Iker Casillas termina carreira: memórias
terça-feira, 4 de agosto de 2020
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O icónico guarda-redes Iker Casillas pendurou as luvas e em 2019 recordou a sua fantástica carreira ao UEFA.com.
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Vencedor da UEFA Champions League pelo Real Madrid em 2000, 2002 e 2014, Iker Casillas confirmou o final da carreira de jogador aos 39 anos.
Apenas com 18 anos na altura em que se estreou na competição, em 1999, Casillas acabou por fazer 177 jogos na UEFA Champions League, registo recorde. Sobre o titular da baliza do FC Porto durante quatro épocas, entre 2015 e 2019, Gianluigi Buffon disse em 2012: "Não preciso usar muitas palavras para dizer o quão bom ele é; os resultados estão lá para todos verem. Ele ganhou tudo o que havia para ganhar e tem estado em grande nível há muitos anos."
Casillas falou ao UEFA.com sobre a vida no Porto e as suas melhores recordações da Champions League em 2019, antes do embate com a Roma nos oitavos-de-final de 2018/19.
A vida no Porto...
O dragão [símbolo do Porto] faz parte deste clube histórico, que ganhou dois títulos da UEFA Champions League, no antigo e no novo formato. É a minha casa actualmente e sinto-me muito bem aqui. Só tenho de dizer bem do FC Porto desde que cheguei aqui.
É uma Liga diferente, mas fui muito bem tratado desde que cheguei e estou muito feliz por já ter vivido grandes momentos neste clube. No norte de Portugal é Porto, Porto e Porto desde tenra idade. Parece que é algo incutido nos jovens.
Sobre atingir 100 jogos na UEFA Champions League...
Nunca imaginei que disputaria 100 jogos na Champions League. Olhando para trás, com esta nova perspectiva, fico um pouco assustado, pois são muitos jogos, muitos momentos. É um registo difícil de alcançar mas, acima de tudo, sinto-me extremamente orgulhoso por ter vencido esta competição por três vezes e por ter jogado durante tanto tempo na Champions League.
Sobre a primeira chamada à equipa principal do Real Madrid...
É uma boa história. Foi em 1997, estava na aula de design. Estávamos a falar sobre a forma como o Real Madrid estava a jogar na altura. Passava por algumas dificuldades na Liga, estaria no terceiro ou no quarto lugar, com maus resultados, mas as coisas estavam a correr bem na Champions League. Tinham um jogo importante frente ao Rosenborg, na Noruega.
Um dia o director do liceu veio à minha sala. Toda a gente sabia que eu jogava nos escalões de formação do Real Madrid. Ele costumava falar comigo sobre o Real Madrid, tal como acontecia com os meus colegas. E disse: "Iker, importas-te de vir cá fora um segundo?”
“Sim, claro”, respondi. Quando saí, ele disse-me: "É melhor apanhares um táxi e ires rápido para o Aeroporto de Barajas porque o Real Madrid acabou de ligar à tua mãe e ela telefonou para a escola. Despacha-te porque tens de ir para a Noruega.”
Parecia que tinha acabado de ganhar a lotaria. Lembro-me muito bem desse momento. Tinha 16 anos. Saí da escola, fui para casa, mudei de roupa, entrei num táxi para Barajas e encontrei-me com as estrelas. Algo que pensamos ser impossível quando somos crianças.
Saí das aulas onde estava sentado ao lado do meu colega Júlio para me sentar na mesma mesa de Fernando Morientes, Clarence Seedorf, Fernando Sanz, Predrag Mijatović, Davor Šuker e Raúl González. Foi um momento mágico que jamais esquecerei.
Sobre saltar do banco para entrar na final da UEFA Champions League de 2002...
Não estava preparado para entrar. Sempre joguei de manga curta porque me sinto mais confortável e solto, mas não estava preparado. Então chegou o momento em que estou prestes a entrar [para substituir o lesionado César Sánchez]. Tenho de sair do banco, mas não tenho vestida a minha camisola de manga curta. Estou nervoso porque não gosto de jogar assim, especialmente numa final, por isso decidi cortar as mangas. O Javier Miñano, preparador físico do Real Madrid, ajudou-me, ao mesmo tempo que o Vicente Del Bosque me dava instruções sobre o que fazer em campo.
No final, tivemos a sorte de ganhar - o meu segundo título na Champions League - frente a uma equipa do Bayer Leverkusen que tinha melhorado muito. As pessoas dizem que o Bayer Leverkusen não tinha uma grande equipa, mas não podemos esquecer que contava com jogadores como Michael Ballack e Yildiray Baştürk, que na altura eram excelentes futebolistas. Eliminaram o Manchester United, a Juventus, etc... Recordo aqueles tempos com enorme felicidade, e tinha apenas tinha 20 anos nessa altura.
Tudo aconteceu rapidamente, mas acabou por ser estranho. Penso que foi a primeira vez que um guarda-redes teve de ser substituído numa final da UEFA Champions League.
Sobre a rivalidade entre Real Madrid e Barcelona...
Os jogadores ganham muita experiência com os clássicos que temos em Espanha. É a maior rivalidade do Mundo. É claro que há dérbis em todo o lado, mas o duelo Real Madrid-Barça está ao nível mais alto possível, porque nos últimos anos os dois clubes contaram com os melhores jogadores mundiais.
Ainda não tivemos oportunidade de assistir a um Real Madrid-Barcelona na final da Champions League – penso que ainda não estamos preparados para isso. Já vivemos algo semelhante noutras competições, como a Taça dos Libertadores, mas uma final da Champions League entre Real Madrid e Barcelona pode ser muito dura.
Já tivemos o duelo Real Madrid - Atlético. Consigo imaginar essa possível final. Será difícil, mas um dia irá acontecer.