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Darwin Núñez em foco: Dos sonhos de criança ao "privilégio" de jogar no Benfica

Numa entrevista exclusiva ao UEFA.com, Darwin Núñez fala das raízes em Artigas (Uruguai), da infância difícil, da importância da família e dos ídolos que via na UEFA Champions League e que um dia queria imitar.

Darwin Núñez festeja após marcar o seu segundo golo na vitória do Benfica em casa sobre o Barcelona, por 3-0, na fase de grupos da UEFA Champions
Darwin Núñez festeja após marcar o seu segundo golo na vitória do Benfica em casa sobre o Barcelona, por 3-0, na fase de grupos da UEFA Champions Getty Images

Chegado ao Benfica no Verão de 2020, depois de uma boa época no Almería, da segunda divisão de Espanha – a sua primeira na Europa –, o avançado Darwin Núñez, de 22 anos, falou em exclusivo ao UEFA.com sobre as raízes passadas em Artigas (Uruguai), a infância difícil, a importância da família e os ídolos que via na UEFA Champions e que um dia queria imitar.

Autor de 23 golos em 28 jogos disputados esta temporada pelas Águias em todas as competições, três em seis na Champions League, Darwin – actual melhor marcador da Liga portuguesa com 18 tentos em 19 partidas – é uma das esperanças do Benfica para contrariar o poderio do Ajax nos oitavos-de-final da Champions League, cuja primeira mão arranca esta quarta-feira em Lisboa.

Cobertura em directo: Benfica - Ajax

Darwin Núñez no Benfica

2021/22: 28J 23G 2A
2020/21: 44J 14G 11A

Estatísticas-chave na Champions League

Como foi crescer em Artigas e que papel teve a cidade na sua formação?

Veja o golaço de Darwin ao Barcelona

Bem, Artigas é a minha cidade natal, é onde nasci. É uma cidade que estará sempre no meu coração. Tive de deixá-la – e à minha família também –, quando era ainda jovem, porque o meu sonho era ser jogador de futebol. Mas lembro-me que quando tocava a campainha para a saída na escola a primeira coisa que eu fazia era pegar numa bola e correr para o campo para jogar com os meus colegas.

Ainda hoje, quando volto a Artigas, digo sempre que tenho muitos sítios bonitos para visitar nas minhas férias, mas prefiro estar com os meus amigos e familiares, porque me traz muitas recordações. Falamos sobre quando éramos crianças e isso enche-me de energia positiva.

Esse espírito de amizade e solidariedade ensinou-lhe algo de que agora tire partido na sua carreira?

Sim, claro. Quando era mais novo o que mais queria era pegar numa bola e ir jogar, e tive sempre muito apoio por parte dos meus avós e dos meus pais, que me levavam aos treinos. O meu pai trabalhava na construção civil e passava oito ou nove horas a trabalhar durante o dia. A minha mãe trabalhava de manhã como empregada doméstica. Desde criança que sonhava chegar onde estou hoje e agradeço a Deus por isso. É um privilégio estar agora aqui, num grande clube europeu como o Benfica. Agradeço de todo o coração à minha família por sempre me ter apoiado. No fundo, ainda sou a mesma criança. Não mudei, nem nunca vou mudar. Ainda sou o mesmo Darwin desde criança: sempre humilde e com os pés no chão.

Darwin está na sua equipa do Fantasy Football?


Ainda se lembra dos seus primeiros pontapés na bola?

Sim, foram momentos maravilhosos. Lembro-me que a primeira vez que chutei uma bola foi no campo do Piratas [Juniors FC], onde jogava o meu irmão mais velho. Ele foi uma pessoa-chave para mim quando eu era mais novo, sempre me ajudou. Ele também chegou a ser futebolista profissional, no [Club Atlético] Peñarol, mas parou de jogar devido a problemas familiares, embora tivesse muita habilidade. Para mim, é meu irmão, meu amigo e sempre me apoiou. Ser-lhe-ei grato para sempre.

