A queda dos clubes espanhóis

Por Andy Hall

Quando se realizar o sorteio para os quartos-de-final da UEFA Champions League, na próxima sexta-feira, não haverá qualquer equipa espanhola envolvida, o que acontece pela primeira vez na história da competição, desde que adoptou o nome actual, a partir de 1992/93.

Questões levantadas
Os jogos da segunda mão dos oitavos-de-final, realizados na passada semana, ditaram o afastamento do FC Barcelona e do Real Madrid CF, que desperdiçaram as vantagens alcançadas na primeira mão. Com o Valencia CF e o RC Deportivo La Coruña eliminados logo na fase de grupos, muitas questões se têm colocado em torno desta hecatombe.

Mudanças
Antes dos jogos da segunda mão, existia um consenso generalizado em Espanha que apontava para a passagem das duas equipas espanholas à eliminatória seguinte. Porém, ambas foram afastadas e agora fala-se, sim, em grandes mudanças a ser operadas antes do início da temporada de 2005/06.

Golo decisivo
Com uma vantagem de 2-1 alcançada no encontro da primeira mão, no Camp Nou, o Barça sentiu a ausência do lesionado Rafael Márquez e permitiu que o Chelsea FC marcasse três tentos de rajada. O extraordinário segundo golo de Ronaldinho serviu de pouco consolo perante o 4-2 final verificado em Stamford Bridge. "Conhecíamos os perigos das 'bolas paradas' do Chelsea", adiantou o treinador Frank Rijkaard, ao referir-se ao golo de cabeça apontado por John Terry aos 76 minutos, após canto apontado por Damien Duff. "O golo de Terry foi o golpe decisivo e não soubemos como responder".

Motivação e experiência
Todavia, com o Barcelona na 'pole position' para conquistar a Liga espanhola desta temporada, nem tudo está perdido. Os seus mais jovens jogadores entrarão na competição da próxima época certamente com mais experiência e mais determinados a ultrapassar os oitavos-de-final e chegar longe na Liga dos Campeões.

Real em crise
Por seu turno, o Real Madrid poderá não ter tanta sorte. A onze pontos de distância do Barça, até mesmo o segundo lugar na Liga parece estar em perigo perante a grande quebra de forma da equipa, após um período brilhante logo após a chegada de Vanderlei Luxemburgo.

Declínio acentuado
A derrota por 2-0, no prolongamento, frente à Juventus FC despoletou a fúria, com a manchete de um dos jornais de Espanha a dizer simplesmente 'Vergonhoso'. Muitos defendem que os problemas que têm afectado o Real Madrid esta época têm raízes mais profundas. Alguns afirmam que o conjunto nunca recuperou da derrota às mãos do Real Zaragoza, na final da Taça do Rei da temporada transacta. Outros adiantam que o declínio teve início há mais tempo ainda.

Sem mudanças
O treinador do Liverpool FC, Rafael Benítez, disse uma vez: "Praticamente todos os clubes necessitam de reforços quando entram na Liga dos Campeões". Para muitos, o Real Madrid não contratou os suficientes. Nove dos jogadores que conquistaram a Liga dos Campeões de 2001/02 estão ainda no Santiago Bernabéu.

Adeptos enfurecidos
Alguns sectores do público elegeram como alvo algumas estrelas 'galácticas', enquanto outros sublinham que os reservistas do clube não estão à altura das exigências - algo bastante injusto, tendo em conta que a equipa B do Real Madrid está perto de conseguir a promoção à Segunda División pela primeira vez na história.

Del Bosque pragmático
Luxemburgo, o quarto treinador do clube em 12 meses, tem sido criticado pelas suas decisões de ordem táctica, enquanto um dos seus antecessores, Vicente Del Bosque, defendeu que não é nenhuma vergonha o Real Madrid ter sido derrotado. "O Arsenal [FC], de Arsène Wenger, foi eliminado, tal como o Manchester United [FC], de Alex Ferguson", explicou.

Surpresas
Obviamente que perder contra formações da dimensão da Juventus e do Chelsea não é nenhum desastre para o Real Madrid e para o Barça, mas muitos vêem essas derrotas como um ponto de viragem. Com a mais que provável revolução no Real Madrid durante o Verão, e tanto o Valência quanto o Deportivo aparentemente inactivos, a próxima temporada poderá causar surpresa, com novos clubes espanhóis com a ambição de chegar aos grandes palcos do futebol europeu.