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A opinião dos observadores técnicos

Golos mesmo no fim dos jogos, uma baixa taxa de concretização e muitos cruzamentos - David Moyes e Thomas Schaaf, observadores técnicos da UEFA, partilham a sua análise da fase de grupos.

'Algums equipas jogam de forma mais rápida, mas para isso dependem sempre de jogadores rápidos como Raheem Sterling ou Gareth Bale'
'Algums equipas jogam de forma mais rápida, mas para isso dependem sempre de jogadores rápidos como Raheem Sterling ou Gareth Bale' ©AFP/Getty Images

David Moyes, o ex-treinador do Everton, Manchester United e Real Sociedad, sentou-se com Thomas Schaaf, ex-treinador do Werder Bremen, Eintracht Frankfurt e Hannover, para discutirem as tendências e tácticas na fase de grupos da UEFA EURO 2016.

EURO2016.com: O rácio de golos por jogo é, até agora, de 1,92, o mais baixo desde 1980. Porquê?

David Moyes: Na minha opinião, as equipas actualmente estão muito mais organizadas e preparadas. Com as equipas extra que se qualificaram para este EURO, há uma espécie de divisão entre um lado onde estão algumas equipas de topo e um outro lado onde estão equipas mais “pequenas”. Estas últimas sentem que a melhor oportunidade de obter um bom resultado é através de uma boa defesa, permanecer com as linhas compactas e manterem uma atitude de contenção, praticamente, abdicam de atacar.

Alemanha e Polónia não sofreram qualquer golo na fase de grupos
Alemanha e Polónia não sofreram qualquer golo na fase de grupos©AFP/Getty Images

Thomas Schaaf: Na fase de grupos, as equipas começaram com uma atitude de “a segurança primeiro”. Uma prova é o número de golos que surgem na segunda parte, o dobro dos marcados na primeira. As chamadas de “pequenas equipas”, como a Islândia, são muito compactas na defesa e têm defendido muito bem.

EURO2016.com: Até agora, 19 dos 69 golos marcados, apareceram depois da marca dos 80 minutos (27,54 por cento do número total). Este é o resultado da qualidade extra que só surge após os jogadores da equipa adversária esgotarem as suas energias?

DM: É uma acumulação de vagas sucessivas de ataque, de terem de defender constantemente e de ter de manter os níveis de concentração bastante altos - há um cansaço físico mas também um mental. Isto demonstra que um jogo de futebol é para ser jogado 90 ou 95 minutos, e as equipas têm de estar em boas condições físicas para o fazer. Vimos demasiados golos na recta final do jogo, mas é um resultado da qualidade extra que surge nas melhores equipas quando conseguem esgotar os seus adversários no final.

TS: As grandes equipas têm mais experiência, elas sabem que tens 90 minutos e que podes marcar até ao último minuto. A qualidade individual é, talvez, mais relevante à medida que o jogo se aproxima do fim e é necessário algo mais “especial”, para se obter o resultado desejado.

Antoine Griezmann saltou do banco para marcar de cabeça, perto do fim, ante Albânia
Antoine Griezmann saltou do banco para marcar de cabeça, perto do fim, ante Albânia©Getty Images

DM: As grandes equipas têm uma maior qualidade no banco - França e Alemanha têm-no demonstrado, assim como a Inglaterra -, ao contrário das nações com maiores limitações, que colocam logo de início a sua melhor equipa.

TS: Muitos dos golos foram marcados por substitutos. Se tens uma equipa de qualidade e fazes uma alteração, podes arriscar mais no ataque. [Como treinador] podes trazer mais qualidade individual após analisares a tendência do jogo e ver como podes alterá-la.

EURO2016.com: O que vos chamou mais a atenção em relação à forma como as equipas atacam e tentam quebrar defesas bem organizadas?

TS : Algumas equipas têm uma forma mais paciente de construir o seu jogo, mas o problema surge quando chegam à grande área. Assistimos a vários jogos em que há muita posse de bola mas quando chegam às grandes áreas não conseguem concretizar. Com estas defesas mais compactas, é mais difícil de perfurar, logo há uma maior propensão para se explorar mais as alas e é por esse motivo que têm havido muitos cruzamentos.

Algumas equipas jogam rápido e apostam num risco maior - vi a Inglaterra e o País de Gales agirem assim, mas tudo depende do jogador e de jogadores rápidos como Raheem Sterling e Gareth Bale que atacam de forma mais directa. Equipas mais experientes como Espanha e a Alemanha, a realidade já é diferente.

DM: A posse de bola concentra-se no meio-campo. As melhores equipas, como a Alemanha e Espanha, conseguem levar essa posse de bola até ao último terço do campo. Estas equipas vão trocando a bola até encontrarem uma oportunidade de fazer um passe para golo. Mas como as defesas são mais compactas, vemos as equipas cruzarem mais para dentro da área .

Alguns dos cruzamentos têm sido fenomenais - os cruzamentos são algo que te fazem levantar da cadeira - e temos assistido a grandes golos de cabeça. A introdução nas equipas de médios-ala significa uma maior probabilidade de cruzamentos e não só da linha final - há uma variação com cruzamentos atrasados ou de longe. O croata Darijo Srna tem sido um bom exemplo.

Ivan Perisić joga mais por fora também, um pouco como um ala à antiga. Até às últimas noites temos visto menos golos de contra-ataque, porque as equipas quando perdem a bola, são mais rápidas a reorganizarem-se. País de Gales é uma equipa que o tem demonstrado na perfeição.

David Moyes e Thomas Schaaf fazem parte do grupo de observadores técnicos que acompanham todos os jogos do UEFA EURO 2016 para procederem à elaboração de um parecer técnico que estará disponível nas plataformas da UEFA, em Setembro.

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