Escola do Barcelona ajuda Arteta no Arsenal

Há sete anos, uma figura importante do futebol espanhol em Inglaterra telefonou a David Moyes e perguntou-lhe: "Ainda estás à procura de um médio? Um elemento para organizar o ataque? Estás disposto a arriscar num jogador que é suplente de uma equipa que não está a passar uma fase boa"?

Nessa época, Mikel Arteta era habitualmente suplente na Real Sociedad de Fútbol. O treinador do Everton FC, que normalmente é bastante cauteloso, decidiu confiar no instinto e contratar o espanhol. Não é normal um jogador estrangeiro adaptar-se tão bem a um clube e à sua filosofia.

Em Setembro, após quase 180 jogos ao serviço do clube de Liverpool na Premier League, Arteta assinou pelo Arsenal FC. O espanhol testemunhou o crescimento do Everton: um novo centro de estágio, as noites europeias e uma final da Taça de Inglaterra. Contudo, aos 29 anos partiu em busca de um novo desafio antes que fosse demasiado tarde.

Arteta chegou ao Arsenal no rescaldo de uma transferência que se revelou uma das maiores sagas de sempre, com Cesc Fàbregas a regressar finalmente ao FC Barcelona. Esta saída deixou uma vaga no balneário do Arsenal e um vazio ainda maior dentro de campo.

As comparações com o compatriota são inevitáveis, mas Arteta prefere não as fazer: "Se tentar substituir Cesc, é certo que vai correr mal. Estou aqui há pouco tempo, enquanto ele jogou oito anos no Arsenal. Só este factor já torna impossível que eu o substitua".

Não é só o meio-campo do Arsenal que une Arteta e Fàbregas. Ambos chegaram em 1997 à academia do Barcelona de La Masia. Fàbregas tinha dez anos, Arteta era cinco anos mais velho e veio de San Sebastian. O Nº 8 do Arsenal só esteve dois anos no Barcelona, mas a experiência que viveu foi fundamental na sua formação como jogador.

"Aprendi a passar no Barcelona, pois tive oportunidade de treinar com jogadores como Josep Guardiola, Rivaldo, Luís Enrique e Luís Figo", explicou. "A primeira vez que joguei pela equipa principal foi num encontro particular de pré-época ante o Hertha de Berlim, tinha 16 anos e entrei para o lugar do Guardiola ao intervalo. No final ele comentou tudo aquilo que eu tinha feito em campo. Era a melhor pessoa para me dar conselhos".

O Arsenal contratou-o esta época para trazer experiência e capacidade de visão de jogo ao meio-campo, mas Arteta também tem um papel importante fora das quatro linhas.

"O balneário é um reflexo dos maus momentos que uma equipa passa em campo, daqueles períodos de 15, 20 ou 75 minutos que a equipa passa por grandes dificuldades. Nestes momentos basta olhar para a forma como reagem os nossos colegas, as trocas de olhares entre eles, que dizem tudo. Quando tudo parece perdido, um bom balneário permite unir esforços e isso é fundamental".

Depois há Arsène Wenger, um treinador que aponta o rumo quando alguns questionam a filosofia do clube. "Fiquei surpreendido pelas mensagens simples que passa", afirmou Arteta. "Os jogadores não recebem instruções em excesso. O Wenger transmite seis ou sete ideias claras a cada jogador e 20 minutos são suficientes para sabermos o que temos de fazer".

Aos 29 anos, Arteta correu o risco de assinar por um clube que está a passar a maior crise desde meados da década de 1990. Mas se a aposta resultar, o clube e o jogador espanhol podem vir a lucrar.

Wenger acredita que pode tirar o máximo rendimento de Arteta: "É um jogador completo, sabe defender, atacar e é muito ambicioso. Tem todos as características para ser um jogador do Arsenal perfeito", explicou o treinador francês. Se Wenger estiver certo, o futuro do Arsenal fica, subitamente, muito mais brilhante.

A entrevista completa com Mikel Arteta faz parte da última edição da revista Champions, a revista oficial da UEFA Champions League, que  já está à venda.