In the Zone: Análise ao Man City 1-0 Inter
quarta-feira, 14 de junho de 2023
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O painel de Observadores Técnicos da UEFA analisa a vitória magra do City sobre o Inter na final e considera como a equipa de Pep Guardiola teve de se adaptar ao facto de não poder utilizar o seu habitual jogo fluido.
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O triunfo do Manchester City na final da UEFA Champions League, em Istambul, não se deve tanto ao seu futebol ofensivo, que é sua marca registada, mas a outras virtudes da equipa de Pep Guardiola que fez história.
Neste artigo, apresentado pela Fedex, o Painel de Observadores Técnicos da UEFA avalia as principais características tácticas de um jogo intrigante contra o Inter, destacando as estratégias de pressão de ambas as equipas, bem como os papéis desempenhados por vários dos protagonistas da noite de sábado: o autor do golo da vitória, Rodri, o suplente Phil Foden, do City, e o guarda-redes do Inter, André Onana.
Golos
1-0: Rodri (68)
É típico de Rodri que, um minuto e 14 segundos antes de marcar o golo da vitória, tenha sido ele a interceptar, de cabeça, um passe do Inter para Romelu Lukaku. A partir daí veio a posse de bola que levou ao remate que selou o triunfo e a conquista do triplete.
Manuel Akanji avançou com a até perto da área do Inter e fez um passe para a entrada de Bernardo Silva na área de rigor. Como salientou o observador do jogo da UEFA, se antes, nesta sequência de posse de bola, o defesa-central do City tinha Lautaro Martínez colado a si, agora o argentino estava fora do seu caminho. Isso fez com que Alessandro Bastoni saísse, o que, por sua vez, abriu espaço para Bernardo entrar por trás do defesa-central do Inter. O observador acrescentou: "Pode ver-se o movimento de Bernardo. Ele está à espera que Bastoni saia."
Livre na direita da área, Bernardo cruzou atrasado para a marca do penálti, onde Rodri, vindo de trás em corrida, chegou para finalizar de primeira com um remate junto ao poste mais perto. "A primeira coisa que pensei foi rematar forte e alto. Mas vendo a quantidade de jogadores, decidi rematar mais colocá-lo."
Melhor em Campo: Rodri (Man City)
O jogador de 26 anos não só foi eleito o Melhor em Campo como também Jogador da Época da UEFA Champions League, depois de uma campanha em que foi o futebolistas que mais tocou na bola (1120 vezes), fez mais passes (910) e aquele que recuperou mais bolas (105).
No rescaldo da final, Rodri afirmou que não esteve bem na primeira parte e que isso se deveu a um plano do Inter que o deixou preso à marcação (ver mais informação na secção Detalhes). No entanto, Rodri deixou uma enorme marca no jogo. O médio espanhol ez mais passes para o terço atacante do que qualquer outro jogador na final (10) e também liderou nas intercepções (três), enquanto apenas Ιlkay Gündoğan e Marcelo Brozović fizeram mais recuperações do que as nove dele (com 10 cada). Rodri também se destacou no jogo aéreo, tendo ganho três dos quatro duelos. E, claro, marcando o golo da vitória.
Tácticas as equipas
Man City
A táctica habitual utilizada pelo City durante a fase a eliminar da competição foi o 1-3-2-4-1 em que John Stones (5) sai da linha defensiva para se juntar a Rodri (16) na tentativa de construir o jogo.
O interessante no sábado foi o seu formato de diamante no meio-campo, com Rodri na base, Stones (5) e Kevin De Bruyne (17) na direita e esquerda, respectivamente, e Gündoğan (8) na ponta. A situação mudou com a saída de De Bruyne por lesão, altura em que o suplente Foden passou a ser o jogador atrás de Erling Haaland (9) e Gündoğan mudou-se para a esquerda.
Guardiola optara por deixar fora do onze inicial Kyle Walker, lateral-direito que tinha tido papel importante na marcação a Vinícius Júnior, do Real Madrid, nas meias-finais. Em vez disso, escolheu um tridente formado por Akanji (25), Rúben Dias (3) e Nathan Aké (6), com Stones a servir de apoio na direita num híbrido entre defesa e médio. Assim, quando o City ficava num bloco baixo, tinha quatro defesas naturais na retaguarda, ilustrando a abordagem mais pragmática que Guardiola adoptou esta época.
Inter
O tricampeão europeu apresentou o seu habitual 1-3-5-2. No entanto, como veremos mais adiante, os seus defesas na direita e na esquerda, Matteo Darmian (36) e Bastoni (95), respectivamente, fizeram um trabalho importante movimentando-se para terrenos mais de nº10 para enfrentar os craques do City.
