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Piqué sente-se bem em casa

Numa entrevista concedida à revista Champions, o defesa catalão Gerard Piqué compara a vida de jogador no Barcelona e no Manchester United, e elogia Josep Guardiola por ter "arriscado muito" ao apostar nele.

Gerard Piqué escuta o treinador do Barcelona, Josep Guardiola
Gerard Piqué escuta o treinador do Barcelona, Josep Guardiola ©Getty Images

Gerard Piqué concedeu uma entrevista exclusiva a Guillem Balague na última edição da revista Champions, a publicação oficial da UEFA Champions League. Neste extracto, o defesa explicou as diferenças entre jogar no FC Barcelona e no seu antigo clube, o Manchester United FC.

Embora seja difícil de acreditar, há jogadores que não gostam de futebol. Mas Gerard Piqué está no extremo oposto, pois come, dorme e respira futebol. O pai jogou na terceira divisão, e o seu avô, apesar de se chamar Bernabéu, pertenceu à direcção do Barcelona.

Com apenas 23 anos, Piqué pode ser considerado uma espécie de talismã, pois já conta com oito troféus no currículo: a Premier League e a UEFA Champions League, conquistadas ao serviço do Manchester United, e os seis títulos que venceu pelo Barcelona na época passada. Apesar de todo este sucesso, o defesa mantém um saudável medo da derrota.

"Temos de ter confiança para jogar futebol, mas o medo da derrota é fundamental, e nunca devemos perder o nervosismo de entrar em campo. Mas, no interior, temos de nos sentir vencedores".

Piqué tem um aspecto de vencedor: alto, confortável com a bola e um brincalhão no balneário. O defesa deixou o Barcelona em 2004, com apenas 17 anos, e regressou quatro anos mais tarde, "mais maduro", segundo a sua mãe, e com a "constituição física de um armário", segundo as palavras de Pep Guardiola.

O jovem catalão está de novo em casa e acredita que a ligação ao clube é fundamental para o sucesso. "Compreendo que um jogador vindo de outro sítio jogue pelo seu prestígio individual e para conquistar troféus e, ao fazer isso, está a ajudar a equipa. Mas posso garantir que eu nunca conseguiria ter um sentimento por envergar a camisola do Manchester United semelhante ao de um jogador vindo da formação do clube".

"Os jogadores do Barcelona sabem qual a importância deste emblema. Não são precisas muitas lições. O Thierry Henry sentiu isso mal chegou ao Barça".

Piqué aponta as diferenças nos balneários que conheceu na sua carreira. "Apesar de sermos muito unidos no Barça, há grupos diferentes. Existem os catalães, que são os capitães, os jogadores formados na academia e que têm o clube no sangue".

"Mas há outros jogadores, como o Henry e o Eric Abidal, que contribuem com a sua grande experiência. Guardiola dá as ordens, ainda que discretamente. Ainda sou jovem, com muito a aprender, mas aprecio o facto de ser escutado e respeitado quando dou a minha opinião".

"Em Manchester, havia uma maior hierarquia. Os jogadores mais velhos eram muito respeitados, e todos sabiam que atletas como Gary Neville, Ryan Giggs e Paul Scholes mandavam no balneário".

O estilo da liderança de Guardiola leva a que Piqué encare o treinador quase como um irmão mais velho: "Guardiola conquistou-me com a sua franqueza. Os novos jogadores chegam à equipa e ele quer que eles entendam a lógica que preside àquilo que ele lhes pede. Ele é o treinador ideal, pois não olha para a idade os jogadores".

"Ele dá oportunidade aos jogadores quando considera que eles estão preparados. Arriscou muito comigo, pois não é fácil apostar num jovem defesa-central, uma posição de grande responsabilidade na equipa do Barça".

Essa responsabilidade é assumida graças à combinação da técnica refinada, proveniente da academia do Barça, com a maturidade física adquirida em Manchester. "Aprendi como defender sem bola no Manchester United. Despertei para as dificuldades na primeira vez que fui batido numa jogada aérea por um matulão".

"Percebi que não basta ser grande, temos de aprender a usar o corpo. No Barcelona e na selecção de Espanha tento iniciar as jogadas, escolher a melhor linha de passe para um colega, fazer uma tabela e sair a jogar desde a defesa".

Piqué reconhece que jogar no estrangeiro contribuiu para o seu desenvolvimento, mas admite que nem sempre foi tão fácil ou emocionante como poderá parecer. "Passei muito tempo em casa. Senti saudades da minha família. Gastei tudo o que ganhava em antenas parabólicas, mas roubavam-nas todas as semanas. Só à quarta vez é que a polícia descobriu que elas eram roubadas pelas pessoas que as tinham vindo instalar".

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