In the Zone: Análise ao Real Madrid 3-1 Man. City
quinta-feira, 12 de maio de 2022
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O painel de Observadores Técnicos da UEFA analisa as tácticas que estiveram na base da notável recuperação do Real Madrid frente ao Manchester City, nas meias-finais.
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A recuperação notável do Real Madrid frente ao Manchester City nas meias-finais, na semana passada, foi amplamente rotulada como um triunfo da crença. Os homens de Carlo Ancelotti deixaram-se levar pelo espírito mágico do Santiago Bernabéu e lutaram para agarrar a vitória frente ao Manchester City, tal como tinham feito frente a Paris Saint-Germain e Chelsea nas rondas anteriores.
Já de olhos postos na final ante o Liverpool, o Painel de Observadores Técnicos da UEFA analisa as principais características futebolísticas do sucesso "merengue" ante o City, neste artigo apresentado pela Fedex. Começando pela pressão agressiva dos laterais, o painel também destaca a excelência dos pilares Thibaut Courtois e Karim Benzema, bem como o impacto energético do jovem médio Eduardo Camavinga.
Golos
1-0: Riyad Mahrez (73)
O sétimo golo do argelino na campanha surgiu após uma arrancada de Bernardo Silva. Recebendo um passe de İlkay Gündoğan dentro do círculo central, o Nº20 conduziu a bola até à entrada e soltou-a para a direita, onde apareceu Mahrez vindo do flanco para um remate de pronto que entrou junto ao poste mais próximo.
1-1: Rodrygo (90)
Com um inteligente passe cruzado de fora da área, o suplente Camavinga encontrou o compatriota Benzema ao segundo poste, com este a tocar de primeira para a entrada de rompante de Rodrygo, que na cara de Ederson desviou para o fundo das redes com um toque subtil.
2-1: Rodrygo (90+1)
Apenas 91 segundos depois, Jack Grealish não consegue parar Dani Carvajal e o lateral efectua um cruzamento perfeito, com a bola a sofrer um ligeiro desvio de Marco Asensio mas a manter-se na rota de Rodrygo, que com um salto temporizado ao pormenor bate Ederson pela segunda vez.
3-1: Karim Benzema (95)
O 15º golo de Benzema nesta campanha europeia sublinha a sua compostura e qualidade técnica nos momentos-chave. Primeiro ganhou o penálti antecipando-se a Rúben Dias no preciso momento em que o defesa se preparava para cortar a bola, e depois, ao contrário do remate "à Panenka" na primeira mão, atirou rasteiro para a esquerda de Ederson e enganou o guardião. É de recordar que os dois penaltis convertidos nas meias-finais aconteceram após duas tentativas falhadas frente ao Osasuna em jogo de campeonato a 20 de Abril.
Melhor em Campo: Thibaut Courtois
O belga fez oito defesas, elevando o seu total na fase a eliminar para 28. Nenhuma foi mais importante do que aquela com o pé para negar o golo a Grealish, com o resultado em 0-1. Na prolongamento, começou a jogada que terminou com o penálti, efectuando um passe para Camavinga, que depois levou a bola até à área do City. "Ele manteve o Real vivo no jogo e na eliminatória graças a grandes defesas", disse o observador da UEFA sobre o seu "desempenho decisivo", acrescentando que a "distribuição e tomada de decisões de Courtois com bola tornaram-se uma ameaça no jogo ofensivo do Real".
Tácticas das equipas
Real Madrid
O Real Madrid apostou num esquema 4-2-3-1 que contou com Vinícius Júnior (Nº20) encostado à esquerda do ataque e Luka Modrić (Nº10) com bastante liberdade em zonas interiores. Ferland Mendy (Nº23º), lateral atrás de Vinícius Jr, apareceria por dentro para ajudar nos ataques. Do outro lado, Carvajal (Nº2) ia aparecer em zonas adiantadas junto à linha, também para apoiar o ataque. No centro do relvado, o Real Madrid procurou igualar o City, com o seu trio de médio a encaixar no dos visitantes. Casemiro (Nº14), ausente na primeira mão, centrou atenções em Kevin De Bruyne.
A entrada de Rodrygo (Nº21) aos 68 minutos para o lugar de Toni Kroos (Nº8) revelou-se bastante importante. Fede Valverde (Nº15) recuou para o meio-campo e Rodrygo assumiu uma lugar no ataque junto à linha, usando a sua velocidade e técnica para romper pela defesa do City. Outras mudanças feitas por Ancelotti antes do prolongamento também deram frutos, com Camavinga e Asensio a trazerem frescura e ideias novas à zona central.