Muito poucas pessoas assim tão jovens podem oferecer uma casa aos pais. Será certamente um motivo de orgulho e satisfação para si...

Todos os golos do Benfica na fase de grupos

Sim! Amo os meus pais por tudo que fizeram por mim quando era criança. Sempre que não havia comida suficiente a minha mãe dava-nos a dela e eu dizia sempre que quando me tornasse futebolista profissional, com dinheiro suficiente para comprar uma casa, lhe daria uma como presente. E assim que me transferi para o Almería foi o que fiz: comprei seis hectares de terra e dei-lhe.

Quando ainda estava no Uruguai e via jogos da Champions League, quem era o seu ídolo?

[Edinson] Cavani. Ele tem uma estrutura física parecida comigo e somos muito semelhantes a vários níveis. Estava sempre a ver vídeos dele no YouTube. É verdade que geralmente não assistia aos jogos dele, mas via como se movimentava no YouTube, as suas diagonais. E também observei muito o [Luis] Suárez. Seguia-os com especial atenção porque são do Uruguai e são também humildes. A formação deles é parecida com a minha.

E como foi a primeira vez que treinou com Cavani?

Darwin Núñez (11) com os ídolos Luis Suárez (9) e Edinson Cavani (21) na selecção do Uruguai
Darwin Núñez (11) com os ídolos Luis Suárez (9) e Edinson Cavani (21) na selecção do UruguaiAFP via Getty Images

Lembro-me que quando vivia em Montevideu e jogava pelas camadas jovens do Peñarol vi o autocarro da selecção passar junto a nós e pensar: "Quero estar ali um dia, ao lado do Suárez e do Cavani". Por isso, na primeira vez que treinei com a selecção estava muito nervoso, com medo de que as coisas não me saíssem bem. Mas estava feliz, não conseguia acreditar que estava ao lado do Suárez e do Cavani. Senti uma felicidade plena e pensei na minha família e em tudo o que tinha passado para ali chegar. Lembrei-me de quando era criança e sonhava com aquele momento.

Como foi a sua ida para a Europa?

Quando surgiu o interesse do Almería, encontrei-me com o presidente do Peñarol e expliquei-lhe que era a minha oportunidade. Ele compreendeu e deixou-me sair. Eu ainda quis jogar um último jogo, que era contra o River Plate, mas o treinador disse-me que não porque estava de saída. Percebi, mas fiz questão de ir ver o jogo para apoiar os meus companheiros antes de partir. Em dois ou três dias, juntei os meus pertences e foi uma felicidade extrema poder ver a minha mãe com o sorriso que tinha naquele momento. E lá fui para Almería, onde tudo correu bem. Joguei a segunda metade da época, marquei 13 golos e logo a seguir veio a transferência para o Benfica. Em menos de um ano, um ano e meio, tudo aconteceu. Lembro-me ainda de que quando estava no voo para cá, o meu agente ligou-me a dizer que eu tinha de voltar para jogar pela selecção. Era o círculo completo. Queria muito jogar pela minha selecção e estar com o Suárez, o Cavani e os meus ídolos uruguaios. A partir dali, tudo foi felicidade...

Concorda que no Benfica, para além do sucesso que está a ter, está também a evoluir ainda mais o seu jogo?

Sim, mas a verdade é que ainda sou muito jovem. Tenho muito para aprender e tenho de continuar a ganhar experiência. Acho que vou aprendendo pouco a pouco, com o tempo, dentro e fora de campo. Ser profissional, descansar bem, comer bem. Antes eu não comia peixe, não gostava. E não gostava de salada, mas agora esses são pequenos detalhes que ajudam a melhorar o meu desempenho em campo. Estou muito feliz comigo mesmo, pois acordo todos os dias de manhã para vir trabalhar, para corrigir os meus erros, e acredito que o tempo também me ajudará.

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