O UEFA.com funciona melhor noutros browsers
Para a melhor experiência possível recomendamos a utilização do Chrome, Firefox ou Microsoft Edge.

Relatório técnico do EURO 2016, parte 3: Cruzamentos

Neste terceiro excerto do relatório técnico do UEFA EURO 2016, o painel de especialistas mostra como o número de cruzamentos cresceu e se tornaram numa fonte ainda mais importante de golos.

Gerard Piqué marca de cabeça após cruzamento de Andrés Iniesta frente à República Checa
Gerard Piqué marca de cabeça após cruzamento de Andrés Iniesta frente à República Checa ©Getty Images

A diversidade das formações tácticas apresentadas pelas várias selecções no UEFA EURO 2016 não disfarçou um denominador comum.

No meio-campo, Sergio Busquets (Espanha), Eric Dier (Inglaterra), Milan Škriniar (Elováquia), William Carvalho (Portugal) e, muitas vezes, Oliver Norwood (Irlanda do Norte) foram exemplos comparativamente raros de médios-defensivos como único pivô do meio-campo recuado.

As restantes selecções preferiram dois médios-defensivos com a dupla função de proteger a defesa e iniciar ataques, travando as ofensivas adversárias e lançando as da sua equipa. Os médios-defensivos mostraram-se sempre prontos a fazer valer a sua presença na defesa que, assim, muitas vezes passava a ser composta por seis homens.

Resumo: Itália-Irlanda

"A preferência por um bloco tão profundo e compacto, aliada a transições extremamente rápidas, fez com que fosse mais complicado encontrar espaços para jogar nas costas das defesas," destacou o seleccionador de Inglaterra de Sub-21 e observador técnico da UEFA, Gareth Southgate. "Assim, a escolha dos jogadores de ataque e dos métodos ofensivos tornou-se numa das decisões mais importantes que os vários seleccionadores tiveram de tomar."

Thomas Schaaf pointed out: sublinhou: "Os defesas-centrais concentraram-se claramente em tapar os caminhos pelos meios e os adversários, mesmo quando colocavam muitos homens na frente, mostravam-se mesmo relutantes em tentar furar pelo centro, uma vez que isso implicava um maior risco de perder a bola nessa zona."

Mixu Paatelainen acrescentou: "Vimos muitas selecções a actuarem com uma defesa apertada e bem organizada, o que reforçou a necessidade de encontrar uma forma de ultrapassar esse sistema. Penso que foi por isso que assistimos a um maior número de cruzamentos."

A sua análise é comprovada pelas estatísticas. Com 24 selecções finalistas, haveria sempre, naturalmente, mais cruzamentos em França do que os registados na fase final de 2012, com apenas 16 selecções presentes. A média de cruzamentos por jogo, porém, permite-nos fazer comparações mais fiéis.

Portugal-Islândia

Os 811 cruzamentos efectuados ao longo de todo o UEFA EURO 2012 resultaram numa média de 26,16 por jogo, contra os 2079 cruzamentos do UEFA EURO 2016, que significam uma média de 40,76 por jogo. Não há dúvidas, perante este aumento de 56 por cento, que tal representa uma significativa tendência em termos da preferência demonstrada pelas equipas para canalizarem os seus ataques pelos flancos.

Trata-se de algo também verificado na UEFA Champions League, onde na temporada de 2015/16 foi registado um aumento de 24 por cento no número de golos obtidos a partir de cruzamentos, incluindo centros recuados; tendo 35 por cento dos golos de bola corrida nascido de assistências vindas dos dois flancos. Em França, uma percentagem considerável das ocasiões de golo nasceu de cruzamentos.

Embora para os totais de Croácia, Alemanha, Itália, Polónia, Suíça e, acima de tudo, Portugal tenham contribuído os vários prolongamentos disputados para essas selecções, os dados oferecem uma indicação do número médio de cruzamentos por jogo e da percentagem de cruzamentos bem-sucedidos, que encontraram como destino um colega de equipa.

Os cruzamentos efectuados com o "pé contrário" revelaram-se uma arma valiosa no que diz respeito ao envio da bola para a grande área, fazendo-a cair entre o guarda-redes e os defesas. O valor deste gesto técnico ficou bem patente no cruzamento de Wes Hoolahan na direita que permitiu a Robbie Brady marcar de cabeça o vital golo da vitória da Irlanda frente à Itália, o qual ditou uma das surpresas do torneio, ao selar o apuramento da sua selecção para a fase a eliminar.

Um cruzamento semelhante, também de pé esquerdo no flanco direito, permitiu a Birkir Bjarnason, ao segundo poste, garantir à Islândia um precioso empate contra Portugal. Já um cruzamento de pé direito no flanco direito desferido por Andrés Iniesta encontrou a cabeça de Gerard Piqué e foi decisivo para dar à Espanha, então campeã em título, uma entrada em prova vitoriosa frente à República Checa.

Espanha-República Checa

"O que mudou em relação ao passado," diz Southgate, "foram as zonas de onde os cruzamentos foram efectuados e o tipo de cruzamentos. Houve inúmeros cruzamentos com efeito contrário, o que vai de encontro à cada vez mais frequente opção das equipas em jogarem com extremos que joguem com o pé contrário, com os centros recuados a fazerem também cada vez mais parte do jogo, pois já não se vê tantos extremos a irem até à linha de fundo e efectuarem daí um cruzamento para zonas mais distantes."

Em termos individuais, o extremo-interior italiano Antonio Candreva deu o mote, com 22 cruzamentos feitos do flanco direito antes de uma lesão o afastar do resto do torneio. Kevin De Bruyne efectuou cerca de dez cruzamentos por jogo, com uma das melhores percentagens de sucesso do torneio: 37 por cento dos seus cruzamentos chegaram a um colega.

Números semelhantes foram registados pelo lateral-direito da Croácia, Darijo Srna, que totalizou 43 cruzamentos em quatro jogos, com uma taxa de êxito de 35 por cento – bem à frente dos laterais-direitos de Inglaterra e Espanha, por exemplo. (Kyle Walker e Juanfran registaram 14 por cento e 12,5 por cento de sucesso nos seus cruzamentos, respectivamente).

Uma baixa percentagem de sucesso nos cruzamentos foi evidente no jogo pelas alas da Alemanha. Toni Kroos revelou-se o mais activo, com 42 cruzamentos e uma taxa de êxito de 21 por cento, enquanto Thomas Müller (12,5 por cento) ficou entre os dois laterais, Joshua Kimmich (23 por cento) e Jonas Hector (seis por cento).

"Os laterais e os extremos foram, naturalmente, os responsáveis pelo maior número dos cruzamentos," notou Peter Rudbak, "tendo os jogadores mais abertos no flanco procurado frequentemente abrir espaços para a entrada dos laterais. Mas quantidade de cruzamentos é uma coisa e qualidade é outra.

"Assim, enquanto treinadores precisamos de dar atenção ao desenvolvimento da capacidade técnica dos jogadores de forma a que estes efectuem bons cruzamentos no final das suas arrancadas, visto se esse, hoje, um aspecto fundamental do jogo ofensivo das equipas."

O artigo acima consta do relatório técnico oficial do UEFA EURO 2016: FAÇA O DOWNLOAD AGORA

Seleccionados para si