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O despertar da Roménia em 1983

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"Não podíamos dar-nos ao luxo de jogar para o espectáculo", disse Mircea Lucescu ao recordar o feito de há 30 anos da Roménia, quando se qualificou para o EURO '84.

Ion Geolgău abre o activo para a Roménia no empate 1-1 na Checoslováquia, a 30 de Novembro e 1983
Ion Geolgău abre o activo para a Roménia no empate 1-1 na Checoslováquia, a 30 de Novembro e 1983 ©Gazeta Sporturilor

Foi há precisamente 30 anos que a Roménia, ao empatar 1-1 com a Checoslováquia, em Bratislava, conseguiu apurar-se pela primeira vez para a fase final do Campeonato da Europa: um feito histórico.

Depois da presença no Mundial 1970, era apenas a segunda vez desde a Segunda Guerra Mundial que a Roménia alcançava a fase final de uma grande competição internacional, e o avançado Ion Geolgău sente que o sucesso se deveu a um dos jogadores da selecção que jogara o Mundial no México: o seleccionador Mircea Lucescu. "Foi ele que fez com que tudo acontecesse, com os estágios que organizou, jogos particulares e atenção aos detalhes, como escolher os pitões certos para cada tipo de relvado."

Na altura, o regime comunista na Roménia acreditava firmemente no apoio ao desporto e à educação, e esse trabalho de base começou a dar frutos quando uma equipa com Ioan Andone, Mircea Rednic e Romulus Gabor levou a selecção Sub-20 romena ao Campeonato do Mundo da categoria, em Outubro de 1981. Esses três jogadores foram utilizados na equipa principal por Lucescu, a 11 de Novembro desse ano, na estreia do técnico, que terminou num empate 0-0 na Suíça.

Lucescu, ex-treinador-jogador do Corvinul Hunedoara, tinha apenas 36 anos quando foi nomeado seleccionador da Roménia e também apostou no defesa Gino Iorgulescu, de 25 anos, para além de ter dado a segunda internacionalização a Michael Klein (um dos seus jogadores no Corvinul, tal como Rednic, Andone e Gabor) e de ter chamado László Bölöni após um ano de afastamento da selecção. Tratou-se do início de um processo através do qual Lucescu, pessoa viciada no trabalho, formou uma equipa de sucesso.

Os estágios e os jogos amigáveis eram primordiais: houve nove no final de 1982, incluindo partidas na Argentina (1-0), no Peru (2-0) e no Chile (3-2), no espaço de uma semana, e mais dez em 1983, com a inovação de a esta abordagem inovadora se juntar uma análise exaustiva de cada jogador adversário e testes psicológicos.

Mas Lucescu também gostava de alargar o horizonte mental dos atletas. "Sempre acreditei que a cultura e a educação são essenciais", explicou. "Nesse tempo, vivíamos atrás da Cortina de Ferro e éramos sempre tímidos e desconfiados. Antes de cada jogo, organizámos uma visita a um museu ou um passeio, e eu dizia sempre aos meus jogadores que os adversários eram seres humanos como nós."

Ion Geolgău marca em Bratislava
Ion Geolgău marca em Bratislava©Gazeta Sporturilor

Depois de chamar a atenção internacional com um empate 0-0 em Florença, num jogo em que terminou com dez unidades, e uma vitória por 1-0 sobre a Itália, em Bucareste, uma derrota em casa por 1-0 com a Checoslováquia afastou a Roménia da liderança do grupo. A equipa recuperou terreno com triunfos por 1-0 em Solna e em Limassol, mas ainda precisava de não perder em Bratislava, no último jogo, para ser uma das oito equipas com lugar na fase final, em França.

A preparação foi, mais uma vez, a chave do êxito. "Tudo começou vários dias antes, com um estágio na Holanda", recorda Geolgău. "Empatámos 1-1 com uma equipa e o vice-presidente da Autoridade Nacional do Desporto, general dos serviços secretos, ficou furioso. Perguntei-lhe: 'Empatar 1-1 em Bratislava não será suficiente? É esse o resultado de que precisamos'. A cara dele mudou. Eu tinha razão, mas nem sequer sabia se ia jogar."

"Um dos jogadores lesionou-se e o senhor Lucescu disse-me que ia ser titular", revela Geolgău, autor do tento de abertura aos 82 minutos, antes de Milan Luhový empatar para os checoslovacos. "O tempo estava péssimo, mas já sabíamos que ia ser assim e tínhamos os pitões certos para neve ou gelo. No final, cumprimos o objectivo e tínhamos todas as razões para estarmos orgulhosos."

Entre os suplentes que não foram utilizados naquele dia estava o jovem Gheorghe Hagi, de 18 anos, outra descoberta de Lucescu, que se tinha estreado pouco tempo antes, em Agosto de 1983. E continuou a jogar no EURO '84, tal como o guarda-redes Silviu Lung, Cămătaru, Andone, Rednic e Klein, a exemplo do que aconteceria depois no Mundial 1990, o início da "Geração Dourada" da Roménia.

Apesar de ter conquistado apenas um ponto na fase final, em França, a simples presença revelou-se um feito notável. "Só marcámos nove golos nos oito jogos de apuramento", lembra o actual treinador do FC Shakhtar Donetsk. "Nessa altura, não podíamos dar-nos ao luxo de jogar para o espectáculo. A nossa única prioridade era ganhar."

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