O UEFA.com funciona melhor noutros browsers
Para a melhor experiência possível recomendamos a utilização do Chrome, Firefox ou Microsoft Edge.

Xavi desvenda sucesso do Barcelona

O médio criativo Xavi Hernández, do Barcelona, conta à revista Champions como a academia do clube, La Masia, fez dele o jogador que é hoje e fala da influência de Josep Guardiola.

Xavi festeja outro triunfo pelo Barcelona
Xavi festeja outro triunfo pelo Barcelona ©Getty Images

Para além da reputação de criar e lançar para o estrelato sucessivas gerações recheadas de talento, a pedra basilar na sombra do Camp Nou também é responsável por ensinar a uma parte significativa do Mundo as suas primeiras palavras em catalão: la Masia. No entanto, a palavra que o Barcelona utiliza para designar "quinta" tornou-se sinónimo para uma educação futebolística sem precedentes no futebol moderno.

É uma educação que começa em tenra idade, com o enfoque em formar pessoas dentro e fora do relvado. No que toca a praticar futebol, a escola do Barcelona continua a sua cultura de educação, ensinando os alunos a utilizar a inteligência antes do físico. "Tinha 11 anos quando aqui cheguei, e a filosofia futebolística deste clube foi incutida em mim desde o início", diz Xavi Hernández, um dos alunos mais bem-sucedidos de la Masia. "O mais importante nesta fase é a vontade de aprender. A filosofia é a de que o resultado é o que menos interessa."

Xavi chegou a pensar que era avançado, mas rapidamente percebeu que era "mais lento que os outros miúdos". Recebeu a alcunha de "La Máquina" ("A Máquina") por causa do seu movimento perpétuo e precisão de passe. Então como é que os treinadores o converteram num médio-centro que dita o ritmo do jogo? "Fomos ensinados a jogar em triângulos, e a ter a bola sempre em movimento. Criam-se bons hábitos, como aprender os pontos fortes dos nossos companheiros e jogar sempre de cabeça levantada."

"Jogar de forma inteligente, passar para o pé direito de um jogador destro, ou para o esquerdo de um esquerdino. Antes de receber a bola, já saber o que fazer com ela". Os benefícios de incutir tais princípios nos jovens nunca foram tão produtivos como agora, acrescenta Xavi. "Podem ver o resultado desse desenvolvimento, com oito ou nove jogadores-chave da equipa principal do Barcelona oriundos dos escalões jovens. Formam a base sob a qual a equipa é construída."

Para a filosofia se transformar em realidade – a equipa principal reflecte a academia, ao mesmo tempo que lhe serve de inspiração – requer um treinador educado nesses princípios, alguém como Pep Guardiola. Xavi concorda: "Guardiola é um produto de la Masia, por isso sabe que os jogadores que escolhe nos escalões jovens vão servir os seus propósitos."

Ao ouvir atletas como Xavi, pode-se pensar que esta comunhão entre treinador, jogadores e academia é um plano a longo-prazo que demora anos a desenvolver. De facto, muito do actual cenário deve o seu sucesso à sorte e capacidade de avaliação. A nomeação arrojada de Guardiola como treinador deveu-se a uma aposta audaciosa da parte do presidente da altura, Joan Laporta, que encontrou resistência em grande parte da Direcção, com alguns dos seus conselheiros mais próximos a preferirem José Mourinho.

Por isso Guardiola ficou surpreso quando foi abordado por Laporta, respondendo que não se imaginava a treinar um dos maiores clubes mundiais dada a sua pouca experiência como treinador. Ainda assim, Xavi nunca teve dúvidas sobre as capacidades do homem que em tempos desejou imitar e ao lado o qual chegou a jogar. "Eu acreditei em Pep. Ele é empenhado, meticuloso, uma pessoa entusiástica. Tem uma convicção enorme nas suas crenças e a habilidade de transmitir toda a sua energia a quem o rodeia."

"Sei que existiram algumas dúvidas devido à sua pouca experiência, mas quando alguém externo ao Barcelona chega ao clube, tem de se lhe mostrar como as coisas funcionam. O Pep sabe o que tem de fazer, como os jogadores se sentem e a pressão a que estão submetidos. É o homem certo para o cargo, mas até mesmo a pessoa mais optimista não poderia imaginar que as coisas iriam correr tão bem."

Converter a filosofia da academia em futebol vencedor nunca foi algo tão bem-sucedido. Qual é o segredo de Guardiola? "É muito calmo, não deposita muitas responsabilidades nos ombros dos jogadores", diz Xavi. "Encoraja-os a divertirem-se em campo e aproveita ao máximo a vida privilegiada que temos. Pep destaca a manutenção da posse da bola e a sua circulação rápida. Dá três ou quatro ideias-chave sobre o adversário, como vai jogar e como temos que reagir. A conversa não dura mais que dez minutos. Acima de tudo, foca-se nos conceitos."

O sucesso desses conceitos fez deste tipo de futebol uma tendência. Os puristas aplaudem uma marca distintiva de futebol, preferindo-a em detrimento de uma vertente mais física e pragmática que outros treinadores costumam impor. "Não creio que o nosso estilo de jogo tenha passado de moda", diz Xavi. "O talento é o aspecto-chave no futebol moderno. A habilidade natural e o talento são mais valiosos que a força física. Podem colocar em campo 11 jogadores fortes fisicamente, mas isso não será suficiente para vencer. Tem sido sempre assim ao longo dos anos." Poucos jogadores provaram esse ponto de vista com a mesma consistência emocionante que o discreto número seis do Barcelona.

Este artigo faz parte da Champions, revista oficial da UEFA Champions League. Subscrever

Seleccionados para si