Benedito fala do Sporting de coração aberto
quarta-feira, 22 de abril de 2015
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João Benedito recorda as fases finais anteriores do Sporting, fala da meia-final com o Barcelona e explica o que significa o clube para si.
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A primeira edição da Taça UEFA Futsal terminou numa fase final com oito equipas em que o Sporting Clube de Portugal foi anfitrião no local agora conhecido como Meo Arena, em Lisboa. Agora, o mesmo clube e o pavilhão acolhem novamente o evento a partir de sexta-feira.
O guarda-redes e capitão do Sporting, João Benedito, participou nessa edição inaugural de 2001/02, na qual os "leões" caíram nas meias-finais diante dos espanhóis [e mais tarde campeões] do Playas de Castellón FS. Novo derby ibérico está marcado para sexta-feira, quando o Sporting defrontar o Barcelona nas meias-finais, fase em que a equipa da Catalunha bateu a de Benedito em 2012, em Lleida, um ano depois de os "verde-e-brancos" terem sido segundos classificados em Almaty. Entre outros assuntos, Benedito recordou ao UEFA.com as anteriores fases finais, incluindo a dolorosa derrota na final de 2011 frente ao ASD Città di Montesilvano C/5, de Itália, isto após o Sporting ter derrotado o anfitrião Kairat Almaty.
Sobre a primeira fase final em 2002...
"Foi um evento fantástico. Algo de muito novo para a grande maioria dos atletas presentes, falando só na nossa equipa. Nessa altura, poucos eram os jogadores que tinham disponibilidade total para treinar, havia gente que trabalhava, muitos estudavam e nunca tínhamos vivenciado o que era ser profissional na verdadeira acepção da palavra."
"Uma semana antes treinámos que nem malucos, andávamos cansados e havia inclusive jogadores que nunca tinham estado num hotel ou em estágio. Há um episódio muito curioso com um jogador que recentemente até jogou futebol contra o Sporting no [FC] Vizela, o nosso querido Fininho [Hugo Miguel Pereira Cardoso]. Quando viu aquele pequeno-almoço todo fartou-se de comer. Depois chegou ao treino e as coisas não correram muito bem."
"Achámos estranho estar no Pavilhão Atlântico e acredito que isso também aconteceu a muita gente. Foi aí que muita gente começou a tomar contacto com o futsal. De dia para dia víamos o pavilhão cada vez mais cheio e notávamos que estava ali a acontecer alguma coisa importante. Infelizmente não conseguimos chegar à final, perdemos na meia-final com um clube que em 2006/07 foi o meu, o Playas de Castellón - uma equipa fantástica. Lembro-me perfeitamente de ver os jogadores brasileiros do Playas, habituados àquelas andanças, e aquilo para eles foi quase como um passeio."
Sobre 2011...
"É um ponto muito complicado e muito sensível de abordar. Costumo dizer que quando ganhámos em Odivelas ao ElPozo [Murcia na Ronda de Elite], passo o respeito pelas outras duas equipas, o Kairat e o Montesilvano, tínhamos conquistado o troféu e íamos levantá-lo a Almaty, ainda mais com aquela meia-final que fizemos [vitória de 3-2 contra o anfitrião Kairat Almaty]. E fomos surpreendidos. Qualquer atleta, treinador e dirigente que participou, e até mesmo os nossos adeptos, sentiu que aquela poderia ter sido a nossa oportunidade de conquistar a Taça UEFA Futsal e tornar o Sporting campeão da Europa. Foi um momento muito triste e muito complicado de viver o que depois se passou, os dias seguintes…"
"Lembro-me perfeitamente que na semana seguinte jogámos a 'final four' da Taça de Portugal, mas a nossa cabeça não estava cá, estava ainda no que se tinha passado. Entrámos no jogo e tivemos uma bola no poste, num remate do [Pedro] Cary mais ou menos dos 10 metros e a seguir foi uma hecatombe, nada nos correu bem."
Sobre 2012...
"Em 2012, saímos derrotados e a saber que pouco mais poderia ter acontecido dadas as contingências daquele jogo, como nos apresentámos e como o Barcelona nos conseguiu vencer. Ficou talvez o sabor agridoce de que poderíamos ter feito algo mais nos penalties contra a equipa italiana [Marca Futsal] e conquistado o terceiro lugar. Mas havia algumas mazelas psicológicas em relação ao jogo das meias-finais."
Sobre a equipa do Sporting em comparação à dessa altura...
"Houve um processo de reestruturação e de contenção de custos por parte do clube que tocou também à equipa de futsal, porque alguns jogadores importantes e com grande peso no clube saíram durante estes últimos dois anos. Este ano temos uma equipa menos experiente a esse nível, mas que tem dado provas de que sabe conviver com esses momentos e sabe superar-se nessas alturas. Por isso, penso que o futuro pode ser muito favorável a esta equipa."
Sobre defrontar o Barcelona na sexta-feira…
"O Barcelona é uma equipa extremamente forte. É um colectivo recheado de grandes jogadores, de bons treinadores e com uma estrutura muito parecida à do Sporting. Um grande clube, ecléctico, que põe à disposição de uma modalidade todas as suas valências, capacidades organizativas e técnicas, as suas infra-estruturas… aliando a isso um orçamento muito bom: a aquisição de jogadores também é feita de forma profissional e num patamar elevado. O Barcelona, sem dúvida, tem uma excelente equipa, mas nós também temos e são cinco contra cinco…"
Sobre o seu percurso no Sporting...
"Já são 20 anos neste clube. É um casamento que dura enquanto atleta há muitos anos, porque como adepto foi desde sempre. Tenho raízes aqui. O meu avô trabalhou no clube, o meu pai também e, posteriormente, eu vim a ser atleta. Isto tem significado especial porque a minha ligação ao Sporting vem de vários locais: adepto, sócio, jogador. Esta sensação, poucos a conseguem ter. Não é exigido, o que se pede é que as pessoas sejam profissionais, mas tenho claramente esse privilégio de conseguir festejá-lo e vivê-lo em mais campos."
"É difícil por vezes o autocontrolo, porque separar o adepto do atleta não é muito fácil, mas acho que o tenho feito, para mais nestes últimos anos em que tenho sido capitão de equipa. Acho que os capitães de equipa devem ser avaliados pelos títulos que conquistam e penso que o saldo tem sido positivo. E não escondo o orgulho, assumido, que me invade em muitos dias da minha vida por representar o Sporting."
Sobre imaginar-se a erguer o troféu...
"Já me passou várias vezes pela cabeça noutras 'final four' em que estivemos presentes. Confesso que este ano tento retirá-lo da memória e não pensar. Se das outras vezes pensei e não o levantei, espero que desta vez, com alguma superstição, não pensando possa acontecer na realidade. Estou numa fase avançada da minha carreira e gostava, sem dúvida, enquanto atleta, de dar ao clube o único troféu que ainda não consegui. Gostava de deixar essa marca."