A servir de âncora no meio-campo três do Inter estava o capitão Brozović (77), o homem da equipa italiana que deu mais toques na bola (76), fez ais passes (56, com uma taxa de sucesso de 89,3%) e fez o dobro de recuperações (10), tendo nesta categoria apenas ficado atrás do seu companheiro Nerazzurri, Hakan Çalhanoglu (20).
Destaques
Trio de defesas do Inter fecha espaços
Um dos aspectos importantes na final foi a coragem demonstrada pelo Inter na posse de bola, e é isso que o vídeo acima trata. Diante da equipa mais concretizado da prova, os homens de Simone Inzaghi fizeram uma abordagem ousada, na qual os defesas tiveram a tarefa de subir mais para pressionar jogadores como Stones, De Bruyne e Gündoğan.
No primeiro vídeo, vemos Darmian a entrar no meio-campo do City para pressionar De Bruyne antes que Bastoni fazer o mesmo com Stones no lado esquerdo do Inter. Isso deixou os médios do livres para se concentrarem noutros aspectos, especialmente com Brozović sempre a seguir Rodri no meio. Como explicou o observador do jogo: "Eles tinham jogadores claramente instruídos para fazer marcação directa e outros que tinham que sair, os dois defesas.”
No segundo vídeo, vemos Bastoni entrar novamente pelo meio-campo do City para bloquear o caminho a Stones. Em seguida, Darmian antecipa uma possível bola para De Bruyne na esquerda do City e aproxima-se mais uma vez do belga. O observador do jogo adjectivou isto de táctica "surpreendente" e "corajosa", já que o defesa Francesco Acerbi ficava sozinho contra Haaland, apenas o melhor marcador da competição. "Eles não tiveram medo de jogar no um contra um", acrescentou o observador.
A abordagem do Inter tornou difícil para o City criar oportunidades claras de golo. No último terço, a sua percentagem de passes completos foi de 77,8%, inferior à média da época (86,4%). Além disso, o total de remate, metade do total do Inter, foi o menor número da temporada, e apenas contra o Dortmund em casa e o Real Madrid fora os homens de Guardiola conseguiram um xG menor que 0,99 no sábado (para comparação, o xG do Inter foi 1,68). Como Guardiola referiu no fim: "É muito difícil atacar o Inter com este sistema 5-3-2, é muito complicado."
A marcação do Inter no meio-campo
Como já foi mencionado, com os defesas do Inter designados para pressionar, o trio de médios conseguiu concentrar-se noutras tarefas, principalmente na tentativa de limitar o impacto de Rodri. "Havia sempre um médio a cair em cima do Rodri", comentou o observador do jogo. O próprio Guardiola admitiu mais tarde: "Não esperávamos que Çalhanoglu estivesse sempre perto de Rodri".
Na sequência do vídeo acima, vemos Brozović atento a Rodri. O croata fica perto do médio do City enquanto os seus companheiros trabalham a bola para Ederson. O guarda-redes, ao invés de procurar Rodri, faz um passe mais longo para Stones.
Rodri terminou a final com mais passes completos do que qualquer outro jogador (61 de 66 tentativas), embora, para contextualizar os esforços do Inter, tenha sido o seu terceiro menor número de passes completos num jogo da Champions League esta época no qual disputou os 90 minutos. Apenas nos dois jogos dos quartos-de-final contra o Bayern o metrónomo do City ficou abaixo desse número. E, para que conste, apenas nesses dois encontros os campeões tiveram menos posse de bola do que os 55,4% que registaram em Istambul.
Extremos do City lideram pressão
A terceira característica do jogo de sábado destacada pelo Painel de Observadores Técnicos da UEFA foi a pressão alta do City. "Anteriormente, via-se o City a pressionar muito, mas agora eles ficaram mum bloco médio-alto, esperando pelos momentos certos", disse o observador, lembrando que quando o City pressionou alto, foram os dois extremos, Grealish e Bernardo Silva, a comandar a pressão, tentando forçar que a bola fosse jogada para os lados ou em passes longos. Num esquema 1-4-2-4, os avançados centrais concentraram-se em filtrar o espaço diante do médio-defensivo do Inter.
Vemos isso no primeiro vídeo acima, quando Brozović tem Haaland e De Bruyne no flanco, enquanto o Inter constrói a partir de trás. Bernardo é o jogador que entra na área do Inter para pressionar Bastoni e faz o mesmo no segundo vídeo, no qual Grealish fecha Darmian do outro lado, ao passo que De Bruyne e Haaland encurtam mais uma vez o espaço à volta de Brozović.
Esta foi uma táctica usada pelo City com bons resultados na segunda parte da vitória em casa nos quartos-de-final sobre o Bayern. O observador acrescentou: “Eles não pressionaram muito alto, mas mais a nível médio-alto e quando o fizeram foram os extremos a saírem ao encontro dos jogadores do Bayern."
