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Roberto Carlos recorda vitórias na Champions League

Três vezes vencedor da UEFA Champions League, Roberto Carlos recorda os triunfos e o tempo passado no Real Madrid com emoção e humor à mistura.

Roberto Carlos com um troféu que adora na véspera da final da UEFA Champions League de 2019, em Madrid
Roberto Carlos com um troféu que adora na véspera da final da UEFA Champions League de 2019, em Madrid UEFA via Getty Images

Vencedor da Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1998, 2000 e 2002, Roberto Carlos - o lateral brasileiro do remate temível, actualmente com 47 anos - recordou em exclusivo ao UEFA.com esses triunfos, falou da responsabilidade de representar o Real Madrid e de antigos colegas emblemáticos, entre outros assuntos.

Estar à altura do prestígio do clube

Quando se representa um clube tão prestigiado como o Real Madrid na UEFA Champions League, então aí é que nos apercebemos do calibre e importância da competição. [Alfredo] Di Stéfano, [Ferenc] Puskás e [Francisco] Gento, entre outros, ganharam-na e foram eles que criaram esse prestígio, fruto de cinco títulos consecutivos.

A equipa  titular do Real Madrid na final de 1998
A equipa titular do Real Madrid na final de 1998Real Madrid via Getty Images

Assim, todos os jogadores que assinam pelo clube são confrontados com a obrigação e a responsabilidade de estar à altura dessa exigência e também ganharem, nem que seja pelo menos uma vez, uma competição que faz parte do ADN do clube. Quando ganhámos em 1998, a festa foi incrível. Parecia que Madrid inteira tinha saído à rua! Já eu fiquei eufórico por segurar um troféu que até então só tinha visto na televisão. Foi uma das melhores sensações da minha vida.

Finais com grau de dificuldade distinto

Em 1998 a tensão era evidente e por vários motivos. Por ser uma final, por a nossa equipa ter muitos jogadores novos, e também por irmos defrontar a Juventus, que era considerada favorita e tinha disputado as três finais anteriores, ganhando uma. Confesso que tive dificuldades em dormir, mas no fim de contas estivemos à altura do prestígio do clube e colocámos um ponto final num jejum que durava há muito tempo. Foi a partir daí que o Real Madrid se restabeleceu como colosso na prova.

Grandes equipas da Champions League: Real Madrid 1998-2002

Depois, em 2000, no duelo espanhol, defrontámos uma equipa do Valência que conhecíamos bem. Eles fizeram algumas alterações tácticas, mas a nossa equipa era muito forte, com muitos bons jogadores, e isso fez com que tornássemos as coisas fáceis para nós. Era uma equipa incrível. Por fim, em 2002, aquele que em teoria seria o adversário mais acessível acabou por ser no mais complicado. O [Bayer] Leverkusen dificultou-nos muito a vida, no ataque e na defesa, e obrigou-nos a dar o nosso melhor.

Resumo da final de 2000: Real Madrid 3-0 Valência

Influente em golos

No golo de 1998 eu não queria fazer um passe, mas sim rematar. Queria a glória para mim! Na final de 2002 foram minhas as assistências para os dois golos. No primeiro fiz uso dos truques e manhas que se vão aprendendo ao longo da carreira: aproveitei o relvado molhado para fazer a bola ressaltar num lançamento lateral e ganhar velocidade, que depois perdeu perto da área, onde a relva estava menos húmida. O Raúl [González] sabia disso, o guarda-redes precipitou-se e ele marcou com um remate rasteiro.

O segundo golo, marcado pelo [Zinédine] Zidane, teve uma coisa engraçada. O lance começou com um passe horrível do [Santiago] Solari, seguiu-se um cruzamento meu razoável e terminou com um belo golo do Zizou. Um golo que é um dos melhores na história da competição e do futebol. Devido à rapidez com que tive de pensar e executar, confesso que nem vi que era o Zidane se aproximava da área, apenas sabia que estava lá um jogador vestido de branco. Por isso limitei-me a tentar colocar a bola com conta, peso e medida. Felizmente, esse jogador de branco que vi era um dos melhores do Mundo e fez um golo notável.

Roberto Carlos festeja o triunfo na  final de 2000
Roberto Carlos festeja o triunfo na final de 2000Popperfoto via Getty Images

Os icónicos Raúl González e Iker Casillas

O Raúl era incrivelmente perigoso. Dentro da área sabia exactamente o que fazer. Por vezes, até parecia que era a bola que o procurava. E mesmo quando rematava mal, a bola acabava por entrar! Só por isso dava para perceber a sua qualidade. Além disso, era um líder nato e um elemento inspirador. Quando estávamos em dificuldades, pensávamos: "O Raúl vai resolver". E resolvia.

Resumo da final de 2002: Real Madrid 2-1 Leverkusen

Com o Iker Casillas tenho uma ligação especial. Ele era um miúdo quando chegou à equipa principal e conseguiu impor-se. Foi alvo de algumas críticas devido à sua estatura, mas a sua qualidade falou mais alto. Na minha opinião, na final de 2002 foi o melhor em campo, após ter entrado a meio do jogo. Fez defesas decisivas nos instantes finais. Eu e outros jogadores éramos muito protectores dele e brincávamos com ele, também o moralizando quando não era escolhido para jogar.

Mas ele também se revelou uma pessoa divertida. Quando chegou à selecção principal, eu mostrei-lhe uma foto minha com o troféu do Campeonato do Mundo e perguntei: "Sabes quanto pesa este troféu?” E ele respondeu: “Um dia vou saber quanto”. Em 2010, após a Espanha se sagrar campeã mundial, ligou-me desde o balneário e disse que já sabia. É um excelente guarda-redes e uma excelente pessoa.

 Roberto Carlos e Luís Figo ladeiam Raúl González
Roberto Carlos e Luís Figo ladeiam Raúl GonzálezAFP via Getty Images

Uma competição que transforma

A primeira coisa que impressiona na Champions League é o hino. Dá logo um toque único à competição. O entusiasmo que se sente em semana europeia é incrível. Tudo muda, desde a bola até ao estado de espírito. As refeições são diferentes, as conversas são diferentes, todo o ambiente em redor do jogo é diferente. Só queremos que o tempo passe rápido e o jogo comece.

O golo de Zidane em 2002 visto de todos os ângulos

Uma equipa, um legado

Sinto-me muito agradecido por ter feito parte de um grupo que ganhou três títulos da UEFA Champions League em cinco épocas. Deixámos uma marca no clube e os adeptos voltaram a sentir-se orgulhosos. Especialmente aqueles que em 1998 eram muito novos e nunca tinham visto o clube ganhar o troféu.

Ainda hoje há pessoas que nos agradecem por isso. Adeptos na casa dos 40 e 50 anos, que dizem "Graças a vocês eu e o meu pai conseguimos ir até ao museu e tocar num troféu que desejávamos há muito tempo”. Isso toca-me bastante e é algo que nunca vou esquecer.