Quem pára este Milão?
quinta-feira, 25 de março de 2004
Sumário do artigo
Paul Simpson analisa a prestação das equipas após os jogos da Liga dos Campeões desta semana.
Corpo do artigo
Por Paul Simpson
Desde 1980 que apenas uma equipa se pode gabar de ter conquistado o mais prestigiado troféu europeu a nível de clubes por duas vezes consecutivas. Essa equipa dá pelo nome de AC Milan. A formação de Arrigo Sacchi, liderada pelos holandeses Ruud Gullit, Marco van Basten e Frank Rijkaard, foi, sem sombra de dúvida, a melhor equipa europeia, depois da inesquecível campanha do Real Madrid durante os anos 50. Contudo, a equipa de Carlo Ancelotti começa a mostrar que, com alguma sorte e engenho, poderá fazer ainda melhor.
Estereótipo italiano
O futebol italiano é habitualmente rotulado como sendo duro e defensivo, um estereótipo reforçado após a final da UEFA Champions League da época passada. Mas se é verdade que Milan seguiu em frente para além da fase de grupos, mercê de pragmatismo e em detrimento do espectáculo, é também um facto digno de realce que nos últimos cinco jogos disputados, os milaneses apontaram pelo menos três golos em cada um - mesmo frente a adversários da qualidade do RC Deportivo La Coruña, Juventus (em Turim) e Parma AC.
O talento de Kaká
O talismã do Milan, Paolo Maldini, defende que o génio imprevisível de Kaká tem feito a diferença. O futebolista de 21 anos é um extraordinário talento que consegue combinar o virtuosismo brasileiro com uma mentalidade de trabalho, um misto capaz de convencer até o exigente Marcello Lippi. A qualidade da sua exibição frente ao Depor não foi surpresa para quem o viu actuar no jogo com o Parma, durante o fim-de-semana, no qual construiu um golo com uma arrancada sobre a defesa que fez lembrar aquelas que celebrizaram o seu compatriota, Romário.
Força ofensiva
Todavia, o Milan não é uma equipa com uma só estrela. Andriy Shevchenko e Jon Dahl Tomasson formam uma dupla tão eficaz que muitas vezes se questiona a razão da insistência de Ancelotti em utilizar Filippo Inzaghi. Dois outros brasileiros, Cafu e Dida, estão a exibir-se a grande nível. Já para não falar da dupla de defesas centrais, constituída por Alessandro Nesta e Maldini.
Fragilidade defensiva
Contudo, o Milan não é uma equipa perfeita - mesmo com tanta classe, a defesa pode ser ultrapassada se encontrar pela frente adversários velozes, em especial se Nesta estiver indisponível, como se ficou provado frente ao Deportivo da Corunha. Seja como for, o Milan ganhou quando foi preciso e nenhum dos adversários se mostrou tão eficaz. O Arsenal tem brilhado - embora não o tenha feito frente ao Chelsea - , o FC Porto tem impressionado tudo e todos e depois... há o Real Madrid.
O poder dos madrilenos
O que se pode dizer mais sobre o Real Madrid que ainda não tenha sido dito? Se os jogos de futebol tivessem apenas segundas partes, a equipa de Carlos Queiroz conquistaria todos os troféus possíveis. Mas a verdade é que nem todas os seus adversários serão tão permissivos quanto o AS Monaco FC.
A contribuição de Beckham
Ao analisar este jogo, é difícil ignorar o papel desempenhado por David Beckham. A sua exibição frente ao Mónaco poderá não ter sido de encher o olho, apesar do cartão que viu no final do encontro, no entanto, trabalhou muito, foi inteligente, eficiente e mostrou toda a sua gama de passes que tanta falta fizeram ao Manchester United esta temporada.
Vantagem para o Arsenal
Para muitos, a perspectiva de um eventual confronto entre Real Madrid e Arsenal nas meias-finais da Liga dos Campeões é a mais aliciante. E depois dos resultados desta semana, esse parece ser o cenário mais provável. O golo dos "gunners" no terreno do Chelsea significa que a equipa de Claudio Ranieri não pode abordar o jogo da segunda mão defensivamente. E a verdade é que a última vitória do Chelsea sobre o Arsenal aconteceu há 17 jogos, mais propriamente em Highburry, por 5-0, em Novembro de 1998, num encontro da Taça da Liga Inglesa. A história e o golo de Robert Pires jogam contra o Chelsea. Mas estar em desvantagem não significa que a eliminação seja já uma certeza.
Paul Simpson é editor da "Champions", a revista oficial da Liga dos Campeões da UEFA. Clique aquipara a subscrever.
Os pontos de vista expressos neste artigo são da inteira responsabilidade de quem os escreveu e não reflectem, necessariamente, a opinião da UEFA.