Francisco Neto fala sobre Portugal e a estreia no EURO Feminino
sexta-feira, 14 de julho de 2017
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Antes da estreia de Portugal no UEFA Women's EURO 2017, Francisco Neto fala dos momentos altos da qualificação, aborda o crescimento do futebol feminino no país e perspectiva o torneio da Holanda.
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Antes da estreia absoluta de Portugal no UEFA Women's EURO 2017, na terça-feira, frente à Espanha – num Grupo D que inclui ainda a Escócia e a Inglaterra –, o seleccionador Francisco Neto, de 36 anos e no comando da selecção desde Fevereiro de 2014, fala dos momentos altos da qualificação, aborda o crescimento do futebol feminino em Portugal nos últimos anos e perspectiva o torneio da Holanda.
"Queremos mostrar que não foi por acaso que chegámos ao Campeonato da Europa, mas sim por mérito próprio", afirmou Francisco Neto sobre o que espera de Portugal, país com o ranking mais baixo entre os presentes, no primeiro torneio com 16 participantes.
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O que significa ser o treinador que levou Portugal à primeira fase final do EURO Feminino?
É uma honra muito grande, mas não é um trabalho só do treinador, é de um enorme conjunto de pessoas e de todo o staff da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Sermos os primeiros a atingir um objectivo muito difícil foi algo que nos levou para outro patamar quanto ao nível de satisfação e de dever cumprido.
Quais os momentos cruciais na qualificação de Portugal?
Penso que foi a Algarve Cup, no ano passado, curiosamente com quatro derrotas, porque as jogadoras mostraram que algo estava diferente. Deram uma resposta bastante positiva contra equipas muito mais fortes e só os resultados não apareceram... Posso também referir a parte final da época, com o segundo tempo que fizemos frente à Espanha [derrota em casa por 4-1], a ida a Montenegro [vitória por 3-0] e o empate [0-0] na Finlândia que deixou tudo em aberto [faltava receber as finlandesas e viajar à República da Irlanda].
Como foi bater a Finlândia por 3-2 após estar a perder por 2-0 e depois a Roménia no “play-off” [total 1-1, Portugal apurado devido ao golo fora]?
Foi um mês de loucos! [Em Setembro, nos últimos dois jogos de qualificação, Portugal venceu a Finlândia a 16 e, quatro dias depois, fez o mesmo na Irlanda, garantindo o apuramento para o “play-off”.] Não podíamos perder aquele jogo com a Finlândia. Ganhámos com todo o mérito – a partir dali nada nos podia parar. Depois de virarmos um jogo daqueles, era impossível não estarmos no Europeu e isso foi também uma força extra para as jogadoras.
Com a Roménia [em Outubro], após o empate a zero em Lisboa, num jogo em que falhámos um penalty, acabámos por ser felizes e trazer de lá o empate que foi suficiente para nos qualificarmos, mas com todo o mérito. Foi um Portugal ao mais alto nível, cheio de carácter.
E o que podemos esperar de Portugal neste EURO Feminino?
Nunca estivemos tanto tempo juntos, mas o bom relacionamento que se vive neste grupo é algo que nos tranquiliza. As jogadoras sentem que são uma família. Somos bastante unidos.
Elas têm vindo a interiorizar o que significa “jogar à Portugal”, característica que queremos que exista desde a formação. Trata-se de fazer um jogo de paixão, de querer, de carácter, de não ter receio dos adversários, de procurar assumir o jogo e, ao mesmo tempo, sentir-se confortável quando não se domina. Vamos ter de saber sofrer, passar algum ou muito tempo sem bola, e depois ter qualidade no que fazemos. Queremos mostrar que não foi por acaso que chegámos ao Campeonato da Europa Feminino, mas sim por mérito próprio.
Porque demorou Portugal tanto tempo a chegar a este nível no futebol feminino?
Com a implementação do plano estratégico por parte da FPF, de há cerca de três anos a esta parte, estamos a tentar aumentar o número de praticantes. Temos cerca de 3500 jogadoras, enquanto em Inglaterra, nossa adversária no Europeu, há quase 110.000 – o poder de escolha é completamente distinto. Isto faz com que tenhamos de fazer um trabalho de base muito maior e isso tem sido feito – temos neste momento três selecções de formação, Sub-16, Sub-17 e Sub-19.
As jogadoras chegam também de clubes cada vez mais organizados e com estruturas profissionais, têm melhores condições e disputam campeonatos cada vez mais competitivos, mesmo em Portugal.
Definimos como caminho a seguir situações em que defrontamos as melhores equipas, em que tentamos superar-nos a cada momento, muitas vezes expondo-nos à situação de não conseguir resultados positivos. Felizmente a FPF percebeu que neste primeiro momento era preferível abdicar dos resultados e aumentar a competitividade. Parece estar a dar frutos porque estamos no EURO Feminino, mas é importante, e é o nosso objectivo – e o que para nós irá balizar este crescimento do futebol feminino –, conseguirmos ser cada vez mais constantes nas presenças em fases finais do Campeonato da Europa. O Campeonato do Mundo é sempre muito difícil, mas poderá igualmente ser possível.
Como vai ser defrontar a Espanha na estreia?
A Espanha é uma equipa fortíssima. Apurou-se com o melhor desempenho dos grupos: mais golos marcados, menos golos sofridos e só vitórias. Gosta de ter a bola, de tirá-la ao adversário, de controlar o jogo e isso vai criar-nos alguns problemas, mas os dois jogos na fase de grupos [derrotas por 4-1 e 2-0]serviram também para as conhecermos melhor.
Segue-se depois a Escócia e a Inglaterra. O que nos pode dizer sobre a dupla britânica e sobre o torneio de 2017?
Não serão jogos fáceis. A Escócia vale mais pelo colectivo, pois é não tão forte individualmente, mas até ao fim do jogo não dá um lance por perdido. É uma equipa tipicamente britânica, com um tipo de jogo muito físico.
A Inglaterra foi terceira classificada no último Campeonato do Mundo Feminino! Renovou-se com a entrada do novo seleccionador [Mark Sampson, apresentado em Dezembro de 2013] e é muito forte em todos os sectores.
No geral, penso que vai ser um Campeonato da Europa muito equilibrado e cheio de qualidade. Com tantos títulos, a Alemanha será sempre candidata, mas também Inglaterra, Espanha, França, Suécia e a anfitriã Holanda.