Análise Táctica da UEFA Conference League: como o Panathinaikos quebrou a resistência do Víkingur
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
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Dimitris Papadopoulos, Observador Técnico da UEFA, mostra como a flexibilidade ofensiva e a persistência da equipa grega, treinada por Rui Vitória, superaram a robusta demonstração de coesão defensiva dos históricos adversários islandeses.
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O Panathinaikos, treinado por Rui Vitória, garantiu um lugar nos oitavos de final da UEFA Conference League graças a um golo marcado aos 95 minutos, que selou a vitória por 3-2 no total, depois de uma derrota fora na primeira mão contra o Víkingur, disputada em Helsínquia.
Neste artigo, Dimitris Papadopoulos, o Observador Técnico da UEFA, em colaboração com a unidade de análise da UEFA, destaca a dimensão da tarefa que a equipa da casa tinha pela frente e a sua capacidade para, eventualmente, encontrar uma forma de furar o coeso bloco baixo da equipa islandesa.
“Foi um jogo difícil decidido nos pormenores”, explicou Papadopoulos. “O Víkingur tentou aproveitar a vantagem que trazia do primeiro jogo, utilizou o seu trabalho de equipa e coesão, esperando muitas vezes no bloco médio ou baixo em 1-5-4-1 e procurando contra-atacar sempre que possível.”
As dificuldades que esta abordagem colocava à equipa da casa eram consideráveis. O primeiro vídeo oferece três vislumbres da sólida estrutura defensiva da equipa islandesa. No primeiro vídeo, destaca-se a compactidade do bloco baixo, com distâncias apertadas entre os jogadores do Víkingur na vertical e na horizontal, num estreito 5-4-1. Apesar de este clipe ser do início do jogo, quando os níveis físicos estavam no seu ponto mais alto, vale a pena notar como a mesma diligência, concentração e compactidade se mantiveram até meio da segunda parte.
Os clipes dois e três destacam exemplos posteriores do bloco, com a disposição dos alas do Víkingur para seguir os jogadores contrários e ajudar os laterais, uma característica fundamental da sua força defensiva. Por vezes, o 5-4-1 mudou para uma estrutura de 5-3-2, com o extremo Ari Sigurpálsson (nº 17) a oferecer uma ameaça com velocidade incisiva na transição.
Fosse no bloco baixo ou na pressão alta ocasional, os jogadores do Víkingur de Sölvi Jónsson impressionaram com a sua intensidade colectiva.
“Todos os jogadores se mantiveram fiéis ao plano da equipa”, afirmou Papadopoulos, que sublinhou o sucesso em impedir que os anfitriões encontrassem espaços ou "rompessem as linhas" e elogiou os defesas-centrais Tarik Ibrahimagic e Sveinn Gísli Thorkelsson por "estarem sempre prontos a sair e a cobrir os médios defensivos" nos corredores quando o Panathinaikos entrava no último terço.
Apesar de não terem feito nenhum remate à baliza até aos 92 minutos, os visitantes tentaram ameaçar com a bola. Papadopoulos destacou as trocas de bola inteligentes e oportunas entre Sigurpálsson e o lateral-esquerdo Helgi Gudjonsson, que impressionaram dentro e fora da área.
Como é que o Panathinaikos acabou por vencer a equipa islandesa, descrita depois como “um osso duro de roer” pelo treinador da equipa grega, Rui Vitória? Para Vitória, foi a “paixão e a qualidade” da sua equipa para insistir e encontrar soluções. Papadopoulos concordou. “A qualidade, a intensidade e a paciência do Panathinaikos proportcionaram-lhes uma vitória contra um adversário difícil”, afirmou.
Os dois primeiros clipes do segundo vídeo mostram a luta pelo espaço atrás da linha defensiva do Víkingur. Vemos o capitão e avançado Fotis Ioannidis, do Panathinaikos, a esgueirar-se entre dois dos defesas-centrais para receber uma bola na diagonal. O segundo vídeo mostra um raro momento em que o extremo brasileiro Tetê conseguiu entrar por trás de Gudjonsson, depois de o médio Azzedine Ounahi ter conseguido espaço no meio-campo para se virar e levantar a cabeça.
O jogo mudou com o primeiro golo, claro, que empatou a eliminatória. Mas o ritmo da partida tinha-se alterado alguns minutos antes, quando Vitória mexeu na táctica, segundo Papadopoulos. “Começou com uma formação 1-4-3-3, mas mudou para um 1-4-4-2 na segunda parte, depois das substituições. Geralmente, atacava pelos flancos com combinações de dois ou três jogadores e tentava penetrar na área dessa forma.”
Com o avançado Karol Świderski a substituir o médio-ofensivo Adam Gnezda Čerin, a penetração da equipa da casa a partir das alas aumentou. Como mostra o terceiro excerto do segundo vídeo, outro suplente, o lateral-direito Giorgios Vagiannidis, desempenhou um papel fundamental no decisivo golo inaugural. Depois de ganhar a posse de bola no seu próprio meio-campo, Vagiannidis correu para a frente para oferecer apoio a Tetê e, eventualmente, fazer um cruzamento que resultou num golo do seu lateral oposto, Filip Mladenović.
Papadopoulos viu isso como uma recompensa pela persistência do lateral-esquerdo. “Mladenović teve um grande impacto na sua equipa”, explicou. “Marcou com grande técnica num remate com o pé direito e atacou pelo flanco esquerdo, fazendo muitos cruzamentos.”
O golo da vitória, visto no último vídeo, sublinha a enorme diferença entre a compactidade inexpugnável do Víkingur na primeira parte e a ponta final, quando a equipa da casa assumiu o controlo.
Vemos o Panathinaikos explorar a distância entre a linha de fundo e o meio-campo pressionante a quatro e capitalizar uma bola longa para conseguir um remate à baliza que resulta numa finalização de primeira de Tetê após o ressalto. Apenas a dois minutos do fim do tempo regulamentar, o jogo terminou para os valentes visitantes, que já se tinham tornado no primeiro clube islandês a jogar numa fase de liga ou fase de grupos de uma competição da UEFA.
Papadopoulos deixou uma mensagem aos treinadores de jovens que procuram ajudar os jogadores a desenvolverem a resiliência e a força mental necessárias para evoluir entre a elite. “Qualquer equipa precisa de atitudes defensivas e ofensivas para ser completa”, explicou. “O equilíbrio entre elas durante os 90 minutos é importante para ganhar os jogos. O Panathinaikos foi a equipa que mais vezes mostrou esta combinação de qualidades e, por isso, venceu e passou à fase seguinte.”