Thierry Henry: o Arsenal, o Barcelona e o seu colega de sonho
sexta-feira, 12 de junho de 2020
Sumário do artigo
O antigo avançado francês reflecte sobre os seus dias de glória e elogia Michael Laudrup.
Conteúdo media do artigo
Corpo do artigo
Avançado impressionante no seu auge, Thierry Henry despontou como extremo no Mónaco. Venceu uma vez o EURO e o Campeonato do Mundo da FIFA pela França, mas brilhou no Arsenal de 1999 a 2007, ao serviço do qual conquistou dois títulos da Premier League e foi duas vezes Bota de Ouro ESM. Aos 29 anos mudou-se para o Barcelona em busca de um novo desafio e juntou ao palmarés mais dois títulos da Liga espanhola e o principal troféu que lhe escapara, a UEFA Champions League, em 2009.
Agora com 42 anos, Thierry Henry está a viver o confinamento no Canadá, onde é treinador do Montreal Impact. Entre passar o tempo "a cozinhar, a limpar a casa e a cuidar de mim", falou ao UEFA.com sobre sua carreira.
Wenger e Guardiola
Ele era como uma figura paternal para mim. Por isso, podem imaginar, com o nosso pai discutimos, gritamos e ele castiga-nos. Às vezes é complicado, mas é o que acontece quando se gosta de alguém.
O Arsène ligou o meu cérebro, [e todos os dias] sobre fazer-me as perguntas certas. Costumava queixar-me que os meus colegas não me viam - sabe, típicos avançados: 'Eles não querem dar-me a bola'. Ele disse-me: 'Bem, pergunte a si mesmo se esse jogador pode vê-lo da mesma maneira que outro jogador.' E comecei a adaptar o meu jogo aos outros, em vez de esperar que eles se adaptassem ao meu jogo.
Ele mostrou o que eu era capaz de fazer como jogador. E depois há o Pep [Guardiola], que, tacticamente, deu vida ao meu cérebro, por isso esses [treinadores] tiveram um enorme impacto em mim.
Trocar o Arsenal pelo Barcelona em 2007
Para mim, competir está acima de tudo. É isso que me move. É isso que me faz ser melhor. Quando fui para o Barcelona, o Ronaldinho jogava à esquerda, o [Samuel] Eto'o estava no meio e o [Lionel] Messi à direita, e ninguém me disse que iria jogar. Podemos ir para qualquer lugar e o coração pode ficar noutro sítio. Foi exactamente o que aconteceu.
Fui para o Barcelona e aprendi muito – muito mesmo – sobre algo que achei que tinha tudo a ver. Pensei que conhecia o futebol, mas em Barcelona fui reprogramado. O Barça era especial...
Vencer a Champions League frente ao Manchester United
Era o aniversário da minha filha, 27 de Maio. Nunca tinha ganho a Champions League. Nem conseguia dobrar o joelho. Não conseguia fazer "sprints" como deve ser. O mesmo se passava com [Andrés] Iniesta: ele tinha um problema na coxa e também não podia fazer acelerações. Perguntavam-me: "Estás bem?" E eu dizia: "Claro que estou bem." Nunca iria dizer: "Não estou bem". Havia muitos lesionados, faltavam-nos alguns jogadores, mas quando se tem a bola [naquele sistema de "tiki-taka"], não é preciso correr.
A maneira como o Barça jogava era incrível, porque esse sistema irá fazer a diferença; se estamos bem fisicamente, é um 6-0, mas se já não somos jovens ainda podemos fazer a diferença porque há posse de bola.
Fiquei para lá da lua [quando vencemos]. Disse: "Finalmente!" Foi como que um fim de algo para mim. Continuei a jogar porque o Campeonato do Mundo foi em 2010 e o meu treinador na selecção disse: "Thierry, não podes simplesmente sair assim da equipa e blá blá blá". Mas se o Mundial não tivesse sido logo depois, penso que teria ido antes para a MLS.
Laudrup, o melhor com quem jogou
Michael Laudrup! Uma das coisas mais importantes no futebol é o passe. É como um presente que se partilha com a equipa. E, para mim, na história, não conheço ninguém melhor a fazer isso do que Michael Laudrup: tão simples quanto isto. Adoraria finalizar um passe dele, porque tudo o que precisava de fazer era correr!
Algumas pessoas foram tocadas por Deus e ele foi. Digo muitas vezes: Penso que é reconhecido pelos jogadores, mas o mundo do futebol não lhe deu o crédito que merecia. O Andrés Iniesta inspirou-se nele. A "La Croqueta" [finta em que se ilude o adversário com um toque de bola de um pé para o outro] é do Laudrup, não é do Iniesta. Por mais que goste do Andrés, é do Laudrup. Ele queria apenas agradar às pessoas. Quando se olha para as equipas em que ele jogou, para mim é aquilo - paramos por ali.