Caso de Estudo do Futebol Feminino: continuar a fazer crescer o jogo
domingo, 25 de maio de 2025
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Antes da final da UEFA Women’s Champions League, em Lisboa, as vozes mais influentes do futebol feminino reuniram-se para debater o futuro da modalidade.
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Com os jardins botânicos de Lisboa como pano de fundo, alguns intervenientes importantes reuniram-se para a quarta edição do evento Caso de Estudo do Futebol Feminino da UEFA.
Através de sessões e painéis dedicados, a ocasião mostrou como clubes, ligas, patrocinadores e jogadoras estão a impulsionar o futebol feminino.
A mensagem principal foi clara. O futebol feminino na Europa está a ser moldado por uma estratégia dedicada e intencional, estrutura e ambição colectiva.
O futebol feminino está a ganhar força rapidamente – um progresso mensurável e acelerado. Mas, tal como nos treinos, há fases em que a repetição e a recuperação disciplinadas são cruciais para o desempenho a longo prazo. O crescimento não se resume apenas à velocidade. Trata-se de desenvolver a resistência e a resiliência necessárias para o caminho que temos pela frente.
Clubes beneficiam de planeamento estratégico
Após as boas-vindas dadas por Giorgio Marchetti, vice-secretário-geral, e Nadine Kessler, directora de futebol feminino da UEFA, deu-se início ao primeiro painel do dia, centrado nos resultados desportivos com base em planeamento e investimento deliberados na perspectiva do clube.
Os participantes ouviram António Salvador, presidente do SC Braga, Frederico Varandas, presidente do Sporting CP, Paul Barber, director-geral e vice-presidente do Brighton & Hove Albion FC, e Patrick Stewart, director-geral do Rangers FC.
O painel demonstrou como o investimento a longo prazo em infra-estruturas, pessoal e envolvimento dos adeptos está a dar frutos.
Os clubes estão a aumentar as receitas relacionadas com dias de jogo e produtos do clube – resultando num aumento de 187 por cento nas receitas dos clubes das principais ligas nas últimas quatro épocas – ao mesmo tempo que melhoram o desempenho em campo através do desenvolvimento de jovens e de gastos inteligentes num mercado de transferências em evolução.
Os clubes que se comprometem com um planeamento deliberado estão a construir uma vantagem competitiva para o futuro. Estrutura e estratégia – não apenas gastar dinheiro – estão a revelar-se verdadeiros impulsionadores do sucesso.
"Estamos a pensar no futebol feminino de uma forma diferente, porque embora seja o mesmo desporto oferece oportunidades diferentes. Vemos isto como um benefício a longo prazo para o clube, tanto dentro como fora de campo."
"Ao dar prioridade às jogadoras, garantindo que estão no centro da estratégia empresarial para o novo estádio construído especificamente para este fim, teremos a longo prazo um projecto de futebol feminino sustentável e lucrativo."
Jogadoras definem direcção futura do futebol feminino
Magdalena Eriksson, defesa do Bayern München e da Suécia, juntou-se à italiana Sara Gama, que recentemente encerrou a carreira, para um painel fascinante sobre o percurso de profissionalização sob a perspectiva das jogadoras.
Destacaram como as jogadoras estão a beneficiar de contratos mais longos, aumentos salariais, sistemas de proteção e apoio, além de terem um papel crescente na formulação de políticas e na ligação com os adeptos.
As jogadoras estão no centro do futebol feminino à medida que este cresce, sendo a sua visibilidade e liderança essenciais para a ascensão comercial e cultural do jogo.
"Estas políticas são muito importantes. Ajudam as jogadoras a permanecerem no desporto. É isso que queremos – que as melhores jogadoras permaneçam no desporto o m´ximo possível, com as melhores circunstâncias a rodeá-las."
