Exclusivo com Luís Castro: o Shakhtar e a Europa League
quarta-feira, 5 de agosto de 2020
Sumário do artigo
Luís Castro falou ao UEFA.com sobre o Wolfsburgo e as possibilidades do Shakhtar na UEFA Europa League, bem como da eliminatória anterior com o Benfica.
Conteúdo media do artigo

Corpo do artigo
Numa altura em que prepara o regresso do Shakhtar à UEFA Europa League, esta quarta-feira, frente ao Wolfsburgo, em jogo da segunda mão dos oitavos-de-final, o treinador português Luís Castro fala ao UEFA.com da paragem imposta pela pandemia da COVID-19, do embate com os alemães, que a sua equipa lidera após a vitória fora por 2-1 e das possibilidades dos ucranianos na competição, não esquecendo ainda a eliminatória anterior com o Benfica.
A pandemia e o que ela obrigou a mudar
É impossível adaptar-nos com sucesso, porque o mundo é perfeito: os horários são cumpridos, o planeamento está feito, os jogos são a uma determinada hora e devem começar à hora determinada, os estádios estão cheios, há toda essa atmosfera. E o que temos agora é que os planos estão constantemente a mudar, os estádios não têm alma, não têm espectadores. Temos um mundo totalmente diferente daquele a que estávamos habituados. Temos agora de fazer com que os jogadores se adaptem a estádios vazios, a máscaras, a distanciamento social, a novas formas de comunicação para tudo o que está a acontecer. Pelo menos temos o conforto de saber que é tudo temporário.
Como Luís Castro lidou com este período
Quando tudo aconteceu, pensamos em ficar em casa, ver uns filmes e ler uns livros, mantendo-nos actualizados, mas ler um livro ou ver um filme ou um documentário só faz sentido se estivermos a trabalhar, pois isso dá-nos equilíbrio. Mas tudo isso deixa de fazer sentido ao fim de três ou quatro dias. Queremos treinar, trabalhar, ter contacto social – ter a nossa realidade de volta. E é algo que não afecta apenas os jogadores, os treinadores também sentiram muitas dificuldades para lidar com tudo isto.
Treinar no estrangeiro pela primeira vez
A vida de um treinador é sempre aprender e ensinar. É assim que trabalhamos e é assim que seguimos um caminho que não é pré-feito, mas que precisamos de construi-lo nós próprios. A maneira como olho para o futuro é com essa ideia de criar o meu próprio caminho. O que fiz até agora não é diferente do que havia feito antes de chegar à Ucrânia e ao Shakhtar.
Tento ultrapassar todas as dificuldades que possam surgir em qualquer altura e ensinar os jogadores a jogar da melhor maneira possível, praticarem um jogo que todas as pessoas gostem. Eu tento desenvolver todos os meus jogadores como indivíduos, mas também num contexto de equipa, compreendendo a abordagem comercial do futebol e a forma como os jogadores se desenvolvem, pois estamos à mercê dos resultados. Alguns jogadores que gostamos têm de sair e temos que contratar outros.
A eliminatória contra o Benfica
Esse jogo obrigou-nos a colocar de lado o factor emocional como equipa técnica portuguesa. Tínhamos um desafio muito difícil pela frente. Não gostaríamos de defrontar uma equipa do nosso país, mas foi isso que ditou o sorteio, pelo que tivemos de dar tudo para continuar na competição.
Assim, tivemos de analisar e compreender o sector ofensivo muito forte do Benfica e tentar encontrar os seus pontos menos fortes. O jogo da Europa League foi o nosso primeiro e isso deu-nos vantagem – sempre disse que seria uma vantagem para nós. Enquanto o Benfica teve de preparar o jogo contra o Shakhtar nos três dias seguintes ao jogo do campeonato, nós fomos capazes de começar a prepará-lo na pré-época. Dizia-se que era uma desvantagem, pois vínhamos de uma longa paragem e ainda estávamos na pré-temporada. Sempre disse que não era assim. Pelo contrário, fomos para o jogo frescos do ponto de vista mental e físico.
Fizemos um bom trabalho e, felizmente, as coisas correram bem. Encontrámos um Benfica forte, em especial na primeira parte. Embora tenhamos jogado melhor na primeira e na segunda partes da primeira mão, não fomos a melhor equipa na primeira metade em Lisboa. Fomos a melhor na segunda. Se dividirmos a eliminatória a duas mãos com o Benfica em quatro partes, vencemos três e perdemos uma.
A primeira mão contra o Wolfsburgo
Sentimos que éramos a melhor equipa e estávamos cada vez mais confiantes em nós próprios. Quando não conseguimos marcar o penálti [que daria o 2-0], o Wolfsburgo voltou ao jogo, falhou também um penálti, mas fez o empate no início da segunda parte. Esse foi um momento decisivo da partida. Sabíamos que depois de sofrer o empate, no começo da segunda parte, num jogo com um estádio cheio, os adeptos teriam empurrado a sua equipa para a vitória.
Mas, naquele momento, conseguimos recuperar a nossa forma de jogar e voltámos a tomar conta do jogo. Conseguimos criar espaços no último terço e marcámos o segundo golo. A partir do momento em que fizemos o 2-1, graças ao golo do Marcos António, num livre do Alan Patrick, o Wolfsburgo reagiu e tivemos de sofrer para segurar o resultado. Mas é assim que são os jogos de futebol. Tivemos bons momentos em que conseguimos ter ocasiões para marcar, mas felizmente o Wolfsburgo falhou as que teve e conseguimos o resultado que queríamos.
As ambições do Shakhtar na Europa League
Quando digo que o Shakhtar tem como objetivo chegar à final, esse também é o objectivo de todos os outros clubes na Europa League. Muitas vezes pensamos que, ao dizer que aspiramos a algo, todos os outros não existem e não há mais ninguém. Não, todas as outras equipas estão a tentar chegar à final. Não há um único treinador que ainda esteja envolvido na Europa League que não tenha como objetivo chegar à final, mas tudo depende de muitos factores. Quem se apurar para os quartos-de-final vai jogar a uma só mão; quem chegar às meias-finais jogará a uma só mão. Vai ser uma “final da taça” atrás de outra. As finais são únicas porque são disputadas num só jogo, mas agora os "quartos" e as "meias" também o vão ser, o que faz deles também uma final.
Por isso, e antes de mais, queremos eliminar o Wolfsburgo; esse tem de ser o nosso primeiro objectivo. Se isso acontecer, depois vamos pensar no que podemos fazer na competição. Mas ao olharmos para quem está em prova, temos Roma, Sevilha, Inter, Manchester United, Copenhaga e muito mais.