Rafael Benítez sobre o treino: Mentalidade, formação, sorte
terça-feira, 19 de maio de 2020
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No aniversário do seu primeiro título europeu, Rafael Benítez falou sobre a sua paixão pelo treino, as inspirações e aquilo que é preciso para ser um vencedor.
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Desde que, neste dia em 2004, ganhou a Taça UEFA com o Valência, Rafael Benítez consolidou o estatuto como um dos treinadores mais astutos no futebol europeu.
O espanhol conduziu o Liverpool à conquista da UEFA Champions League e da SuperTaça Europeia da UEFA em 2005, ganhou o Campeonato do Mundo de Clubes com o Inter em 2010 e liderou o Chelsea à vitória na UEFA Europa League em 2013.
Fazendo uma retrospectiva à sua carreira de treinador – de um interesse madrugador até à conquista de títulos europeus – Rafa fala sobre a sua filosofia, mentalidade competitiva, formação como treinador e o carinho por Merseyside.
A mentalidade vencedora do Real Madrid
Durante a minha passagem pelo Real Madrid como jogador aprendi que vencer está no ADN do clube, seja qual for a competição que se disputa. Convivi com nomes emblemáticos como [José Antonio] Camacho, [Vicente] Del Bosque, [Mariano] García Remón, Luis Molowny e [Alfredo] Di Stéfano, pessoas habituadas a competir e vencer ao mais alto nível e que conseguiam incutir essa mentalidade vitoriosa.
Formação como treinador
Enquanto era jogador não descurei os estudos, primeiro na escolha e depois na universidade, em Educação Física e Fisiologia, e isso foi uma grande ajuda para o futuro. Aprendi que pequenos detalhes podem fazer a diferença.
Sempre fui uma pessoa com enorme desejo de aprender, por isso sempre que podia viajava até diversos países para aprender mais sobre futebol, fosse a ver treinos e jogos ou a falar com treinadores, como Arrigo Sacchi, que era o meu ídolo. Com isso procurava adquirir experiência prática para depois a combinar com os ensinamentos teóricos da universidade. Os grandes nomes que passaram pelo Real Madrid, devido à experiência que acumularam, foram das pessoas mais importantes para a carreira de treinador que desenvolvi.
Pensar como um treinador
Desde muito novo, mesmo enquanto jogador, já pensava como treinador. Aos 16 anos, numa equipa com quem joguei no Verão, fui jogador-treinador, e quando entrei para o INEF [Faculdade de Ciências para Actividade Física e Desporto] conciliava as carreira de jogador e treinador. Também fazia uso de tecnologias da altura para preparar os jogos ao pormenor. Tinha a informação toda organizada e categorizada e estava sempre à procura de mais coisas, como exercícios para usar nos treinos.
Vi vários jogos do AC Milan de Sacchi e anotava tudo o que se tinha passado, mesmo coisas que parecessem insignificantes. Com isso pretendia ter um conjunto de directrizes para ensinar aos meus jogadores sobre a forma de jogar que queria implementar. Por exemplo, quando orientei os escalões de formação do Real Madrid, usávamos pressão à zona, algo que ainda ninguém fazia a esse nível.
Competitividade é vital
Esse gene competitivo permite-nos enfrentar qualquer actividade, seja ela a sério ou lúdica. Quer-se sempre vencer. Isso é essencial no futebol e eu tive a felicidade de ter isso.
Muitas equipas por onde passei não tinha assim tantos jogadores excepcionais, mas possuíam essa mentalidade vencedora, o gene competitivo que é contagioso e faz sermos melhores que o adversário. Uma equipa é mais do que a soma das suas individualidades. Quando se tem esse espírito competitivo e somos organizados e equilibrados, então tem-se uma equipa vencedora.
O que torna Liverpool especial?
Liverpool é uma cidade com uma forte componente operária, formada por pessoas trabalhadoras que ficam gratas a quem se compromete com elas e dá o seu melhor. A cidade é assim e o clube também. E isso cria um ambiente particular, a que se alia uma paixão incrível pelo futebol que faz com que tenham um orgulho imenso na equipa, passando de geração para geração. Para além disso, é um clube com expectativas elevadas e muito competitivo, que quer sempre vencer, numa atitude que se torna contagiosa. Fui muito bem recebido e senti-me bem lá desde o primeiro momento.