"Durante o último estágio da selecção tivemos connosco a Amanda Ilestedt, a primeira jogadora a ser mãe e que trouxe o seu bebé. Isto é o futuro. Foi um momento que nos trouxe alegria mas também significou que podemos ter de volta a Amanda, uma das melhores defesas do Mundo."
Patrocinadores moldam identidade do jogo
A terceira sessão começou com uma intervenção perspicaz de Annie Panter, directora-geral da Two Circles, que destacou a importância de aumentar o número de adeptos ávidas por futebol feminino.
De seguida, houve um painel sobre como os patrocinadores podem criar estratégias eficazes de envolvimento dos adeptos ao compreender o público. A anfitriã foi Viktoria Schnaderbeck, antiga jogadora da selecção austríaca e que capitaneou a equipa no Women's EURO 2017, no qual chegou até às meias-finais.
Schnaderbeck teve a companhia de Bianca Rech, directora de futebol feminino do FC Bayern, Francesca Sanzone, directora de futebol feminino da Serie A, e Liesel Jolly, responsável de Marketing e Patrocínios da VISA para o futebol feminino.
Os patrocinadores são parceiros activos no ecossistema do futebol feminino, moldando a identidade do jogo e construindo ligações significativas com públicos movidos por valores.
O debate sublinhou a necessidade de campanhas que apelem autenticamente aos adeptos do futebol feminino, sendo a relação entre patrocinadores, ligas, jogadoras e clubes fundamental para trazer autenticidade e propósito.
A lição mais importante: o patrocínio no futebol feminino deve ser sobre parcerias com significado, e não apenas exposição mediática.
"Os adeptos do futebol feminino associam o desporto a valores positivos – inclusão, empoderamento, autenticidade. Esta é uma oportunidade para patrocinadores e parceiros. Sabemos o quão importante é o envolvimento das jogadoras nisto – sempre que abordamos um parceiro ou possível patrocinador, estes pedem logo o envolvimento das jogadoras. Qualquer tipo de mensagem é transmitida de forma poderosa quando é a própria jogadora a fazê-lo."
Ligas aceleram profissionalização do futebol feminino
Sofia Teles, directora e responsável pelo futebol feminino da Federação Portuguesa de Futebol, liderou um painel centrado no desenvolvimento da liga.
Teve a companhia de Nikki Doucet, directora-geral da Women’s Super League Football, Andreea Koenig, vice-presidente da liga francesa de futebol feminino, e Lise Klaveness, membro do Comité Executivo da UEFA e presidente da Federação Norueguesa de Futebol.
O painel destacou como as ligas estão a aumentar as receitas, expandindo a cobertura mediática, aprofundando os patrocínios e investindo em infra-estruturas. Isto representou um aumento de 146 por cento da receita média nas principais ligas nas últimas quatro temporadas.
A estratégia de transmissão é vista como a chave para isso, com as plataformas gratuitas e digitais a ajudarem a atrair novos públicos.
A discussão reforçou que planeamento e investimento ao nível da liga são essenciais para o sucesso a longo prazo do futebol feminino, preparando o terreno para um crescimento contínuo.
"Ter uma liga muito competitiva é um objectivo fundamental. Isto anda de mãos dadas com a capacidade de atrair o público aos estádios. Quanto mais pessoas assistirem aos jogos, mais as estações televisivas estarão interessadas. É crucial que a nossa liga se torne mais competitiva e estamos todos a trabalhar para isso."
Caso de Estudo do Futebol Feminino
O evento Caso de Estudo do Futebol Feminino tem a presença de membros do Comité Executivo da UEFA, presidentes e secretários-gerais de federações-membro e ainda representantes de ligas e clubes de elite na Europa, bem como outros intervenientes-chave da UEFA, como a ECA e a FIFPro.
Recorrendo a opiniões e pontos de vista únicos por parte de clubes e ligas no continente, o evento apresenta novas descobertas, destaca as principais tendências e facilita o debate sobre o crescimento do futebol feminino.