Sérgio Oliveira: "Ser Dragão é ganhar sempre"
segunda-feira, 12 de abril de 2021
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"Estou no auge da minha carreira, mas não foi fácil" diz o médio do Porto ao UEFA.com.
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Autor dos dois golos em Turim que permitiram ao Porto afastar a Juventus nos oitavos-de-final da presente temporada, Sérgio Oliveira teve de batalhar muito para chegar ao momento em que vestiu a pele de herói do seu clube de sempre. Desde a primeira captação no velhinho campo da Constituição até ao cumprir de um sonho de Dragão ao peito, passando ainda pelo relacionamento com o técnico Sérgio Conceição que começou de uma forma bem especial, Sérgio Oliveira falou de tudo um pouco com o UEFA.com.
E se o Porto tem uma autêntica montanha por escalar após ter perdido por 2-0 em casa contra o Chelsea na primeira mão dos quartos-de-final da UEFA Champions League, a carreira protagonizada pelo médio de 28 anos mostra que há sempre esperança.
Sobre a eliminação da Juventus nos oitavos-de-final
Quando se está no relvado e algo como isso acontece, acho que não nos damos inteiramente conta do que significa para nós e para os adeptos. É óbvio que ficámos eufóricos pela passagem aos quartos-de-final, ainda mais quando conseguimos derrotar uma super Juventus, uma equipa muito forte que tem o melhor jogador do Mundo. Jogámos com menos um jogador durante uma hora e mesmo assim conseguimos ser bem-sucedidos.
Podemos dizer que foi um jogo à imagem daquilo que é o FC Porto. Jogámos com raça e com a luta que nos caracteriza. Creio que foi um momento épico e, tendo em conta tudo aquilo que vivemos com esta pandemia, representou uma mensagem de que tudo é possível. É preciso acreditar, trabalhar e ter fé.
Quase 20 anos de ligação entre o FC Porto e o Sérgio Oliveira. Como é que se explica esta paixão mútua?
Sou sócio do Porto quase desde que nasci e isso fica a dever-se a um meu tio, que era um portista ferrenho, pelo que esse sentimento que me liga ao clube está presente desde sempre. Lembro-me perfeitamente do primeiro treino de captação que fui fazer ao Porto, até porque foi esse meu tio que me levou e ele estacionou o carro num local proibido. Conclusão: foi multado!
Eu tinha nove anos e nunca me vou esquecer desse momento. Foi no antigo campo da Constituição, que na altura ainda era pelado. Lembro-me de entrar e de sentir aquele nervoso miudinho. Eu vinha de uma vila humilde e poder vestir a camisola do Porto com nove anos de idade, ou pelo menos ter a possibilidade de a vir a envergar, porque não sabia se ia ficar no clube, era algo de incrível.
Percurso de altos e baixos até à afirmação final
Nem todos podem ser como o Mbappé, que tem jogado ao mais alto nível desde que tinha 18 anos. Isso não é normal, o normal é um percurso como o meu, com dificuldades, com empréstimos, com tudo aquilo que faz parte da evolução de um profissional e de um ser humano. Há que trabalhar todos os dias para que um dia chegue o sucesso e quando isso acontece há que continuar a trabalhar. Houve uma altura em que eu achei que não ia voltar ao Porto. Quando fui para o Paços de Ferreira pensei: 'e agora como é que eu vou voltar para o Porto?' Não desisti e consegui voltar a subir, o que não é muito comum. Isso abriu-me os olhos para não voltar a cair.
Continuei sempre a trabalhar da mesma forma e depois o Mister Sérgio Conceição deu-me aquilo de que eu precisava. Olhou para mim e disse: 'Tu tens qualidade, mas precisas de evoluir em certos aspectos'. Desde o primeiro dia que estive disposto a evoluir, a trabalhar, a ouvir, a acatar, a aprender. E ainda hoje é assim. Tinha vontade em ser mais. Queria ser uma referência do clube e o Mister Sérgio teve um papel preponderante nesse aspecto. Estou no auge da minha carreira aos 28 anos, mas não foi fácil.
Sobre Sérgio Conceição
A primeira vez que trabalhei com o mister Sérgio Conceição foi em França [quando foi emprestado pelo Porto ao Nantes]. Ele olhou para mim e disse: 'Tu estás gordo! Vais ter de perder quatro ou cinco quilos.' Eu fiquei a olhar para e disse: ‘OK!’ Durante esse tempo estive a adaptar-me ao estilo de jogo que ele adora, que se caracteriza por um grande impacto físico, de segundas bolas, de qualidade e de aposta tanto na largura como na profundidade. Eu passei um bocado mal e quando já estava finalmente a adaptar-me a esse futebol sofri uma uma lesão no joelho que me afastou durante mais de um mês.Tive poucas oportunidades para jogar no Nantes, mas nos treinos senti que evoluí muito durante esses quatro meses.
No ano seguinte ele veio para o Porto e eu pedi-lhe para ficar na equipa. Ele disse-me que se calhar era melhor eu sair para ter mais oportunidades de jogar, porque se ficasse se calhar ia jogar pouco. Respondi que queria fazer a pré-época e que ia agarrar o meu lugar. Ele disse: 'OK, mas tens de saber que não és a minha primeira opção'. Eu apenas disse: 'Não tenho problema com isso'. Fiz a pré-temporada e lembro-me que fiquei nove jogos na bancada. A minha estreia foi na fase de grupos da Champions League contra o Mónaco. Do nada ele chamou-me e disse-me: 'Olha, vais jogar. Confio em ti plenamente'. Foi inesquecível. Senti que podia confiar nele e que me ia ajudar em todos os aspectos. Temos os dois personalidades muito fortes e tivemos as nossas discussões, sempre com muito respeito, mas hoje em dia temos uma relação muito boa.
Sobre a mística do clube e o que representa ser um Dragão
Ser um Dragão é ganhar sempre! Todos os jogos são para ganhar. As pessoas podem dizer. 'isso é assim em todos os clubes', mas aqui não há mesmo outro resultado possível. Costumo dizer aos meus companheiros de equipa que chegaram este ano que na Champions League é sempre para ganhar. Se não ganharmos as pessoas vão ficar chateadas. Não é por jogarmos contra um Liverpool ou um Manchester City que se perdermos está tudo bem. Nunca está tudo bem. Perdemos contra o Manchester City e nos dois dias seguintes foi como um funeral. Ninguém fala. Eu acho que querer ganhar sempre é algo de bom. Um clube perdedor é o pior que pode existir.