e inscreveu o seu nome no imaginário do futebol mundial: falamos do checoslovaco Antonín Panenka. E o momento escolhido para apresentar a obra-prima? A nona tentativa de um desempate para decidir o vencedor da final do EURO 1976, claro. Uma apresentação ao mais alto nível.
O contexto
Foi sem surpresa que o EURO 1976 terminou com o primeiro desempate na história de um grande torneio de selecções: cada jogo da fase final na Jugoslávia teve prolongamento. Por duas vezes a Checoslováquia esteve em vantagem em Belgrado; por duas vezes a República Federal da Alemanha empatou, a última delas no último minuto. Meia-hora depois, foi necessário recorrer aos penáltis, e depois de Uli Hoeness ter desperdiçado o quarto remate da RFA, o avançado Antonín Panenka, de 27 anos, aproximou-se da marca de penalty.
O que aconteceu
Alguns chamam-lhe um poema futebolístico, escrito por um génio. Pode ver-se 100 vezes e nunca deixa de maravilhar. Ao cobrar o remate decisivo no primeiro desempate na final de um EURO, Panenka optou pela audácia, picando delicadamente a bola por cima do guarda-redes alemão Sepp Maier, que mergulhou para a esquerda. "Penso que o Sepp Maier não terá gostado mesmo nada", recordou mais tarde. "Ele era, e talvez continue a ser, um pouco carrancudo, por isso suspeito que não goste muito de ouvir o meu nome".
O que significou
Infelizmente para o emblemático Maier, ouviu o nome do seu carrasco várias vezes ao longo dos anos. O momento mágico de Panenka garantiu o único título europeu da Checoslováquia, desde logo garantindo um lugar na história da modalidade. Do ponto de vista individual, tinha nascido uma nova forma de marcar penáltis. Para sempre conhecido como "Panenka", foi replicado várias vezes, mas nada bate o original.
What they said
Antonín Panenka, criativo da Checoslováquia: "Após cada treino [no Bohemians] costumava ficar mais um pouco, juntamente com o nosso guarda-redes, a treinar a marcação de penáltis – apostávamos uma barra de chocolate ou uma cerveja. E pelo facto de ser um guarda-redes muito bom, tornou-se num exercício muito dispendioso para mim. Por isso, às vezes antes de adormecer, pensava em formas de o bater, de modo a recuperar as minhas perdas..
Tive a ideia e depois comecei a testar lentamente e a colocá-la em prática nos treinos. Como efeito secundário aumentei de peso, já que começava a ganhar as apostas! No fim de contas, escolhi marcar assim o penalty na final porque me apercebi que era a forma mais fácil de marcar um golo. É uma receita simples."
Ivo Viktor, guarda-redes da Checoslováquia: "Cometi um erro inacreditável no último minuto do tempo regulamentar e sofremos um golo. Agora, quando me cruzo com o Panenka, digo-lhe sempre: 'Sem o meu erro, ninguém saberia quem tu és'. Nunca imaginei que pudesse tentar marcar assim na final. Na minha opinião, continua a ser um pouco ousado demais, mesmo após tantos anos".
Franz Beckenbauer, capitão da RFA: "Apenas um autêntico campeão seria capaz de encontrar uma solução destas."
Pelé, avançado do Brasil: "Quem marca um penalty assim é génio ou louco."
France Football: "Nasceu um poeta futebolístico."