Importância da especificidade do treino físico no futebol
terça-feira, 29 de abril de 2014
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Os delegados no Seminário sobre Condição Física no Futebol, em Baku, ouviram falar da importância de o treino físico e técnico terem de andar sempre a par.
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O terceiro seminário-piloto sobre Condição Física no Futebol arrancou em Baku, na passada segunda-feira, com delegados de 17 federações-membro da UEFA a reunirem-se para uma série de apresentações e debates sobre de que forma o treino físico pode ir de encontro às exigências específicas do futebol.
O seminário realizado na capital do Azerbaijão é o terceiro evento-piloto do género, depois dos realizados em Oslo, em Março de 2013, e em Istambul, em Agosto último. Na introdução deste seminário de formação de treinadores, que decorrerá até quinta-feira, Frank Ludolph, responsável pelos serviços de formação de treinadores da UEFA, explicou quais os objectivos do evento, que passam por promover o diálogo entre formadores de treinadores, técnicos e especialistas e ainda por fazer passar uma mensagem clara em termos da especificidade do futebol.
O principal momento do dia ocorreu com uma apresentação por parte de Andreas Morisbak e Sigmund Apold-Aasen, na qual Morisbak, conselheiro técnico sénior da Federação Norueguesa de Futebol(NFF) e instrutor técnico da UEFA, falou sobre a filosofia da UEFA e os princípios da especificidade. Explicou que a abordagem da UEFA passa por destacar os princípios básicos da aprendizagem e do treino como linhas condutoras e por formar os treinadores a partir dessas linhas, utilizando métodos de treino adequados ao seu próprio ambiente.
O princípio da especificidade é vital devido à relação existente entre a condição física e o desenvolvimento dos atributos técnicos no futebol: uma melhor condição física ajuda a prevenir lesões, enquanto um melhor desenvolvimento a longo-prazo pode potenciar uma melhor qualidade técnica e uma melhor condição física futebolística.
Apold-Aasen, director de fisiologia no Centro Norueguês para a Excelência do Futebol, afirmou: "Não queremos simplesmente desenvolver melhores atletas. Queremos desenvolver melhores futebolistas." Falou igualmente do conceito de estabilidade exibicional ao mais alto nível, examinando de que forma o treino da condição física pode interligar-se com o treino do trabalho de equipa, factores determinantes para o bom desenvolvimento de um jogador.
Citando o exemplo da indústria petrolífera norueguesa, afirmou: "Para alcançarmos o melhor dos desempenhos é crucial criar um entendimento comum da tarefa, do desafio e da vontade de chegar ao resultado final. Porém, aconselhou aos presentes que "desafiem as melhores práticas de forma a melhorá-las."
Sendo este o terceiro seminário do género, treinadores e formadores de treinadores oriundos das diferentes federações filiadas na UEFA encontram-se já familiarizados com a necessidade de um treino de condição física equilibrado e específico para o futebol, sendo esta a melhor forma de integrar este importante tópico na formação dos treinadores. Depois, para que o Painel Jira da UEFA possa retirar as suas conclusões sobre a condição física no futebol um pouco por toda a Europa, é pedido aos delegados que sejam o mais interactivos possível.
Paul Balsom, um dos membros do grupo de trabalho da UEFA sobre condição física presentes em Baku, responsável pela área de desempenho da Federação Sueca de Futebol, pediu para que os delegados participantes de cada uma das federações preenchessem um questionário sobre condição física no futebol; juntamente com Apold-Aasen levou igualmente a cabo uma sessão de troca de ideias onde os delegados falaram dos respectivos programas nacionais de treino de condição física específicos para futebol.
Elkhan Mammadov, secretário-geral da Federação de Futebol do Azerbaijão (AFFA), salientou a importância desta partilha de conhecimento entre as federações. "Para todas as federações nacionais trata-se de uma grande experiência e de uma excelente forma para partilhar conhecimento."
O que ficou claro ao escutar as opiniões das federações de menor dimensão foi o quanto estas apostam em enviar especialistas para outros países com o intuito de estes ajudarem, depois, à formação de treinadores a nível interno. Nesses países, apenas metade dos clubes do escalão principal têm capacidade para ter um preparador físico nos seus quadros, sendo o principal problema a nível geral o de compensar, a nível físico, a falta de actividades ao ar livre desenvolvidas hoje pelas crianças – dado que é daí que partem as bases da condição física para a actividade futebolística.
Os representantes de Andorra, Bielorrússia, Bélgica, Estónia, Ilhas Faroé, Geórgia, Gibraltar, Cazaquistão, Letónia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, República da Moldávia, Rússia, San Marino e Ucrânia receberam ainda um documento sobre formação preparação física intitulado Filosofia e Questões, o qual deverá agora ser analisado em profundidade. Assim, os próximos dias de actividades irão continuar a olhar para as exigências físicas do futebol, para a prevenção de lesões a nível sénior e a nível das camadas jovens, bem como para o desenvolvimento a longo-prazo dos futebolistas.
O derradeiro tema em agenda na segunda-feira foi uma entrevista em palco de Frank Ludolph e Berti Vogts, seleccionador principal do Azerbaijão. Recordando a sua própria carreira como jogador no VfL Borussia Mönchengladbach, destacou que "o treino físico no futebol não pode em nada ser igual ao do atletismo: a preparação física tem de levar em conta a especificidade do futebol".
O técnico alemão, de 67 anos, recordou de que forma o pensamento inovador manteve o Mönchengladbach "um passo à frente do Bayern em várias áreas" durante a sua gloriosa década de 1970. Agora, obviamente, é comum as equipas técnicas dos clubes e das selecções nacionais contarem com médicos, fisioterapeutas, massagistas, treinadores-adjuntos, preparadores físicos e psicólogos. "Os futebolistas são hoje bem melhores profissionais do que nós éramos no nosso tempo", admitiu Vogts, vencedor de um Campeonato do Mundo como jogador e do EURO '96 como seleccionador da Alemanha.
"Penso que todas as equipas profissionais devem ter um preparador físico qualificado, pois os futebolistas funcionam de forma diferente em relação a outros desportos", sublinhou.