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Entrevista exclusiva com José Fonte, capitão do LOSC Lille

O defesa-central português José Fonte prepara-se para, aos 37 anos, capitanear o LOSC Lille na sua segunda fase de grupos da UEFA Champions League em três épocas.

José Fonte festeja após marcar um golo pelo LOSC Lile na Ligue 1
José Fonte festeja após marcar um golo pelo LOSC Lile na Ligue 1 AFP via Getty Images

Aos 37 anos, com mais de 700 jogos como sénior [por clubes e selecções] e a viver a quarta época no LOSC Lille, José Fonte – vencedor do UEFA EURO e da UEFA Nations League por Portugal – fala do orgulho por regressar à UEFA Champions League com a braçadeira de capitão do actual campeão da Ligue 1.

Nesta entrevista exclusiva ao UEFA.com, o defesa-central luso fala do seu clube e da sua carreira, sem esquecer as ambições para esta época e o que significa jogar na mais prestigiada competição de clubes da Europa.

Jogue no Fantasy da Champions League

Quais são os objectivos do Lille para esta Champions League com Wolfsburgo, Salzburgo e Sevilha no grupo?

Em primeiro lugar, é importante mencionar que o nosso grupo é muito equilibrado. Em teoria, muitos dirão que este é um grupo fácil, mas na minha opinião não existem grupos fáceis na Champions League. Serão jogos muito difíceis. Queremos dar alegrias aos nossos adeptos, mostrar que não conquistámos o campeonato francês por acaso e fazer melhor do que da última vez em que participámos na Champions League – esse é o nosso principal objectivo.

Como adepto, quais foram os momentos mais inesquecíveis que viveu na Champions League?

O triunfo emocionante do Man. United em 1999

Na Champions League diria que o pontapé de Zidane com o pé esquerdo [na final de 2002] é um dos momentos de que mais me lembro, sem dúvida... Assim como a vitória do Manchester United sobre o Bayern, em Barcelona, com [Ole Gunnar] Solskjær a fazer o golo da vitória. E também o triunfo do Manchester United, em 2008, quando o Cristiano Ronaldo conquistou o troféu.

Pode falar-nos um pouco sobre a identidade do Lille, do qual é um dos líderes?

José Fonte num jogo do Lille contra o Chelsea na Champions League de 2019/20
José Fonte num jogo do Lille contra o Chelsea na Champions League de 2019/20Getty Images

Bom, posso falar sobre a nossa identidade nos últimos quatro anos, desde que estou aqui. E desde que cheguei, o que sinto e o que vejo é uma equipa que trabalha em conjunto, que é sólida, unida, ligada aos adeptos e ao povo do norte da França – uma identidade trabalhadora, um sentimento de que juntos podemos ir mais longe do que sozinhos. E é isso que nós, como clube, como cidade, procuramos difundir porque acreditamos que essa é a única maneira de alcançar o sucesso – a capacidade de não ser egoísta, de ser altruísta.

A vasta comunidade portuguesa em França deve estar contente por vê-lo como capitão desta equipa…

Sempre tivemos muitos jogadores que falam português, não só jogadores portugueses, mas jogadores africanos e há muitos brasileiros também. A língua portuguesa está enraizada no clube. Penso que as pessoas apreciam o nosso comportamento, as nossas qualidades e o que trazemos para o clube. Somos pessoas que trabalham muito, que nunca desistem, temos muitas qualidades. Penso que todos os jogadores portugueses e também todos os de língua portuguesa têm feito um trabalho fantástico neste clube.

Quais os jogadores da Champions League que mais admirava?

Na minha posição, em especial, tenho sempre de mencionar um ou dois jogadores que sempre admirei. Um deles era o Paolo Maldini, por causa da sua longevidade, da sua qualidade, do seu profissionalismo e da sua maneira de ser, e o outro o [Alessandro] Nesta. Também gostei de ver jogar o John Terry, [Nemanja] Vidić, [Rio] Ferdinand, [Jaap] Stam… Em relação a outros jogadores, como português cresci a ver o [Luís] Figo e o Rui Costa ao lado do [Zinédine] Zidane.

