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Receita para o sucesso

As emoções vão estar à flor da pele quando José Mourinho regressar a Stamford Bridge, na próxima terça-feira, mas está confiante que a sua equipa do Inter possui "mentalidade vencedora".

Receita para o sucesso
Receita para o sucesso ©UEFA.com

José Mourinho vai ser o centro das atenções quando o FC Internazionale Milano visitar o Chelsea FC, seu antigo clube, na segunda mão dos oitavos-de-final da UEFA Champions League. Ainda assim, o treinador espera que os seus jogadores lhe roubem as luzes da ribalta, tentando fazer valer a vantagem de 2-1 alcançada em casa e apurando-se para os quartos-de-final pela primeira vez em quatro anos.

"O bom no meio disto tudo é que não tenho de andar muito", disse ao UEFA.com, aguardando com enorme expectativa o encontro de dia 16 de Março. "Do balneário até ao banco de suplentes distam cinco metros – não tenho que atravessar o estádio inteiro, não tenho que sentir as emoções e reacções do público. Vou limitar-me a sentar no banco e desempenhar o meu papel".

"Os jogadores actuam no relvado, eu fora dele", continuou. "Eles são muito mais importantes do que eu, porque os jogos vencem-se no relvado, não no banco de suplentes. Vou estar concentrado na minha actual equipa. É isso que um profissional faz. Mas não escondo que o Chelsea representa uma parte muito importante da minha vida".

Ainda assim, Mourinho pode estar confiante em obter um bom resultado em Londres. Como técnico do Chelsea, somou 66 jogos do campeonato em Stamford Bridge sem perder, a caminho da conquista de dois títulos consecutivos da Premier League. Também ganhou o "scudetto" no seu primeiro ano em Milão, na época passada, apesar de os "nerazzurri" terem ficado aquém das expectativas na UEFA Champions League – sendo eliminados pelo Manchester United FC nesta fase da competição. Mourinho, campeão europeu ao serviço do FC Porto, em 2004, acredita que o Inter está agora em melhor posição para seguir em frente porque, "ano após ano, a tendência é para melhorar".

"Se o trabalho do treinador é bom e o clube o apoia, como é este o caso, muda-se sempre para melhor", explicou o técnico de 47 anos. "Contratámos alguns jogadores, o tipo de futebolistas que não tínhamos na época passada – um médio tipicamente criativo, como o Wesley Snijder. E temos mais opções no ataque, com [Diego] Milito, [Samuel] Eto'o e [Goran] Pandev.

"Perdemos Zlatan Ibrahimović, o que é uma pena, mas com estes três jogadores temos mais soluções. Para além disso, o Lúcio também é um tipo de defesa-central que não havia no plantel a época passada – alto e forte no jogo aéreo. Penso que estamos mais adaptados ao tipo de exigências do futebol moderno".

Lucio foi irrepreensível na vitória por 2-1 sobre o Chelsea, no dia 24 de Fevereiro, vigiando de perto Didier Drogba, enquanto Sneijder, contratação de última hora este Verão, vindo do Real Madrid CF, também deu nas vistas. "Ele é produto da formação do Ajax e, normalmente, os jogadores do Ajax – com o tipo de treino que recebem desde tenra idade – são tecnicamente evoluídos", disse Mourinho.

"Jogam igualmente bem com o pé esquerdo e o direito e a forma como pensam e lêem o jogo é muito inteligente. É a consequência do trabalho nos escalões jovens dessa bela cultura futebolística que é o Ajax. Aqui, no Inter, existe uma estrutura que pode fornecer ao Sneijder a liberdade que jogadores como ele precisam. Às vezes penso que ele é um avançado, porque tem muita liberdade para jogar. Aqui encontrou o ambiente ideal para expressar todo o seu potencial".

As melhorias do Inter não se devem apenas à política de recrutamento. Segundo Mourinho, os jogadores também são mentalmente muito fortes. O triunfo no derby frente ao AC Milan, em Janeiro, é disso um exemplo – alcançado apesar de ter terminado a partida reduzido a nove jogadores. A vitória por 4-3 sobre o AC Siena foi outro feito assinalável, fruto de um golo em tempo de compensação de Walter Samuel, um defesa-central que actuou como ponta-de-lança nos derradeiros minutos. Mesmo o empate a zero com a UC Sampdoria, no dia 20 de Fevereiro, quando o Inter jogou mais de uma hora com menos um jogador, demonstrou uma capacidade fora do comum para reagir perante as adversidades.

"O desafio com o Siena é um bom exemplo do que é esta equipa", disse Mourinho. "Estávamos a perder e empatámos a três golos aos 91 minutos. Numa equipa normal, com jogadores e um treinador normais, teriam pensado: 'Bem, chegámos ao empate, resgatámos um ponto e não perdemos'. Mas eu gritei aos jogadores: 'Faltam três minutos, mais três minutos'. Podíamos ganhar ou perder. Ganhámos".

"E o Samuel perguntou-me: 'Recuo no terreno?', ao que eu respondi: 'Não, não recues. Fica lá na frente mais três minutos, para ver o que acontece'. Foi a minha decisão, mas um treinador só pode ser arrogante, só pode ter uma mentalidade ganhadora, se souber que a resposta dos seus jogadores é boa". No entanto, o português reconhece que nem mesmo uma mentalidade vencedora garante o sucesso na UEFA Champions League.

"Basicamente, tudo se resume a detalhes: sorte ou não no sorteio, se a bola que bate no poste entra ou não, o jogador que é suspenso e não pode alinhar num jogo decisivo, o 'timing' das lesões, que podem privar uma equipa de dois ou três jogadores fundamentais, um erro de arbitragem a favor ou contra. Como é óbvio, apenas uma equipa muito boa pode conquistar a Champions League, mas posso enumerar sete, oito, nove equipas que podem fazer isso. É muito difícil prever o vencedor".