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“No futebol, tudo acontece no meio e quando se controla o centro do campo, controla-se o jogo e eles tinham mais jogadores aí.” Com estas palavras após o jogo, o treinador do Man City, Pep Guardiola, articulou o que considerou ser o cerne dos problemas da sua equipa na derrota frente ao Paris Saint-Germain na noite de quarta-feira.

Análise: João Neves brilha com e sem bola

Como Guardiola afirmou, este foi um confronto em que os campeões franceses tiveram regularmente um homem a mais na construção de jogo e, a partir daí, foram capazes de colocar ao City perguntas às quais este teve dificuldade em responder.

Como fica demonstrado por este gráfico sobre as posições médias com bola no terço defensivo/médio, a equipa de Luis Enrique conseguiu ter mais elementos no centro na fase de construção – frequentemente, um 5 contra 4 através dos seus defesas-centrais Marquinhos e Willian Pacho, apoiados pelos médios Vitinha, João Neves e Fabián Ruiz.

City luta contra o homem a mais do Paris

Contra esse quinteto, o City teve dificuldade em exercer pressão, como podemos ver no primeiro vídeo acima. Assim, o Paris conseguia regularmente encontrar o homem de reserva e, por sua vez, libertar os seus perigosos extremos no espaço.

No segundo excerto, por exemplo, vemos Guardiola a dar sinais aos seus jogadores para avançarem com mais intensidade sobre os adversários, mas nem Phil Foden nem Matheus Nunes conseguem aproximar-se o suficiente dos seus homens – Nuno Mendes e Kang-in Lee, respectivamente – para os impedir de trabalhar a bola para a esquerda, criando mais uma oportunidade de um contra um para o extremo.

O terceiro vídeo destaca as dificuldades do City em lidar com o homem a mais do Paris – neste caso, Ruiz. Quando Foden salta em direcção a Nuno Mendes, Manuel Akanji é obrigado a deixar a linha defensiva para seguir Ruiz. A consequência é que Matheus Nunes fica no um contra um com o perigoso Bradley Barcola, que acorre ao espaço atrás dele para fazer a assistência para o primeiro golo da equipa da casa.

O exemplo de Akanji serve para ilustrar os riscos de os centrais entrarem no meio-campo, o que pode expor os defesas (normalmente os laterais) a situações de um contra um em grandes espaços, e voltaremos a este assunto mais tarde com uma reflexão do observador técnico da UEFA, Roy Hodgson.

Se os vídeos mostram a intenção do Paris de fazer chegar a bola ao seu jogador da ala, o gráfico acima evidencia o grau de utilização dos flancos, com 82% dos seus passes para o último terço a serem efectuados para esses locais do campo.

Os extremos do Paris

O próximo ponto diz respeito ao que aconteceu depois de o Paris ter encontrado os seus alas. Na primeira parte, os parisienses não conseguiram colocar jogadores suficientes na área para capitalizar – como se pode ver no primeiro excerto deste segundo vídeo, quando nenhum dos seus jogadores se aproxima do cruzamento rasteiro de Achraf Hakimi. Como mostram este e os vídeos seguintes, houve falta de movimentação e urgência por parte dos jogadores da casa dentro e nas imediações da área antes do intervalo. Consequentemente, não foram capazes de converter essas oportunidades de ataque em entradas na grande área.

No entanto, isso mudou na segunda parte, com uma alteração de atitude dos jogadores de Luis Enrique, que passaram a mostrar mais intenção com dribles, arrancadas e acções positivas dentro da área do City. Além disso, a influência de Barcola cresceu, assim como o ataque do Paris pelo lado esquerdo, como mostra o gráfico acima.

Os dados acima mostram que a partir dessa altura houve também um aumento no número médio de jogadores parisienses que atacaram a área (de 3,71 para 4,2), juntamente com uma subida no xG (de 0,56 para 1,86). Apesar de todos os pormenores tácticos de um jogo de futebol, um requisito básico para marcar golos é fazer entrar jogadores na área adversária. E agora o Paris estava a fazer isso.

A urgência do Paris

Este vídeo oferece vários exemplos desta maior urgência, começando com um clipe de abertura que mostra cinco jogadores parisienses na área (incluindo dois no limite da pequena área) quando Ousmane Dembélé entra pela direita, escapa a um defesa e remata à baliza. Da mesma forma, no segundo excerto, o facto de haver cinco jogadores na área quando o pontapé de Désiré Doué ressalta da barra faz permite que um deles – Barcola – aproveite para fazer o golo do empate.

Como se pode ver no terceiro vídeo, no qual ele cria o primeiro golo do Paris, Barcola foi sempre uma ameaça perigosa para o City, como se pode ver no gráfico abaixo. Terminou o jogo com o maior número de duelos a ir para cima do adversário (sete) e o segundo maior nas incursões de bola no último terço.

A lição de Roy Hodgson sobre o desenvolvimento do jogador

Voltando à ameaça do Paris, o jogo de quarta-feira ofereceu uma lição importante sobre a defesa um contra um e o espaço atrás.

Este foi um tema explorado pela unidade de análise da UEFA na época passada, quando Roberto Martínez sugeriu que os treinadores da formação deveriam passar mais tempo com os jovens defesas a trabalhar a sua capacidade no um contra um, uma vez que “o jogo europeu está a evoluir no sentido de os jogadores se tornarem melhores no um contra um”.

Continua a ser um tema pertinente, como demonstra o exemplo de Akanji no primeiro golo do Paris, que mostrou o risco de um defesa-central entrar no meio-campo, tendo em conta como Matheus Nunes ficou depois demasiado exposto. De acordo com outro observador da UEFA, Roy Hodgson, há um desafio que os treinadores enfrentam para manter o equilíbrio defensivo enquanto pressionam agressivamente – e isso merece muita atenção ao nível do desenvolvimento.

Hodgson já falou esta época sobre a forma como os defesas devem cobrir-se uns aos outros – citando o exemplo de Stefan de Vrij, do Inter, na Jornada 6 – e aqui voltou ao desafio de marcar o homem enquanto se mantém a ligação aos companheiros de defesa.

“Hoje em dia, para um defesa, é importante compreender as distâncias – a distância em relação ao avançado e a distância em relação ao seu companheiro de equipa”, afirmou o antigo treinador inglês. “É preciso avaliar a situação – é correcto entrar em duelo e empurrar o jogador ou manter a posição?

“Hoje em dia, muitos treinadores dão instruções aos defesas para seguirem um determinado jogador adversário. Mas é importante que sejam os próprios jogadores a avaliar a situação. Se estão a sair do seu espaço para entrar no meio-campo, quais são os riscos potenciais? O adversário pode libertar um jogador atrás de si?

“Estas são decisões que os jogadores têm de tomar e, no contexto do desenvolvimento dos jogadores, sugiro que os treinadores dos escalões jovens tenham isto em mente, pois é essencial que se mantenha a distância certa entre o adversário e o seu companheiro de equipa.”