E a UEFA Champions League está já aí...

Grandes golos do Lille na Champions League

Estou muito orgulhoso, obviamente. O sonho de qualquer jogador é defrontar e vencer os melhores, por isso é com muito orgulho e felicidade que consegui isso com 37 anos de idade, depois da estreia com 35. Estou feliz por voltar a jogar na Champions League. Sinto uma felicidade, uma alegria e um prazer enormes por ainda estar neste nível e a jogar com os melhores.

Fale-nos sobre o seu papel como capitão do Lille, numa equipa em que média de idades é de cerca de 25 anos. Considera-se como um irmão mais velho?

Tem sido um pouco assim nos últimos quatro anos e foi um dos motivos pelos quais me comprometi com o director de futebol da altura, o Luís Campos, e com o então presidente [Gérard López]. A ideia era vir para o Lille para ter esse papel de jogador mais velho, de líder, para indicar o caminho e dizer o que é preciso aos jogadores na hora certa, para aconselhá-los quando fosse necessário, para deixá-los crescer e aprender com os erros, o que também é importante. Acima de tudo, fazer tudo para que eles cresçam e desenvolvam naturalmente o seu talento, amadureçam e entendam o que é realmente importante no futebol.

Neste contexto, a primeira época correu bem – ficámos em segundo. Não foi nenhuma surpresa para mim porque eu sabia que tínhamos tudo para ter sucesso, mas talvez tenha sido para muitas pessoas. Estou muito orgulhoso de como o Lille está agora, somos campeões da liga francesa, fizemos quatro óptimas temporadas e queremos continuar assim para consolidar o nosso estatuto e a reputação em França e nas competições europeias.

Jogou em quatro países e já ultrapassou os 700 jogos como sénior [por clubes e selecções]. Como evoluiu o seu jogo desde que saiu de Portugal?

José Fonte com a camisola do Southampton em 2016
José Fonte com a camisola do Southampton em 2016Getty Images

Procuro sempre adaptar-me às circunstâncias, às equipas, aos lugares e ao que as pessoas esperam de mim. Quando saí de Portugal, com 23 ou 24 anos, não estava preparado para jogar no Championship em Inglaterra, uma competição que, há 14 anos, era muito física, com um futebol directo – eu vinha de Portugal, onde o futebol é do género tiki-taka – mais relacionado com técnica e posse de bola.

Eu era um jogador magro, pesava 79 quilos e quando fui para Inglaterra [para o Crystal Palace FC] defrontei avançados de dois metros de altura e 100 quilos de peso. Como era de esperar, tive de me adaptar rapidamente, isto é, tive de engordar e de ganhar mais músculo, mas também me tornei num jogador mais inteligente. Tive de me adaptar rapidamente ao futebol inglês, que é muito mais físico, e parar de segurar tanto o jogo.

Fui depois para o Southampton, onde realmente comecei a desenvolver-me como precisava e a trabalhar com grandes treinadores que também me fizeram ver o futebol de maneira diferente e aprender coisas novas. Melhorei muito como jogador nessas oito épocas no Southampton. Começámos na terceira divisão, que é muito semelhante ao Championship, e depois subimos ao segundo escalão. Tínhamos uma excelente equipa, que jogava um grande futebol, com jogadores de topo como o [Morgan] Schneiderlin, o [Adam] Lallana, o [Alex Oxlade-] Chamberlain, entre outros.

Depois, chegámos à Premier League e tive de me adaptar novamente às exigências. Melhorei a habilidade com a bola, o posicionamento e continuo a evoluir porque no futebol nunca paramos de aprender – aos 37 anos ainda estou a melhorar e a tentar polir algumas partes do meu jogo. E quando cheguei ao Lille dei outro passo em frente com o treinador Christophe Galtier. Aprendi muito com a equipa técnica dele; o meu jogo mudou e melhorei muito a jogar com bola.