Maniche volta a sorrir
sexta-feira, 6 de janeiro de 2006
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Alguns jogadores necessitam de determinados treinadores para tirarem deles o que melhor têm. A chegada de Maniche ao Chelsea de José Mourinho parece confirmar esta tese.
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Alguns jogadores parecem necessitar de determinados treinadores para tirarem deles o que de melhor têm, de verdadeiros mentores cujo estilo e táctica estejam ao seu serviço. A chegada de Maniche ao Chelsea FC de José Mourinho, por empréstimo do FC Dinamo Moskva, parece confirmar esta tese.
Ligação a Mourinho
Nuno Ricardo Oliveira Ribeiro – ou Maniche, por causa do antigo avançado dinamarquês do Benfica dos anos 80, Michel Manniche – teve sempre alto rendimento sob as ordens de Mourinho. Depois de uma aventura mal sucedida na Rússia, o reencontro com o homem a quem chama de “maestro” acontece numa altura crucial para o internacional português.
Transferência para o Dínamo
Mourinho marcou uma era no FC Porto e a sua saída em 2004, após a conquista da UEFA Champions League, deixou marcas. No caso de Maniche, coincidiu com o seu progressivo abaixamento de produção na equipa portista. Um ano mais tarde, juntamente com Costinha, seu companheiro na Invicta, transferiu-se para o Dínamo, que pagou por ambos 20 milhões de euros – 16 dos quais relativos a Maniche –, verba recorde na Rússia. Mas se a loucura cedo se instalou nas hostes locais, os 12 meses seguintes não fizeram mais do que trazer toda a gente de volta ao planeta Terra.
Fraco desempenho
Em Moscovo, e mesmo tendo a seu lado o seu irmão mais novo Jorge Ribeiro, Costinha, Derlei e o grego Seitaridis – estes três seus companheiros no FC Porto – Maniche nunca conseguiu atingir o brilhantismo anterior. Marcou dois golos em 13 desafios pela formação moscovita, que terminou afundada no oitavo lugar do campeonato. Para piorar a situação, a estada em Moscovo ficou marcada por declarações inflamadas e amplamente divulgadas naquelas paragens. “Não gosto do país, não gosto do campeonato, não gosto do tempo”, disse o jogador no auge do descontentamento. “Transmiti a minha insatisfação ao meu empresário e agora temos que chegar a um entendimento com o Dínamo. Não quero arranjar desculpas, mas se fosse hoje pensava duas vezes antes de deixar o FC Porto. O dinheiro não é tudo na vida." Assim, com a chegada de Yuri Semin ao comando técnico do clube de Moscovo e, mais tarde, o interesse de Mourinho, era claro o destino do médio de 28 anos.
Crescer no Benfica
Maniche nasceu em Novembro de 1977, em Lisboa, no bairro alfacinha da Boavista. Cresceu nas camadas jovens do Benfica e em 1998/97 seguiu por empréstimo para o FC Alverca, do escalão secundário. Passou três temporadas na equipa ribatejana: na primeira ajudou a evitar a descida de divisão; na segunda participou na subida ao escalão maior; na terceira estreou-se no principal campeonato português. De regresso ao Estádio da Luz, ganhou um lugar na primeira equipa do Benfica e nessa temporada (1999/00) marcou dez golos em 28 jogos.
Caminhos cruzados
Já se jogava a campanha seguinte quando Maniche teve o primeiro contacto com Mourinho, a viver no Benfica a sua primeira experiência como treinador principal. Apesar do reinado do actual líder do Chelsea nos "encarnados" ter durado apenas alguns meses (nove jogos), Maniche desde logo impressionou o técnico. Mas estava escrito que os caminhos de ambos haveriam de se cruzar novamente.
Êxito no Porto
Dois anos volvidos, quando parecia que a carreira de Maniche tinha estabilizado, o clube da Luz enviou-o para a equipa B. Mourinho, pelo contrário, vivia um período ascensional e no Verão de 2002 levou Maniche par o FC Porto. Esquecido no clube da Segunda Circular, rapidamente se tornou num dos melhores médios portugueses e referência no miolo do terreno, tendo papel fundamental na equipa de Mourinho que venceu dois títulos nacionais, uma Taça de Portugal e uma Super Taça portuguesa, além dos memoráveis triunfos na Taça UEFA de 2002/03 e na UEFA Champions League de 2003/04.
Distinções internacionais
Em Março de 2003, o agora atleta do Chelsea vestiu pela primeira vez a camisola da selecção nacional, na vitória (2-1) sobre o Brasil. Opção indispensável para Luiz Felipe Scolari durante seis meses, Maniche deixou subitamente de o ser a partir do desaire caseiro frente à Espanha (3-0) e tudo indicava que iria ficar de fora do UEFA EURO 2004™. No entanto, quando Scolari anunciou os 23 eleitos, o seu nome constava da lista. Durante a competição, Maniche ganhou definitivamente o estatuto de estrela como um dos melhores na sua posição e, além de ter apontado o melhor tento do evento na meia-final diante da Holanda, seria incluído no "onze" ideal da UEFA.
Estranho desaparecimento
Mas essas foram as glórias. Passado um ano aconteceu a transferência para Moscovo onde, apesar de titular na equipa de Portugal que garantiu a qualificação para o Mundial de 2006 - num grupo onde também estava a Rússia - Maniche pareceu nunca se ter adaptado. O chamamento de Mourinho veio então na melhor altura.
"Jogador histórico"
Enquanto o médio aguardava pela concretização do negócio, Mourinho vincou a sua preferência: "Não escondo que quero o Maniche e que ele pode tornar-se num jogador histórico na minha carreira - o único a ser treinado por mim em três clubes diferentes: Benfica, FC Porto e Chelsea." Na apresentação, Maniche devolveu o elogio: "Mourinho é a razão da minha vinda - ele queria-me há algum tempo. É o meu maestro." Se ainda há, para o Chelsea, títulos a conquistar, recordes a bater, enfim, patamares elevados por atingir, o renascer da dupla Maniche-Mourinho pode bem servir de catalizador.