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Busquets e a importância da Champions League

"É a Champions League aquilo que mais entusiasma os adeptos do Barça", salientou Sergio Busquets em conversa com a revista Champions sobre a sua meteórica ascensão.

Sergio Busquets não tardou a tornar-se presença habitual no "onze" do Barcelona
Sergio Busquets não tardou a tornar-se presença habitual no "onze" do Barcelona ©Getty Images

Marcar um golo na própria baliza num intenso embate da UEFA Champions League para colocar o adversário em vantagem não é algo que dê muita vontade de rir. Mas, depois de o FC Barcelona ter acabado por conseguir afastar o Arsenal FC com um total de 4-3 no conjunto das duas mãos, Sergio Busquets pôde, pelo menos, sorrir com a ironia da entrevista que nos concedera dois dias antes.

Busquets tem alinhado, sem problemas, em quatro posições diferentes entre o meio-campo e a defesa do Barça e foi como defesa-central que, na sequência de um pontapé de canto, desviou a bola na direcção da sua própria baliza e traiu Víctor Valdés numa emotiva eliminatória dos oitavos-de-final ante o Arsenal, em Março. Teria sido um tento de fazer inveja a muitos pontas-de-lança, ao colocar a bola no ângulo superior direito com um toque perfeito, não tivesse acontecido no lado contrário do campo.

A ironia da situação? Bem, Busquets começou a carreira como avançado, confessou que não se importava de ainda o continuar a ser e nada o deixa mais feliz do que ver um remate seu fazer balançar as redes. Mas na baliza adversária, claro está.

O seu pai, Carles, defendeu as redes do Barça na final de 1991 da Taça dos Vencedores das Taças, perdida pela formação da Catalunha diante do Manchester United FC, num encontro em que Mark Hughes bisou e numa altura em que Alex Ferguson começava a deixar a sua marca em Old Trafford. Só que imitar o pai e evitar golos nunca esteve na cabeça de Sergio.

"De todo!", salienta o internacional espanhol, de 22 anos. "Quando se é novo, ser guarda-redes é muito aborrecido. Quando se joga na escola, ou com os amigos, quer-se sempre ser avançado e marcar golos. E, também porque o meu pai era guarda-redes, deixava-me sempre, a mim e ao meu irmão, fazer-lhe uns remates. E nós adorávamos!".

Se Busquets sofreu alguma espécie de crise de identidade sobre a zona do terreno de jogo onde reside a maior satisfação, tal não parece ter perturbado a sua evolução. Desde a estreia pela equipa principal do Barcelona, em Setembro de 2008, frente ao Real Racing Club, quebrou já vários recordes e ajudou o clube a somar troféus, tornando-se indispensável não só à sua equipa como igualmente à selecção do seu país.

O salto do terceiro escalão para o futebol internacional demorou menos de nove meses. Precisamente oito semanas após obter a primeira internacionalização pela selecção principal espanhola, conquistou a UEFA Champions League em Roma. Um ano mais tarde sagrou-se campeão mundial pela Espanha. Mas é suficientemente realista para admitir que, ocasionalmente, a sua ascensão meteórica o faz parar e pensar.

"Sim, acontece com frequência", refere. "As pessoas dizem-me frequentemente que é algo de histórico ter somado todos estes títulos tão cedo na carreira e, quando o afirmo, penso que de facto não há muitos jogadores que alcançaram tudo isto tão rapidamente."

A rapidez com que o seleccionador espanhol, Vicente del Bosque, percebeu que Busquets estava já suficientemente maduro para ser chamado à selecção, após apenas uma temporada na equipa principal do Barça, foi extraordinária. Porém, adeptos e imprensa levaram mais algum tempo a perceber o que os especialistas compreenderam de imediato. E Busquets entende porquê.

"Se se quer jogar um futebol mais vistoso, que dá mais nas vistas, então a minha posição no terreno não é a ideal", realça. "A nível táctico, o médio-defensivo num sistema de 4-3-3 é, talvez, a posição mais exigente de todas. Sou um jogador de equipa, que necessita de trabalhar bastante e de se sacrificar a si mesmo para o sucesso do grupo."

Rodeado por artistas como Andrés Iniesta, Xavi Hernández ou Lionel Messi, o seu brilho não é tão fácil de notar. Mas cada um desses jogadores reconhece a importância de Busquets. "Sei que as pessoas costumavam olhar para o Sergio e pensar, 'aquele não é um jogador com o estilo do Barça', mas estavam enganadas", referiu Xavi ao jornal El País. "Ele tem tudo isso e muito mais. É o primeiro a procurar jogar sempre ao primeiro toque, actua sempre de cabeça levantada e toma constantemente as melhores opções."

Resumindo, o que Busquets oferece ao Barcelona e a Guardiola é consistência, possibilitando que a equipa actue com a mesma segurança tanto frente a Getafe CF ou Levante UD como diante das melhores equipas da Europa – encarando todas elas como mais um adversário a ser ultrapassado com trabalho e talento. Ainda assim, está longe de ser imune à adrenalina, orgulho e vontade que os jogos da UEFA Champions League despertam, como foi visível no triunfo por 5-1 sobre o FC Shakhtar Donetsk, que deixou o Barça perto do possível confronto com o rival espanhol Real Madrid CF nas meias-finais da prova.

"É a Champions League aquilo que, verdadeiramente, mais entusiasma os adeptos do Barcelona", reconhece Busquets. "Entramos no autocarro rumo ao estádio e vemos todas as pessoas nas ruas a torcerem por nós. É nas noites de Champions League que os adeptos se fazem ouvir mais do que nunca, até ficarem roucos, e nós percebemos isso. E tal confere, para mim, um enorme significado à Champions League."

Esta entrevista faz parte da mais recente edição da revista Champions. Subscreva-a aqui.