Roger Schmidt sobre a Champions League, engenharia mecânica e os problemas da língua
quinta-feira, 29 de dezembro de 2022
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"É entusiasmante e um enorme prazer para mim", diz o treinador do Benfica, Roger Schmidt, isto numa altura em que a sua equipa entra em 2023 com uma invencibilidade que já dura há 28 jogos.
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Contratado como treinador do Benfica em Maio, Roger Schmidt protagonizou um extraordinário arranque em Lisboa, com a equipa encarnada a conquistar o seu grupo da UEFA Champions League e a liderar a Liga portuguesa mercê de uma invencibilidade em todas as competições que já dura há 28 jogos (23 vitórias e cinco empates).
Tendo jogado nas ligas inferiores enquanto trabalhava como engenheiro mecânico, Schmidt foi progredindo como treinador, comandando o Salzburgo, o Bayer Leverkusen e o PSV Eindhoven antes de assumir o comando do Benfica. O técnico de 55 anos falou com o UEFA.com e abordou a sua carreira.
Sobre a adaptação no Benfica
A qualidade de vida em Portugal, e particularmente em Lisboa, é muito elevada. Eu já sabia disso. O que eu não sabia é que as pessoas fazem-nos sentir em casa de uma forma muito rápida. Não foi preciso muito tempo para haver um excelente entendimento entre mim e os meus jogadores, sendo que também fizemos algumas boas contratações. O sucesso gera confiança e, com isso, acabamos por entrar no ritmo certo.
Como é que se transmite ideias complicadas aos jogadores num novo idioma? Eu não consigo fazer isso! Não consegui aprender português num tão curto espaço de tempo. É óbvio que agora estou, passo a passo, a trabalhar nisso, mas acho que o inglês funciona muito bem em Portugal: quase todos os portugueses falam inglês e, na minha experiência de treinar no estrangeiro ao longo dos últimos anos, a tradução nunca foi um problema.
Sobre a fase de grupos da Champions League
Tivemos claramente um sorteio complicado, já que nos calhou a Juventus, o Paris e o Maccabi. Para começar, não era importante para nós terminar em primeiro ou segundo, mas é óbvio que, na recta final, sentimos, principalmente depois dos dois jogos contra o PSG, que o primeiro lugar era alcançável. Era improvável na última jornada, já que o Paris não podia vencer a Juventus e nós tínhamos de bater o Maccabi. Obviamente, tivemos um pouco de sorte ao marcar os golos na altura certa. Faz uma grande diferença ser primeiro ou segundo no sorteio e também jogar em casa na segunda mão.
Mostrámos que somos capazes de concentrar-nos num jogo de cada vez e, claro, faremos isso também na fase a eliminar. Temos pensado jogo a jogo durante toda a temporada; tentamos dar o nosso melhor em todas as competições e jogar da melhor forma possível. Só é possível fazer isso quando se encara sempre o próximo jogo como o mais importante.
Sobre como o seu trabalho como engenheiro mecânico influenciou a sua carreira no futebol
Podemos retirar algo de tudo o que fazemos nas nossas vidas. Como engenheiro, era uma tarefa muito diferente, mas a ideia de trabalhar em projectos e trabalhar em equipa para concluir esses projectos e fazê-los funcionar é muito semelhante ao futebol. Acho que essas experiências ajudam-nos sempre na vida e é por isso que eu realmente gostava de jogar futebol naquela época e trabalhar, ao mesmo tempo, como engenheiro.
Não foi uma desvantagem para mim começar a trabalhar como treinador um pouco mais tarde – passando pelas várias fases, começando como treinador no futebol amador e acumulando experiências. No futuro, essa experiência ajuda, especialmente quando se treina futebol profissional ao mais alto nível.
Sobre misturar a juventude com a experiência
A dupla de centrais formada pelo Nico Otamendi e pelo António Silva é o reflexo da nossa equipa: um jogador que passou pelos vários escalões da nossa academia e um jogador que já jogou pelo Manchester City e pela selecção argentina, e que conquistou muito. O grande desafio é juntar com sucesso todas essas diferentes vivências.
Dominar esse desafio, acompanhar esses jogadores e liderá-los tem muito a ver com o facto de já se ter passado por essas situações e ser possível envolvermo-nos com esses jogadores e acompanhá-los. É claro que um jogador jovem precisa de mais informações e conselhos tácticos, ao passo que um jogador experiente só necessita de instruções específicas. Mas é entusiasmante e um enorme prazer para mim.