Man. City
Esquematizado em 4-3-3, o City procurou ganhar o controlo através de De Bruyne (Nº17), Bernardo (Nº20) e Rodri (Nº16) na zona central. Com o Real apresentado por vezes três jogadores no meio, isso concedeu alguma liberdade aos laterais do City, com João Cancelo (Nº27) a ter tempo e espaço quando em posse.
Na frente, Pep Guardiola colocou Gabriel Jesus (Nº9) a desempenhar o seu papel natural de avançado-centro, mas após 30 minutos mudou o brasileiro para o lado esquerdo e colocou Phil Foden (Nº47) como "falso nove". Na verdade, o City terminaria a noite a jogar em 4-4-2, com o defesa-central Aymeric Laporte (Nº14) como ponta-de-lança, numa abordagem directa, quase em desespero, nos instantes finais.
Destaques
Antes do fluxo de emoções que resultou em três golos do Real Madrid entre os 90 e os 95 minutos, o campeão espanhol impressionou o observador da UEFA com a estratégia clara dos madrilenos de jogar sem bola.
O vídeo acima oferece vários exemplos disso, destacando sua pressão agressiva no meio-campo adversário. Se o City tentasse jogar pelos flancos, um dos dois laterais do Real Madrid subiria no terreno para ajudar na pressão. O primeiro clipe mostra Carvajal avançando para enfrentar Cancelo, deixando os colegas da defesa atrás para lidarem com possíveis um-contra-um. No segundo clipe, Mendy faz o mesmo à esquerda, avançando rápido no terreno para ajudar a travar o avanço do City.
Por outro lado, no seu meio-campo, o Real Madrid adotou uma abordagem diferente, mantendo-se compacto com um bloco baixo e defesa à zona. Quanto à sua abordagem com bola, foram corajosos em certos momentos, tentando circular a bola mesmo perante a pressão alta do City. Uma das estratégias foi procurar combinações com passes curtos no lado direito antes de mudar o flanco do jogo, encontrando Vinícius Jr com espaço para explorar. O brasileiro combinou bem com Benzema, com o craque de 34 anos a ser a referência do ataque e cuja mentalidade e maturidade são a personificação da extraordinária força mental do Real Madrid.
No outro extremo da escala de idade, o jovem Camavinga, de 19 anos, também mostrou personalidade, pedindo sempre a bola e impulsionando o Real Madrid após entrar em campo. O passe para Benzema foi crucial para o primeiro golo de Rodrygo, e de um modo geral trouxe mais dinamismo ao jogo da sua equipa. De facto, apesar de entrar em acção aos 78 minutos, terminou a partida com quatro cortes, perdendo apenas para Valverde nessa categoria.
Outro médio que chamou a atenção do observador da UEFA foi Bernardo, que protagonizou uma exibição cheia de energia e excelência técnica. Efectuou o maior número de passes no terço final (22, com uma percentagem de acerto de 82,1 por cento) e o maior número de iniciativas, juntamente com Vinícius Jr (sete, 71,4 por cento). No geral, porém, as poderosas correntes emocionais da partida fizeram com que o jogo do City não tivesse a sua fluidez habitual, deparando-se com dificuldades, tal como tinha acontecido na ronda anterior, na mesma cidade, mas desta vez sem final feliz.
Declarações dos treinadores
Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid: "O que aconteceu esta noite aconteceu também contra Chelsea e Paris. Se quiserem encontrar um motivo para isto, podem dizer que é a história deste clube que nos ajuda a prevalecer quando parece que estamos derrotados.
"O jogo estava perto do fim mas ainda assim conseguimos encontrar uma réstia de energia para nos mantermos na luta. Fizemos um bom jogo contra um grande rival. Quando conseguimos empatar, depois tivemos vantagem psicológica no prolongamento".
Josep Guardiola, treinador do Man. City: "Naquele momento [quando Mahrez marcou], eles ainda tinham 15 minutos para atacar de forma incessante, mas não foi o caso. No entanto, o futebol é imprevisível.
"Colocaram muitos jogadores na grande área, como Éder Militão, Rodrygo, Vinícius Jr, Benzema, e fizeram cruzamentos, acabando por em quase dois minutos marcar dois golos. Não jogámos ao nosso melhor nível, mas não é de estranhar que numa meia-final os jogadores sintam a pressão."