Melhores equipas de sempre: Ajax 1971–73
segunda-feira, 15 de junho de 2015
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O "Futebol Total" que Rinus Michels institucionalizou no Ajax foi perfeito para Johan Cruyff e resultou no domínio do futebol europeu no começo da década de 1970.
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Rinus Michels lançou as sementes de uma revolucionária táctica no AFC Ajax, que culminou com a conquista de três títulos europeus em outras tantas temporadas no começo da década de 1970. O UEFA.com destaca a equipa que mudou o futebol.
Era dourada
No cargo desde 1965, o treinador Rinus Michels transformou o Ajax de candidato a descer de divisão na Holanda à melhor equipa da Europa, graças ao "Futebol Total" e a intérpretes da estirpe de Johan Neeskens, Piet Keizer, Sjaak Swart, Wim Suurbier, Barry Hulshoff, Gerrie Mühren, Johnny Rep, Ruud Krol, Velibor Vasović e, é claro, o filho favorito do futebol holandês, Johan Cruyff.
Derrotado na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1969, o Ajax voltou a sofrer outro revés em 1970, quando o Feyenoord se tornou no primeiro emblema holandês a vencer o mais ambicionado dos troféus europeus de clubes. No entanto, a resposta veio no ano seguinte, em Londres, onde bateu o Panathinaikos FC por 2-0, resultado que motivou a saída de Michels para o FC Barcelona, afirmando: "Consegui tudo o que podia aqui – é impossível fazer melhor."
O seu sucessor, Stefán Kovács, rapidamente mostrou que estava errado. Cruyff bisou na vitória do Ajax sobre o FC Internazionale Milano, por 2-0, na final de 1972, em Roterdão, em que a formação holandesa chegou ao terceiro título consecutivo em Belgrado, local onde derrotou a Juventus, por 1-0, em 1973.
Passagem de testemunho
Esse triunfo culminou, provavelmente, a melhor das temporadas do Ajax; o conjunto de Amesterdão afastou o FC Bayern München nos quartos-de-final e o Real Madrid CF nas meias-finais, enquanto um cabeceamento de Johnny Rep permitiu derrotar a Juve no Estádio do FK Crvena Zvezda.
No entanto, a glória nunca é eterna e Cruyff seguiu Michels e também rumou ao Barcelona, tendo ambos ainda sido decisivos na caminhada da Holanda até à final do Campeonato do Mundo de 1974. Seriam precisos 22 anos ao Ajax para se sagrar campeão da Europa pela quarta vez, com Louis van Gaal a comandar a equipa vencedora da UEFA Champions League em 1995.
Filosofia que mudou o jogo
'O Futebol Total' assentava numa formação 4-3-3, com atacantes nas alas. Os ataques começavam no guarda-redes, com a bola a circular rapidamente, cabendo aos defesas e médios subir no terreno, pelo que, devida a mobilidade dos jogadores do Ajax, a marcação homem-a-homem era muito difícil. Uma forte pressão e uma defesa bem afinada no que toca à armadilha do fora-de-jogo, faziam com que o Ajax nunca estivesse sem bola durante muito tempo.
"Jogámos um futebol que não era normal naquela altura na Europa", recorda Cruyff. "Tínhamos um estilo próprio - algo que não se via noutros países e isso chamou a atenção na Europa."
Génio táctico
Um avançado trabalhador cuja carreira como jogador foi encurtada por uma lesão nas costas, o "General" tornou-se bem mais útil ao clube como treinador. "Existe uma arte em escolher uma equipa com o equilíbrio certo entre jogadores criativos e destrutivos, nunca esquecendo a qualidade do adversário e a pressão específica de cada jogo", disse Michels.
As suas escolhas no Ajax foram perfeitas e o mesmo sucederia no Barcelona, clube onde conquistou o campeonato em 1973/74, antes de assumir o comando da selecção da Holanda. Se chegar à final do Campeonato do Mundo de 1974 representou um grande feito, vencer o Campeonato da Europa da UEFA de 1988, na sua terceira passagem como treinador da "Oranje", foi ainda mais importante.
"Estou particularmente feliz por ter sido capaz de ajudar a fazer com que o estilo de jogo da Holanda ficasse famoso em todo o mundo", diria Michels mais tarde.
Estrelas em campo
Johan Cruyff: Um avançado abençoado com uma técnica e capacidade de liderança fantásticas, Cruyff era o jogador que simbolizava o 'Futebol Total'. "Claro está que tinha as minhas qualidades, mas uma equipa é formada pelas diferentes qualidades de cada jogador - nenhum jogador pode fazer as coisas sozinho", disse Cruyff. "Depois, quando cada jogador está pronto a dar tudo e usar as suas qualidades, então obtemos a melhor resposta e resultados".
Johan Neeskens: "Johan, o Segundo", médio feito de aço e corredor incansável, dotado de boa técnica e capacidade realizadora, fundamental a preparar o terreno para Cruyff brilhar. Um dos primeiros médios "box-to-box", era também alguém que pressionava o adversário e um grande recuperador de bolas. "Ele valia por dois jogadores no meio-campo", disse o companheiro Sjaak Swart.
Piet Keizer: Génio na asa esquerda, este talentoso flanqueador era outro perfeito ajudante de Cruyff. Passou toda a sua carreira no Ajax, desde 1961 a 1974, marcando 146 golos em 365 jogos no campeonato. "Se não estivesse a jogar, iria assistir aos jogos do Ajax só para ver o Keizer," recorda um seu contemporâneo, o médio do Feyenoord, Wim van Hanegem.
O que eles dizem …
Sjaak Swart, avançado do Ajax: "No começo, Michels afirmou: "Vamos fazer um Ajax mais profissional. Se alguém não estiver comigo em querermos mais disciplina e treino, diga-o agora, e depois pode ir embora." As suas sessões de treino eram sempre preparadas na perfeição e ele colocava os jogadores certos nas posições certas. Parecia simples, mas não era. Se fosse treinador, faria exactamente o mesmo que ele. Nunca tive um treinador melhor que Rinus Michels."
Ruud Krol, defesa do Ajax: "Michels fazia-nos correr menos e assumir as posições dos colegas, o que era revolucionário. Foi a primeira vez em que se verificou uma visão totalmente diferente do futebol. O 'Futebol Total' espalhou-se por todo o mundo. Foi a única mudança real durante quase 40 anos. Surpreendeu o mundo."