Darwin Núñez em foco: Dos sonhos de criança ao "privilégio" de jogar no Benfica
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022
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Numa entrevista exclusiva ao UEFA.com, Darwin Núñez fala das raízes em Artigas (Uruguai), da infância difícil, da importância da família e dos ídolos que via na UEFA Champions League e que um dia queria imitar.
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Chegado ao Benfica no Verão de 2020, depois de uma boa época no Almería, da segunda divisão de Espanha – a sua primeira na Europa –, o avançado Darwin Núñez, de 22 anos, falou em exclusivo ao UEFA.com sobre as raízes passadas em Artigas (Uruguai), a infância difícil, a importância da família e os ídolos que via na UEFA Champions e que um dia queria imitar.
Autor de 23 golos em 28 jogos disputados esta temporada pelas Águias em todas as competições, três em seis na Champions League, Darwin – actual melhor marcador da Liga portuguesa com 18 tentos em 19 partidas – é uma das esperanças do Benfica para contrariar o poderio do Ajax nos oitavos-de-final da Champions League, cuja primeira mão arranca esta quarta-feira em Lisboa.
Darwin Núñez no Benfica
2021/22: 28J 23G 2A
2020/21: 44J 14G 11A
Como foi crescer em Artigas e que papel teve a cidade na sua formação?
Bem, Artigas é a minha cidade natal, é onde nasci. É uma cidade que estará sempre no meu coração. Tive de deixá-la – e à minha família também –, quando era ainda jovem, porque o meu sonho era ser jogador de futebol. Mas lembro-me que quando tocava a campainha para a saída na escola a primeira coisa que eu fazia era pegar numa bola e correr para o campo para jogar com os meus colegas.
Ainda hoje, quando volto a Artigas, digo sempre que tenho muitos sítios bonitos para visitar nas minhas férias, mas prefiro estar com os meus amigos e familiares, porque me traz muitas recordações. Falamos sobre quando éramos crianças e isso enche-me de energia positiva.
Esse espírito de amizade e solidariedade ensinou-lhe algo de que agora tire partido na sua carreira?
Sim, claro. Quando era mais novo o que mais queria era pegar numa bola e ir jogar, e tive sempre muito apoio por parte dos meus avós e dos meus pais, que me levavam aos treinos. O meu pai trabalhava na construção civil e passava oito ou nove horas a trabalhar durante o dia. A minha mãe trabalhava de manhã como empregada doméstica. Desde criança que sonhava chegar onde estou hoje e agradeço a Deus por isso. É um privilégio estar agora aqui, num grande clube europeu como o Benfica. Agradeço de todo o coração à minha família por sempre me ter apoiado. No fundo, ainda sou a mesma criança. Não mudei, nem nunca vou mudar. Ainda sou o mesmo Darwin desde criança: sempre humilde e com os pés no chão.
Ainda se lembra dos seus primeiros pontapés na bola?
Sim, foram momentos maravilhosos. Lembro-me que a primeira vez que chutei uma bola foi no campo do Piratas [Juniors FC], onde jogava o meu irmão mais velho. Ele foi uma pessoa-chave para mim quando eu era mais novo, sempre me ajudou. Ele também chegou a ser futebolista profissional, no [Club Atlético] Peñarol, mas parou de jogar devido a problemas familiares, embora tivesse muita habilidade. Para mim, é meu irmão, meu amigo e sempre me apoiou. Ser-lhe-ei grato para sempre.
Muito poucas pessoas assim tão jovens podem oferecer uma casa aos pais. Será certamente um motivo de orgulho e satisfação para si...
Sim! Amo os meus pais por tudo que fizeram por mim quando era criança. Sempre que não havia comida suficiente a minha mãe dava-nos a dela e eu dizia sempre que quando me tornasse futebolista profissional, com dinheiro suficiente para comprar uma casa, lhe daria uma como presente. E assim que me transferi para o Almería foi o que fiz: comprei seis hectares de terra e dei-lhe.
Quando ainda estava no Uruguai e via jogos da Champions League, quem era o seu ídolo?
[Edinson] Cavani. Ele tem uma estrutura física parecida comigo e somos muito semelhantes a vários níveis. Estava sempre a ver vídeos dele no YouTube. É verdade que geralmente não assistia aos jogos dele, mas via como se movimentava no YouTube, as suas diagonais. E também observei muito o [Luis] Suárez. Seguia-os com especial atenção porque são do Uruguai e são também humildes. A formação deles é parecida com a minha.
E como foi a primeira vez que treinou com Cavani?
Lembro-me que quando vivia em Montevideu e jogava pelas camadas jovens do Peñarol vi o autocarro da selecção passar junto a nós e pensar: "Quero estar ali um dia, ao lado do Suárez e do Cavani". Por isso, na primeira vez que treinei com a selecção estava muito nervoso, com medo de que as coisas não me saíssem bem. Mas estava feliz, não conseguia acreditar que estava ao lado do Suárez e do Cavani. Senti uma felicidade plena e pensei na minha família e em tudo o que tinha passado para ali chegar. Lembrei-me de quando era criança e sonhava com aquele momento.
Como foi a sua ida para a Europa?
Quando surgiu o interesse do Almería, encontrei-me com o presidente do Peñarol e expliquei-lhe que era a minha oportunidade. Ele compreendeu e deixou-me sair. Eu ainda quis jogar um último jogo, que era contra o River Plate, mas o treinador disse-me que não porque estava de saída. Percebi, mas fiz questão de ir ver o jogo para apoiar os meus companheiros antes de partir. Em dois ou três dias, juntei os meus pertences e foi uma felicidade extrema poder ver a minha mãe com o sorriso que tinha naquele momento. E lá fui para Almería, onde tudo correu bem. Joguei a segunda metade da época, marquei 13 golos e logo a seguir veio a transferência para o Benfica. Em menos de um ano, um ano e meio, tudo aconteceu. Lembro-me ainda de que quando estava no voo para cá, o meu agente ligou-me a dizer que eu tinha de voltar para jogar pela selecção. Era o círculo completo. Queria muito jogar pela minha selecção e estar com o Suárez, o Cavani e os meus ídolos uruguaios. A partir dali, tudo foi felicidade...
Concorda que no Benfica, para além do sucesso que está a ter, está também a evoluir ainda mais o seu jogo?
Sim, mas a verdade é que ainda sou muito jovem. Tenho muito para aprender e tenho de continuar a ganhar experiência. Acho que vou aprendendo pouco a pouco, com o tempo, dentro e fora de campo. Ser profissional, descansar bem, comer bem. Antes eu não comia peixe, não gostava. E não gostava de salada, mas agora esses são pequenos detalhes que ajudam a melhorar o meu desempenho em campo. Estou muito feliz comigo mesmo, pois acordo todos os dias de manhã para vir trabalhar, para corrigir os meus erros, e acredito que o tempo também me ajudará.