Futebol chora morte de Puskás
sexta-feira, 17 de novembro de 2006
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A Hungria e o futebol europeu estão de luto com a notícia da morte de Ferenc Puskás, o "Major Galopante", aos 79 anos, vítima de doença prolongada.
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A Hungria e o futebol europeu estão de luto pela morte de Ferenc Puskás, um dos melhores jogadores de todos os tempos e a inspiração por detrás dos "Mágicos Magiares", em Budapeste, aos 79 anos, vítima de doença prolongada.
Triunfo em Wembley
Conhecido como o "Major Galopante", Puskás venceu campeonatos na sua terra natal ao serviço do Kispest Honvéd FC e em Espanha, no Real Madrid CF, onde também ergueu a Taça dos Clubes Campeões Europeus em três ocasiões. A nível internacional, Puskás e os seus companheiros húngaros ganharam a medalha de ouro no torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de 1952, seguindo-se vitórias históricas como o triunfo de 6-3 frente à Inglaterra, a 25 de Novembro de 1953, em pleno Estádio de Wembley. Alguns meses mais tarde, no Népstadion, os magiares provaram que esse resultado não tinha sido obra do acaso e aplicaram nova dose categórica, desta feita por expressivos 7-1.
Finalista vencido
Mais uma vez Puskás marcou dois golos e a série de jogos sem perder subiu para 28. Mas esta sequência iria ter um ponto final no momento menos oportuno, pois os húngaros seriam surpreendentemente derrotados por 3-2 pela República Federal da Alemanha na final do Campeonato do Mundo de 1954, partida que Puskás terminou em dificuldades, depois de ter sofrido uma lesão logo no início da prova.
Goleador nato
Em campo, como interior esquerdo, Puskás era a base do ataque magiar. Filho de um futebolista amador do Kispesti AC, Puskas aprendeu a jogar com o pai, embora tenha sido primeiro registado no clube com o nome de Miklós Kovács. Mas o nome falso depressa foi substituído pela sua alcunha de sempre, "Száguldó õrnagy" - o "Major Galopante" -, à medida que Puskás e o Kipest (o nome com que o Honvéd foi rebaptizado depois de se tornar no clube do exército húngaro) conquistaram cinco títulos em outras tantas temporadas. Puskás, que se estreou com apenas 15 anos, marcou um total de 154 golos em 179 presenças pelo clube no campeonato.
Recorde mundial
O registo de Puskás ao serviço da selecção revelou-se também impressionante. Marcou 84 golos, recorde mundial, em 85 internacionalizações, antes de acontecimentos políticos terem condicionado a sua evolução. Consequência da repressão soviética à revolta da Hungria, em Outubro de 1956, Puskás e alguns companheiros de selecção exilaram-se em Espanha. E Puskás não só jogou pelo Real Madrid sob as ordens do seu antigo treinador no Kispest, Emil Oestreicher, como após obter a dupla nacionalidade, actuou igualmente pela selecção de Espanha em quatro ocasiões.
Sucesso em Espanha
O sucedido foi sem dúvida motivo de enorme tristeza para os húngaros, que viram a sua valiosa selecção desmoronar-se aos poucos e o seu melhor jogador passar os últimos anos da carreira em solo espanhol. Para Puskás, contudo, o sucesso continuou com a conquista de sete campeonatos e três Taças dos Clubes Campeões Europeus ao serviço do Real Madrid. O ponto alto coincidiu com o seu recorde de quatro golos na vitória por 7-3 sobre o Eintracht Frankfurt, na final de 1959/60.
Rei Öcsi
Apesar da fisicamente baixo, entre os colegas de equipa, Öcsi - a sua outra alcunha, cujo significado é "irmão mais novo" - era rei. "Cada vez que chutava marcava dois golos", recorda Zoltán Czibor, companheiro de Puskás no Kispest e na selecção da Hungria. "Teve uma carreira em cheio na Hungria e deu-lhe continuidade em Espanha, com o Real Madrid", acrescenta Gyula Grosics, guarda-redes dos húngaros na altura. "É por isso que ele não é apenas um jogador de classe mundial, mas faz parte do imaginário de todos".
Muito viajado
Exilado da Hungria, Puskás regressou por momentos à sua terra natal em 1981, ironicamente para um jogo no Népstadion. A procura de bilhetes excedeu a lotação do estádio, completamente cheio para assistir ao encontro que apenas foi divulgado de boca em boca pelas ruas de Budapeste, uma vez que os jornais do país não podiam cobrir o encontro, devido ao regime político vigente à data. Mas Puskás, cuja carreira enquanto treinador passou por seis continentes, acabou mesmo por regressar de vez em 1990, a convite do Governo, quando o panorama político na Hungria virou em direcção à democracia.