Entrevista de fundo a Casillas: "É estranho mudar de cenário"
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
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Iker Casillas, o jogador mais experiente da UEFA Champions League, fala ao UEFA.com sobre o prestígio da competição, a adaptação ao Porto e defrontar Gianluigi Buffon.
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Já disputou mais eliminatórias da UEFA Champions League do que o resto da equipa do Porto em conjunto. A sua experiência pode ser decisiva no duelo com a Juve...
Disputar tantos jogos importantes numa competição tão prestigiada como a UEFA Champions League deu-me uma experiência que pode ser útil e estou feliz por isso. Espero que os outros jogadores se sintam mais confiantes por causa disso. Estamos perante uma eliminatória muito difícil. Sabemos que a Juve é favorita, mas por vezes a motivação, a ambição, o esforço e a coragem permitem superar o talento individual.
Antigamente jogava no Real Madrid, que é favorito em todos os jogos, mas agora as coisas são diferentes no Porto. Como sentiu esta mudança?
Por um lado, fico um pouco aliviado, pois quando somos favoritos temos mais responsabilidade e as derrotas são mais dolorosas. Temos de ser realistas: temos uma boa equipa e temos evoluindo gradualmente com a ajuda dos nossos jogadores mais jovens. Vamos ter de defrontar um adversário que joga há muito tempo a um nível muito elevado, com presenças em quartos-de-final, meias-finais e numa final. No entanto, no mundo do futebol, tudo pode acontecer. Há seis ou sete meses estávamos a disputar um “play-off” contra a Roma...
Que importância teve a Champions League ao longo da sua carreira e o que significa actualmente para si?
Jogar numa competição como a Champions League é importante para qualquer jogador, faz-nos sentir muito mais profissionais neste desporto. A Champions League é o palco onde se reúnem os melhores jogadores do Mundo.
Conseguiu muitos triunfos ao serviço de Espanha, mas os títulos europeus de clubes têm um significado especial? Será que a sua carreira teria sido a mesma sem os sucessos na Champions League?
Acho que é isto que traz prestígio a um jogador. Claro que a conquista de competições nacionais, como o campeonato, a Taça ou a SuperTaça, tornam-nos conhecidos no nosso país, mas quando damos um passo em frente na Europa e erguemos a Taça dos Clubes Campeões Europeus o prestígio passa a ser a nível global.
Transforma-nos em jogadores importantes, que disputaram e conquistaram uma competição de prestígio. No meu caso, aconteceu por três vezes e é claro que tenho um grande orgulho nisso e espero conseguir um quarto título.
- Primeiro triunfo na Champions League: 1999/2000
- Segundo triunfo na Champions League: AQUELE golo de Zidane
- Terceiro triunfo na Champions League: Finalmente a décima
O embate com a Juve surge na altura em que está na melhor forma desde que chegou ao Porto em 2015?
Qualquer jogador sabe que é preciso tempo para a adaptação a uma nova cidade, a um novo ambiente e a um novo estilo de vida. Claro que quando se esteve tanto tempo no mesmo local, como aconteceu comigo, é estranho mudar de cenário. Talvez não tenha atingido o nível que pretendia na época passada, não me senti totalmente confortável.
Não fui convocado para a selecção espanhola, por isso tive mais tempo para me concentrar no meu clube. Senti o efeito. Primeiro é preciso estar adaptado ao clube, depois quem sabe o que poderá acontecer?
Logo que o sorteio determinou que o Porto tinha de defrontar a Juventus, todos disseram que seria um duelo entre Casillas e Buffon. O que pensa de Buffon, como pessoa e como guarda-redes?
Tenho a sorte de ser três anos mais novo do que o Gigi. Quando comecei tinha 14 anos e ele já estava com 18. Tive oportunidade de apreciar o seu estilo e personalidade. Enquanto crescia fui observando-o, evoluímos juntos e tivemos carreiras semelhantes. Ambos conquistámos muitos títulos e jogámos muitas vezes um contra o outro. Penso que o futebol italiano não voltará a ter um guarda-redes como ele.
É considerado um dos melhores de todos os tempos, na Europa e em todo o Mundo. Temos uma rivalidade saudável e positiva, gostamos bastante um do outro e é sempre um prazer jogar contra ele. É um jogador conhecido e admirado em todo o Mundo e faz parte da história do nosso desporto.
Sabemos que tem uma excelente memória e um conhecimento enciclopédico de todos os seus jogos. Vamos recordar o embate entre o Real Madrid e a Juve nas meias-finais de 2002/03, o seu primeiro jogo frente a Buffon. Ganhou por 2-1 em Madrid, antes de perder por 3-1 em Turim. Que recordações tem desses jogos?
Ambas as equipas tinham jogadores extraordinários: Trezeguet, Nedvěd, Zidane, Ronaldo e Figo. Ganhámos por 2-1 na primeira mão, mas merecíamos um resultado melhor e poderia ter terminado com 3-1 ou mesmo 4-1. Na segunda mão, no antigo estádio da Juve, tivemos oportunidade de conseguir a reviravolta. No entanto, o Buffon defendeu uma grande penalidade do Luís Figo e rapidamente ficámos a perder por 3-0. Ainda reduzimos para 3-1 e aumentámos a pressão durante 15 minutos. Tivemos oportunidades para fazer o 3-2 e continuar em prova.