O impacto de Foden vindo do banco
O City sofreu um revés aos 36 minutos da final, quando uma lesão num tendão da coxa obrigou à saída de De Bruyne, autor de seis assistências na caminhada até então. Contudo, o jogador que +substituiu o astro belga, Foden, trouxe qualidades próprias para um jogo onde os espaços eram escassos.
"Foden é diferente, Foden é directo", referiu o observador do jogo, destacando a capacidade do inglês para iludir os adversários em espaços curtos, evidente no vídeo acima. No primeiro, ele é visto a aproveitar o espaço antes da bola chegar até ele, o que significa que está ciente da posição de Federico Dimarco e consegue antecipar o movimento do defesa e fugir dele com uma bela troca com os pés que o leva até à área antes de rematar rasteiro.
Conforme reflectiu o Painel de Observadores Técnicos, esta ocasião foi um dos poucos lances de brilho individual de ataque que o City conseguiu numa noite em que teve de vencer da maneira mais difícil.
Durante o tempo em que esteve em campo, Foden fez mais cruzamentos completos em jogadas de bola corrida (dois) do que qualquer outro jogador do City e também esteve envolvido na jogada de golo, como demonstra o vídeo acima, onde ele pode ser visto à procura de ganhar espaço antes de recolher a bola na área do Inter e afastá-la de alguns adversários para entregá-la a Akanji no lance que leva ao golo.
A qualidade de passe de Onana
“Eles colocaram o incrível Onana a jogar em posições de médio-defensivo.” Estas foram as palavras de Guardiola na conferência de imprensa sobre o guarda-redes rival, cuja excelência com a bola nos pés se destacou nos últimos minutos na procura do Inter pelo golo do empate.
Como observou o Painel de Observadores Técnicos, num era em que os guarda-redes estão cada vez mais envolvidos na construção de jogo, os esforços de Onana incorporaram essa tendência numa noite em que exibiu a habilidade de passe de um médio-defensivo.
No primeiro vídeo acima, Onan é visto a transportar a bola para fora da sua área e, de seguida, a impossibilitar seis jogadores de City de interceptarem o lance com um passe para o lado contrário para Lautaro Martínez, que depois assiste Lukaku para um remate à baliza. "Um passe incrível", foi o veredicto do observador do jogo. O camaronês produziu outro excelente passe na segunda parte – uma bola rasteira bem medida para os pés de Lukaku, que se vira e a passa para o suplente Henrikh Mkhitaryan em mais um ataque perigoso perto do fim.
Este foi um dos cinco jogos desta campanha europeia em que Onana fez 30 ou mais passes completos. E com 32 dos seus 44 passes completos, o guarda-redes ficou em sexto lugar entre os seus companheiros de equipa do Inter no que toca a passes certos na noite de sábado.
ºÉ de salientar que Onana também sabe usar as mãos: o guarda-redes do Inter ocupa o primeiro lugar entre os guarda-redes desta época no que respeita a "golos evitados", com 7,84, mais dois que o Thibaut Courtois, do Real Madrid (5,85).
Avaliação dos treinadores e jogadores
Pep Guardiola, treinador do Man City: “Na primeira parte, tivemos problemas para ler o homem livre no meio-campo. Eisse ao Rodri [ao intervalo]: 'Relaxa, tens sido de longe o melhor médio da Europa. Não te precipite - lê onde está o homem livre.”
"Hoje sentimos a pressão, mas é normal... Sei como é difícil vencer pela primeira vez. É preciso ser forte [mentalmente] e aceitar que se vai sofrer.”
“A segunda parte estivemos um pouco melhor, excepto nos últimos dez minutos. O ponto de viragem [para a pressão final do Inter] foi a excelente acção do Phil. Ele estava um pouco ansioso para terminar esta ação - como nós estivemos durante o jogo. É perfeitamente compreensível que os jogadores sentissem isso porque tinham diante deles – 'Queremos ganhar a Champions League' – e quando isso acontece, às vezes não somos nós mesmos e por isso que não jogamos ao nosso nível."
Simone Inzaghi, treinador do Inter:"Jogámos em dupla com uma equipa muito forte. Estivemos muito bem nas duas fases. Permitimos muito pouco – lembro que houve uma oportunidade para o Foden, mas eles não tiveram ocasiões claras de golo. Teríamos merecido levar o jogo para o prolongamento.
"Esta noite mostrámos porque estávamos na final. Fomos agressivos, organizados, determinados. Fizemos o jogo que tínhamos de fazer numa final."
Rodri, médio do City e Melhor em Campo: “Perto do fim, eles tiveram oportunidades. Não tivemos muitas ocasiões. Foi um jogo muito táctico. Não jogámos bem na primeira parte, mas melhorámos na segunda".