Legado de Paisley na Taça dos Campeões Europeus
domingo, 14 de fevereiro de 2016
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Bob Paisley foi o primeiro treinador a vencer três Taças dos Campeões Europeus, depois de levar o Liverpool ao triunfo em 1977, 1978 e 1981; o UEFA.com recorda a sua carreira
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O nome de Bob Paisley ficará para sempre associado à Taça dos Campeões, como o primeiro treinador a vencê-la por três ocasiões. Carlo Ancelotti igualou o feito em 2014; no entanto, enquanto o italiano levou o Real Madrid à vitória depois de o fazer com o AC Milan em 2003 e 2007, a carreira de Paisley está fortemente ligada a um clube.
Nascido no Nordeste de Inglaterra em 1919, Paisley ingressou aos 20 anos no Liverpool FC como jogador, deixando para trás profissões como mineiro ou pedreiro, e permaneceu em Anfield durante mais de 40 anos. Promissor futebolista amador no Bishop Auckland, a II Guerra Mundial impediu Paisley de estrear-se oficialmente pelos "reds" antes Janeiro de 1946.
A época seguinte terminaria com a conquista do primeiro campeonato em 24 anos e Paisley já era presença habitual na equipa. Ainda assim, perderia a primeira ida do clube até Wembley, em 1950. Tendo ficado de fora da equipa que perderia a final da Taça de Inglaterra para o Arsenal, apesar de ter marcado nas meias-finais, equacionou brevemente deixar o clube. No entanto, na época seguinte, foi nomeado capitão.
Paisley pendurou as chuteiras em 1954 e ingressou na equipa técnica do Liverpool como fisioterapeuta autodidacta – dizia-se que era capaz de reconhecer potenciais lesões antes de elas acontecerem –, seguindo-se o cargo de treinador das reservas, antes de se tornar adjunto do treinador principal, Bill Shankly, em 1959. A abordagem era simples. "Durante toda a minha estada no Liverpool, nunca trabalhámos nada em concreto nos treinos. Apenas fazíamos 'peladinhas' com equipas de cinco jogadores e a única regra era o uso de um máximo de dois toques", disse o antigo defesa-central, Alan Hansen.
"Esses jogos de cinco para cada lado eram essenciais", disse Paisley. "A força do futebol inglês assentava na nossa entrada à bola, mas os continentais acabaram com isso ao aprenderem como interceptá-la. As principais equipas europeias mostraram-nos como sair a jogar de forma eficaz a partir da defesa. A velocidade da sua movimentação era ditada pelo primeiro passe. Tivemos de aprender a ser pacientes como eles e a pensar dois ou três movimentos à frente. Isso não aconteceu de um dia para o outro. Quando, ao início, abrandávamos o ritmo, éramos algo negativos, limitando-nos apenas a trocar passes simples pelo campo."
A abordagem do Liverpool era devastadora na sua simplicidade. Sob as ordens de Shankly, o clube tornou-se numa das potências do futebol inglês, vencendo três campeonatos e duas Taças de Inglaterra. Apesar do triunfo na Taça UEFA de 1973, foi somente a partir do momento em que Paisley rendeu Shankly como treinador principal, no ano seguinte, é que começou a era dourada nas competições europeias.
Quando o Liverpool acentuou o domínio a nível interno – vencendo seis títulos ingleses durante os nove anos de Paisley à frente da equipa – começou a assentar a supremacia a nível europeu sobre a mencionada conquista da Taça UEFA. A equipa de Merseyside chegara às meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1965; após ter vencido pela segunda vez a Taça UEFA em 1976, ao derrotar o Club Brugge na final a duas mãos, os comandados de Paisley estavam agora prontos para uma abordagem bem trabalhada para a conquista do principal troféu europeu na temporada seguinte.
Crusaders, Trabzonspor, Saint-Étienne e Zürich foram eliminados rumo à final frente ao VfL Borussia Mönchengladbach, em Roma – cidade que Paisley ajudara a libertar em 1944, ao entrar nos seus limites num tanque do exército inglês. Golos de Terry McDermott, Tommy Smith e uma grande penalidade convertida por Phil Neal, já nos instantes finais, asseguraram um regresso feliz, naquele que Paisley definiu assim: "O melhor momento da minha vida."
Mais glória seguiu-se 12 meses depois, em Wembley, quando o Liverpool manteve o troféu na sua posse mercê de um delicioso chapéu de Kenny Dalglish frente ao Club Brugge, na sequência de uma sublime desmarcação de Graeme Souness. Ambos haviam sido contratados por Paisley, especialista na construção de equipas.
[PHOTO src="2330514" size="smallSquare" align="Right" caption
=" Bob Paisley com a Taça dos Campeões the " ]"A política de aquisições do Bob passava por conseguir comprar os dois melhores jogadores disponíveis e dois de divisões inferiores para ir lançando ", disse Roy Evans, outro elemento importante no corpo técnico do Liverpool (que era conhecido por "Boot Room", uma vez ser o local onde, por vezes, conferenciavam) formado por Shankly e ao qual Paisley deu sequência. "Ele tentou refrescar a equipa em todas as épocas, mas o sucesso deve-se aos jogadores. O Bob sempre teve grandes jogadores e a capacidade para moldá-los."
Outra das melhores características de Paisley era a sua capacidade em concentrar-se no futuro, em vez de viver das glórias passadas. O seu filho Graham recorda: "Há histórias famosas dele a colocar no balneário de Anfield uma caixa com medalhas de campeão após a conquista de mais um título e, em seguida, dizer: 'Tira uma, mas somente se a mereceres'. Era essa a sua mentalidade. Ele olhava sempre para o futuro."
Por sua parte, Souness acrescentou: "Receber elogios de Bob Paisley era como uma tempestade de neve no Saara. Ele pode ser recordado como uma figura paterna pelos adeptos, mas mandava em Anfield com punho de ferro. Era um homem autoritário e poucos se atreviam a desautorizá-lo. Caso parecêssemos estar a ficar algo complacentes, ou se não nos estivéssemos a exibir ao nível habitual, o Bob diria: 'Se já se cansaram de ganhar, venham ter comigo. Vendo-vos a todos e compro 11 jogadores novos."
Tal abordagem competitiva trouxe novo sucesso europeu em 1981, quando Ray Kennedy – convertido de ponta-de-lança para médio por Paisley – serviu Alan Kennedy para o único golo frente ao Real Madrid, no Parc des Princes, em Paris. " Foi um triunfo do nosso carácter mais uma vez. Fiquei tão orgulhoso por ser o treinador da primeira equipa britânica a vencer três vezes a Taça dos Campeões", confessou Paisley.
Na altura em que o Liverpool venceu a prova pela quarta vez, Paisley já havia cedido o lugar a Joe Fagan. Regressou ao clube durante dois anos como conselheiro quando Kenny Dalglish se tornou treinador-jogador dos "reds" em 1985, mas a cultura de vitória que ajudou sobremaneira a construir perduraria. "Também tivemos anos difíceis", disse uma vez. "Houve um ano em que acabámos em segundo lugar."